sábado, 22 de abril de 2017

Otra sociología jurídica: aportes teóricos desde nuestra América

06 de abril del 2017

Freddy Ordóñez Gómez
Investigador Instituto Latinoamericano para una Sociedad y un Derecho Alternativos-ILSA
@Freddy_Ordonez


Comúnmente, se ha entendido a la sociología jurídica como una “ciencia auxiliar del Derecho”, que estudia las relaciones entre el Derecho y la sociedad, y a quien la practica o ejerce, como un observador acrítico y objetivo, en tanto se limita a describir “hechos” del Derecho. Frente a esta lectura se han levantado construcciones discursivas, así como reflexiones y análisis, que apuntan a la construcción de otra sociología jurídica.
Desde Latinoamérica, se han realizado elaboraciones teóricas sobre lo que debe ser la construcción de esa otra sociología jurídica que difiera de aquella que es promovida desde el discurso jurídico y sociológico convencional. Entre estas, se destacan las elaboraciones orientadas por la noción de alternatividad que en Brasil se construyeron en las décadas de 1980 y 1990 de la mano del Derecho Alternativo, de “O Direito Achado na Rua” y en diálogo -cuando no influenciadas- de la producción de Boaventura de Sousa Santos. Acá se destacan los trabajos de Roberto Lyra Filho, José Eduardo Faria, Celso Fernandes Campilongo, José Geraldo de Sousa Junior, Antonio Carlos Wolkmer y de Edmundo L. de Arruda Jr. Este último ubicó sus reflexiones en la periferia del capitalismo, planteando una sociología jurídica alternativa, que toma posición crítica a partir de la teoría del conflicto y con el marxismo como fuente de inspiración primaria.
Más recientemente, Antonio Carlos Wolkmer* ha indicado cómo la sociología jurídica de tenor crítico, descolonizadora y producida en el sur periférico debe cuestionar la sociedad y el lugar social que ocupa el Derecho, y considerarse como una estrategia contra hegemónica teórico-práctica que se contraponga a la circunstancialidad sociopolítica de dominación, exclusión, explotación e injusticia.  
Por su parte, el mexicano Jesús Antonio de la Torre Rangel destaca la existencia en nuestra América de una sociología jurídica militante, que se origina en la teoría que surge de la sistematización del uso alternativo del Derecho o en la elaboración de crítica jurídica latinoamericana. Para el jurista, se está ante un quehacer científico que no se oculta bajo una supuesta neutralidad o imparcialidad, puesto que la sociología jurídica que se elabora, es decir, “la teorización de las relaciones sociales y las conductas en relación con la normatividad jurídica, el análisis de la juridicidad social, se hace desde la perspectiva de un urgente cambio social y en la búsqueda de la mejor satisfacción de las necesidades humanas y de respeto a los derechos del hombre”.  
No podría dejar de mencionarse el invaluable aporte de Oscar Correas a estas construcciones y abordajes críticos de la sociología jurídica, ciencia de la que afirma “tiene como objeto las causas y efectos del derecho considerado como un “discurso”, entendiéndose por ello, ideología formalizada en un lenguaje que le permite a esta última aparecer y convertirse en sentido producido y recibido”. Al hablar de las causas y los efectos, Correas apunta a dos clases de preguntas: (i) ¿cómo se explica la existencia de normas que ordenan, permiten o prohíben tales conductas y no otras? y (ii) ¿son tales normas eficaces? Esto es: ¿producen los individuos las conductas que las normas ordena, permiten o prohíben? La sociología jurídica propuesta por este autor está inspirada en el pensamiento de Carlos Marx, es una sociología jurídica marxista, en tanto permite explicar, críticamente, un sistema jurídico nacional que se corresponde al modelo jurídico capitalista, reflejo este del modo de producción capitalista.
A los trabajos de los autores reseñados, se suman construcciones que hacen uso de la crítica jurídica marxista y del pensamiento crítico latinoamericano para concebir una sociología jurídica crítica. Así mismo, se deben reconocer los planteamientos del colombiano Rosembert Ariza, orientados a proponer una sociología impura del derecho y una sociología de las presencias jurídicas*.
Finalmente, se deben mencionar dos aspectos, en primer lugar, el papel que han jugado en la difusión de otra sociología jurídica las revistas Crítica Jurídica (fundada en 1983) y El Otro Derecho (surgida en 1988). A estas se suman hoy publicaciones como, InSURgência: revista de direitos e movimentos sociais y Direito e Práxis. En segundo lugar, la reflexión crítica sobre los estudios y la investigación sociojurídica, que no solamente se han orientado a describir la gran variedad de estos, sino también a teorizar sobre los mismos, reflexión que ha tenido un gran desarrollo en países como Argentina, Brasil, Chile, Colombia, Costa Rica, Ecuador, México y Perú.
Así, nuestra América contribuye significativamente a la construcción de una sociología jurídica alternativa al discurso dominante del Derecho, no contemplativa, es decir, militante, y crítica del sistema económico, su discurso legal y jurídico. Estos aportes además están situados en la realidad económica, social, política, histórica y jurídica del Sur global y su horizonte es profundamente emancipatorio.   

