MEMÓRIA - 13/08/2012
Emília Silberstein/UnB Agência |
José Geraldo de Sousa Junior avaliou o filme Hercules 56 como instrumento do conhecimento e da memória
Grace Perpetuo - Da Secretaria de Comunicação da UnB
O festival Cinema pela Verdade exibe até quinta-feira, 16, no Memorial Darcy Ribeiro, filmes sobre a ditadura militar no Brasil. O objetivo é estimular a reflexão sobre o período, preparando a comunidade acadêmica para as atividades da Comissão da Verdade da Universidade de Brasília, que vai investigar crimes cometidos pelos militares no campus.
“A arte, a cultura e o cinema, sobretudo, têm a capacidade de abrir a nossa imaginação, para que liberemos nossa consciência de modo que, interpretando a história, possamos fazer um salto rumo à participação em uma política que transforma”, afirmou o reitor José Geraldo de Sousa Junior, após a exibição do documentário Hércules 56 (Brasil, 2006), de Silvio Da-Rin. O filme aborda o sequestro do embaixador dos Estados Unidos, Charles Elbrick, em 1969, por integrantes da luta armada contra a ditadura.
O festival, promovido pelo Instituto Cultura em Movimento (Icem) em parceria com o Ministério da Justiça e a UnB, exibirá nesta quarta-feira, 15, o filme Barra 68 – Sem Perder a Ternura (Brasil 2001), do professor emérito Vladimir Carvalho. Na quinta, 16, é a vez do inédito Diário de uma Busca (Brasil, 2011), de Flávia Castro. As sessões serão realizadas às 18h, seguidas por um debate.
No debate desta segunda, o cineasta Silvio Da-Rin saudou o festival como “algo muito revelador da vocação histórica da UnB”, e disse que a iniciativa é fundamental para que a juventude possa acompanhar com mais consciência as atividades da Comissão da Verdade. “Esse filme faz parte de um esforço de recuperação de uma memória geracional”, afirmou. Para ele, o filme tem o mérito de abrir mão de análises ao colocar na tela – para a avaliação do espectador – os vibrantes depoimentos dos participantes e sobreviventes do episódio do sequestro do embaixador norte-americano.
Wílon Wander Lopes, estudante de Direito na UnB à época dos acontecimentos narrados pelo filme, afirmou que viveu no festival “um dos dias mais felizes na UnB”, por constatar que o debate está vivo na instituição. “É importante que todos saibam como as ações de um estado delinquente afetam a vida de uma pessoa”, disse Lopes, emocionado.
Emília Silberstein/UnB Agência |
Cristiano Paixão destaca a sobreposição de gerações na universidade |
MEMÓRIA E VERDADE – O reitor José Geraldo afirmou que o cinema é um instrumento a serviço da promoção da memória e da verdade. “Você não constrói uma virada política das relações de subordinação e de tutela dos agentes autônomos que têm protagonismo na sociedade se não há compreensão sobre os fatos que marcam este protagonismo“, disse.
Para ele, Hércules 56 integra uma vertente cinematográfica que faz um balanço da conjuntura do anos anos de chumbo, contribuindo para impedir que situações semelhantes voltem a acontecer. “É preciso conhecer a história para não repeti-la, para identificar responsabilidades, para assegurar a reparação dos que foram vítimas dessa experiência irracional e, sobretudo, para haver nisso uma pedagogia de reeducação e renovação das instituições.”
“A UnB está presente nesse filme”, afirmou o professor Cristiano Paixão, que também participou do debate, em referência ao escritor e jornalista Flávio Tavares – um dos militantes retratados no documentário –, que foi professor da UnB. Cristiano lembrou que, à época, a UnB foi uma instituição muito visada pela ditadura militar, e elogiou o documentário por este revelar uma “linhagem de resistência intergeracional e representativa”, narrando, ao mesmo tempo, a história da opressão e da mobilização que resistiu a ela. “Aqui, na UnB, as gerações se sobrepõem. Temos a geração dos fundadores, dos interventores, dos resistentes, da reconstrução, e a atual, de estudantes. É isso o que anima a constituição de uma Comissão da Verdade aqui na universidade”, disse. “A Comissão quer ouvir essas camadas geracionais.”
Emília Silberstein/UnB Agência |
Silvio Da-Rin afirmou que a UnB tem tradição histórica de democracia |
O FILME – Hércules 56 é um documentário sobre a luta armada contra o regime militar, focado no sequestro do embaixador norte-americano na Semana da Independência de 1969. Na ocasião, o grupo que empreendeu o sequestro fez duas exigências em troca da libertação do diplomata: a divulgação de um manifesto revolucionário e a libertação de 15 presos políticos. Banidos do território nacional e com a nacionalidade cassada, o grupo foi conduzidos ao México no avião da FAB Hércules 56.
É dos sobreviventes destes grupos – dos que promoveram o sequestro e dos que foram libertados por meio dele – que o filme se vale para narrar o episódio. Em cena, os nove sobreviventes do grupo que foi libertado: Agonalto Pacheco, Flávio Tavares, José Dirceu, José Ibrahin, Maria Augusta Carneiro Ribeiro, Mario Zanconato, Ricardo Vilas, Ricardo Zarattini e Vladimir Palmeira. Em entrevistas individuais, eles contam como eram as condições de atuação política no final dos anos 1960, a prisão, a libertação e sua permanência no México e em Cuba.
Com imagens da época (reunidas nos Estados Unidos, em Cuba, na França e no México), o documentário também coloca em cena os rebeldes que já faleceram, muitos vitimados pela ditadura: Luís Travassos, Onofre Pinto, Rolando Frati, João Leonardo Rocha, Ivens Marchetti e Gregório Bezerra. Para falar sobre os objetivos e detalhes do sequestro, o seu contexto e a repercussão sobre o processo político nacional, o diretor Da-Rin colocou em volta de uma mesma Cláudio Torres, Daniel Aarão Reis e Franklin Martins, dirigentes da então Dissidência da Guanabara (DI-GB), que idealizou a ação e passou então a adotar a sigla MR-8; e Manoel Cyrillo e Paulo de Tarso Venceslau, os dois únicos remanescentes da Ação Libertadora Nacional (ALN), que também participou da operação.
COMISSÃO - Criada para investigar os casos de repressão que dizem respeito à UnB, a Comissão Anísio Teixeira conta com 11 integrantes, entre professores e ex-alunos vítimas do período da repressão e tem como presidente o ex-reitor Roberto Aguiar. É a primeira Comissão com esta finalidade criada por uma universidade brasileira (leia mais aqui).
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