Ana Luiza Almeida e Silva *
Após um seminário
sobre Direitos Econômicos e Sociais na LSE (London School of Economics), tomei
conhecimento de um manifesto desenvolvido por diversas faculdades de Economia
em diferentes países da Europa contra o caráter restritivo de suas grades
curriculares. O movimento, fortemente endossado pelas universidades britânicas,
é fortalecido por argumentos como: a superficialidade da abordagem disciplinar;
desvinculação a outras áreas do conhecimento e, principalmente, a ausência do
pensamento crítico nas salas de aula.
Esse movimento
constitui um feito das Ciências Econômicas, mas poderia facilmente ser aplicado
a outras disciplinas e ao conservadorismo que as rodeia. Na Inglaterra, noto no
âmbito acadêmico uma clara opção por um uma estrutura hierárquica e exclusiva
que, inevitavelmente, está relacionada a suas origens históricas.
A educação básica britânica passa por um amplo processo de privatização. Atualmente, 40% das escolas de educação básica, que antes eram completamente financiadas pelo governo, constituem Academies que, além de não estarem vinculadas as autoridades locais, podem exercer a atividade com escopo de lucro.
A previsão do
Sindicato dos Professores Britânico é de que ate 2015 todas as escolas de
educação básica terão esse status.
Em nível superior,
desde 2011, o ensino público e gratuito já não é uma realidade. O governo subsidia uma parte mínima das taxas
universitárias, podendo a anualidade de um curso de graduação custar até 9 mil
Libras a um estudante britânico ou originário de um dos países membros da União
Europeia.[1]
A um estudante
nacional de países não pertencentes à União Europeia, a anualidade custa uma
média de 12 mil Libras ao ano, ou, 30% a mais que aquela aplicada a um aluno europeu, podendo tal diferença chegar
a 50%.
Mas em um país em que
quatro instituições acadêmicas de Ensino Médio enviam mais estudantes a Oxford
e Cambridge do que outras 2000 por todo o Reino Unido, o
elemento econômico sobre diretrizes educacionais torna-se uma pauta urgente. Nesse sistema, as mais prestigiadas escolas do Reino
Unido ocupam aproximadamente 30% das vagas de Oxford – e 84 delas são privadas.[2]
O sistema de educação britânico não é para todos e não deixa nenhuma dúvida quanto a essa escolha.
O sistema de educação britânico não é para todos e não deixa nenhuma dúvida quanto a essa escolha.
Apesar de seguir uma tendência mundial de privatização da educação - a exemplo dos USA, onde a média anual de um curso de graduação é de 22 mil dólares ao ano[3], o que assusta no Reino Unido é uma aparente aceitação e institucionalização dos critérios discriminatórios no ambiente acadêmico. O excessivo apelo às distinções acadêmicas, as seleções de estudantes baseadas em suas instituições de origem e até mesmo a noção de “resposta perfeita”, não apenas acirram a competitividade entre alunos, como empobrecem o ambiente acadêmico.
Em um dos artigos que li, um professor de Oxford e ex-aluno da casa declarava sua frustração pela excelente experiência acadêmica e solitária em termos de interação social nos anos em que passou naquela universidade. E isso é evidente quando se observa as mais altas classes britânicas ao verem seu padrão social decrescer e seu estilo de vida ser alterado por conta de tais gastos (agora com educação) que os distinguem do resto da sociedade.
Portanto, a descrição feita por mim, há alguns meses, sobre o país em que “todos podem ser tudo”, constitui uma exclusividade da realidade Sueca e que, em termos acadêmicos, definitivamente não se aplica à Inglaterra
Em uma sociedade orgulhosa de suas origens
monárquicas e perpetuadora de uma profunda fratura social, essa parece apenas
ser mais uma estratégia para perpetuar a segregação, só que agora ela assume um
novo formato – relacionado a origens, etnias e gênero.
Para saber mais sobre o manifesto das faculdades de Economia:
http://www.theguardian.com/commentisfree/2014/may/09/university-economics-teaching-lobotomy-non-mainstream
Para entender melhor esse sistema:
Para entender melhor esse sistema:
http://www.theguardian.com/education/2014/feb/04/education-system-polarises-people-economic-inequality
http://www.theguardian.com/politics/2012/mar/28/education-system-privatised-2015-union
http://www.theguardian.com/politics/2012/mar/28/education-system-privatised-2015-union
[1] HSBC
Report on Annual cost of studying (2013)
[2] Sutton Report on Higher Education
Destinations for Individuals in England.
http://www.suttontrust.com/public/documents/sutton-trust-he-destination-report-final.pdf
[3] U.S. Department of Education, National Center
for Education Statistics (2014)
* Ana Luiza Almeida e Silva é aluna
do mestrado em Direito, Estado e Constituição da Universidade de Brasília e do
programa de mestrado Human Rights Policy and Practice, uma ação do consórcio
entre universidades na Suécia, Reino Unido, Noruega e Índia
** Confira , da autora, o texto “Conversações de Erasmus: 1ª Carta, de Gotemburgo”,
publicado neste Blog em 5 de março de 2014
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