Diego Diehl
O México é o primeiro país
latinoamericano invadido e conquistado pelo colonizador ibérico. As marcas dessa colonização são profundas,
ainda doloridas, como uma verdadeira ferida aberta. Também pudera. A
brutalidade do processo da conquista foi tão grande, que os espanhois decidiram
construir a sede do vice- reinado exatamente em cima de onde ficavam as
principais edificações astecas. O palácio de Moctezuma tornou-se o gigantesco
palácio de Cortés. A pirâmide do sol tornou-se a catedral. As pedras que
edificaram as novas instituições coloniais foram obtidas pela demolição das
edificações astecas. Iniciou-se a "colonização do mundo da vida" dos
povos ameríndios...
Essa colonização segue viva
hoje, não mais como o capitalismo mercantilista em processo de desenvolvimento
como no séc. XVI, mas como imperialismo financeiro que impõe políticas
neoliberais a todo o planeta no séc. XXI. No caso do México, tão longe de Deus e tão perto dos EEUU, essa
lógica se torna ainda mais perversa.
Com o retorno do PRI (Partido
da Revolução Institucional) à presidência da República, os conflitos sociais aumentam
vertiginosamente, e inicia-se mais um
ciclo de privatizações e de ataques aos direitos sociais. Nesse momento, procura-se impor uma (contra) "reforma
educativa" e uma (contra) "reforma energética ".
A primeira, sob o discurso de
realizar a "avaliação dos professores", procura na verdade viabilizar
a perseguição dos "maestros" progressistas que participam do
movimento sindical, que incentivam seus alunos a ter um pensamento crítico, e
busca ainda reduzir progressivamente o número de professores e seu nível
salarial.
A segunda vem terminar de
privatizar o setor petrolífero mexicano, que já está em cerca de 80% nas mãos
das transnacionais estrangeiras (Shell, Chevron, BP, Repsol etc), e que com a
proposta ficará em algo como 98% segundo dizem os analistas.
Ambas as propostas passam por
discussão no "espaço público democrático" decisivo, o Parlamento, e
já estão praticamente aprovadas na integra, faltando apenas alguns detalhes
para sua consolidação definitiva. Nesses momentos, em que as instituições
"democráticas" produzem vítimas,
estas últimas, claramenre em situação de desigualdade econômica e
assimetria política, buscam se organizar
em movimentos sociais que consigam acumular forças para fazer o "direito
da rua" prevalecer sobre o anti-direito (para lembrar o mestre Lyra Filho)
dos palácios. Por isso, no último sábado,
mais de 20 mil pessoas, de organizações do campo e da cidade, de
professores, estudantes, trabalhadores em geral, tomaram as
"calles" para buscar dizer ao Estado qual o direito que deve ser
positivado nesse caso.
E o presidente responde, em
tom de ameaça: "vou usar todos os instrumentos do Estado Democrático para
fazer valer a vontade da maioria do povo mexicano, expresso por seu
Parlamento". Na dialética social do Direito mexicano, nesse momento é o
anti-Direito que prevalece. Mas a roda da História continua a girar...
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