El Otro Derecho, 53 (2016-II), Sociología Jurídica Alternativa, Crítica y Militante.

segunda-feira, 17 de abril de 2017

20 anos da morte de Galdino Pataxó: símbolo para tempos de intolerância*

                                       José Geraldo de Sousa Junior
                                        Membro da Comissão Justiça e Paz de Brasília

                                        José Márcio de Moura Silva
                                        Presidente da Comissão Justiça e Paz de Brasília

Em 19 de abril deste ano, o calendário simbólico brasileiro registra 20 anos da morte de Galdino Jesus dos Santos, o Galdino Pataxó. Natural da Bahia (1952), ele foi assassinado em Brasília, em 20 de abril de 1997. Da etnia pataxó-hã-hã-hãe, estava em Brasília por ocasião das comemorações do Dia do Índio, em 1997, e, com outras sete lideranças indígenas, levava suas reivindicações acerca da recuperação da Terra Indígena Caramuru-Paraguaçu, em conflito fundiário com fazendeiros da região (sul da Bahia). Depois de ter participado de reuniões com o então presidente Fernando Henrique Cardoso e com outras autoridades, com representantes de movimentos sociais de luta pela terra, entre eles o MST, por ser já muito tarde, não pôde entrar na pensão onde estava hospedado e resolveu dormir num abrigo de ponto de ônibus na avenida W3, Quadra 704 Sul.


Na madrugada, cinco jovens brasilienses de classe media atearam fogo enquanto ele dormia. Galdino morreu horas depois em consequência das queimaduras. Em sua defesa, durante o julgamento, os acusados disseram que o objetivo era “dar um susto” em Galdino e fazer uma “brincadeira” para que ele se levantasse e corresse atrás deles. Um dos rapazes disse à imprensa que ele e seus amigos haviam achado que Galdino era um mendigo e que, por isso, haviam decidido “fazer a brincadeira”.



A população de todo o Brasil repudiou essa bárbara manifestação de intolerância, com atos públicos em Brasília, no local do crime, que foi ressignificado como Praça do Compromisso, localizada entre as quadras 703/704 da Asa Sul. Nela existem hoje duas esculturas que lembram o evento: uma delas retrata uma pessoa em chamas e a outra representa uma pomba, o símbolo da paz. As duas esculturas foram criadas por Siron Franco, cuja obra artística está definitivamente ligada à temática dos direitos humanos.



Tempos de intolerância, na política e nas relações sociais, subjugam a convivência a hierarquias e a exclusões que desumanizam. Aprofundam o fosso que torna irreconhecível, no outro, a sua dignidade e o direito de reconhecimento de suas aspirações de acesso aos bens vitais e ao exercício compartilhado da função política. São tempos dramáticos, de enormes sofrimentos, de retração de expectativas, de escassez de carisma para a busca de superação dessas condições. Poucos políticos, no Brasil e no mundo, têm reconhecimento para exercer esse papel.



O papa Francisco está entre esses poucos e tem oferecido indicações fortes para que deixemos “de lado o ressentimento, a raiva, a violência e a vingança” (Misericordiae Vultus, nº 9), e promovamos “a superação da justiça na linha da misericórdia” (MV, nº 21) e para que, arrostando medos, “continuemos a trabalhar para construir pontes entre os povos, pontes que nos permitam derrubar os muros da exclusão e da exploração” (Discurso aos participantes do III Encontro Mundial dos Movimentos Populares, Edições CNBB, Coleção Sendas, vol. 8, págs. 11-12). Essa mensagem é amorosa mas não conformista, ela é tolerante mas não condescendente.



Nos estudos de ciência política,  há o cuidado de firmar essas distinções. Giovanni Sartori, morto há dias, assinala que, se somos indiferentes, não há interesse pelo outro, quem tolera tem crenças que considera verdades (não se trata de relativismo), por isso, permite que outros cultivem suas próprias crenças, ainda que as considere infundadas. Trata-se, ele acentua, de seguir critérios de “razoabilidade (a tolerância pede que os limites se estabeleçam por meio de agentes), sendo, portanto, recíproca (não estamos compelidos a sofrer danos), na medida mesma do princípio de não fazer mal a outros”. Em suma, diz Sartori, a tolerância permite “viver juntos na diferença e com diferenças”.



Essa é base do axioma proposto por Boaventura de Sousa Santos: “Temos direito à igualdade, quando a diferença nos inferioriza, da mesma forma como temos direito à diferença, quando a igualdade nos descaracteriza”. Em sentido aplicado o que se tem em causa é evitar que a aspiração legítima à diferenciação leve à discriminação. Embora possa em tese trazer algum benefício a uma minoria, fere a garantia do direito à equiparação de condições e de oportunidades. Assim como toda homogeneização das pessoas que fira seus direitos fundamentais à diversidade acaba por descaracterizar o humano na sua individualidade.



Na passagem do século 20 para o século 21, ainda não há nitidez do humano no rosto de um mendigo, como no rosto de um indígena. Quinhentos anos depois da Bula do papa Paulo III (1537), reconhecendo que indígenas são “verdadeiros homens” e não “animais brutos sujeitos” ao poder daqueles que “por cupidez”, agem “a fim de oprimir” Galdinos, territórios indígenas, quilombolas, sem-terra continuarão vítimas da intolerância se, de outro modo, não nos mobilizarmos com misericórdia, para a paz e para a justiça.



Em 20 de abril de 2017, às 18h, na Praça do Compromisso, via W-3 Sul, em Brasília, acontecerá um Ato Inter-religioso em memória dos 20 anos sem Galdino Jesus dos Santos. Promovem o ato o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), o Fórum Ecumênico ACT – Brasil, a Rede Ecumênica da Juventude, a Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília (CJP-DF), o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e a Comissão Brasileira Justiça e Paz (CBJP).  Estarão presentes povos indígenas que farão a dança ritual em homenagem a Galdino, haverá declamação de poesias, testemunhos, reflexões sobre o ódio enfrentado pelos indígenas brasileiros. O momento também será para reforçar a denúncia da violação dos direitos constitucionais e originários dos indígenas, bem como as políticas anti-indígenas do Estado brasileiro.



* Publicado no Correio Braziliense, edição de 14/04/2017 - Opinião, página 11.