CORREIO
BRAZILIENSE
12/03/2024
Opinião, p. 19
ARTIGO
Conferência
Regional de Educação Superior: a Universidade hoje na América Latina e Caribe
José
Geraldo de Sousa Junior Professor e ex-reitor da UnB (2008-2012); foi
Presidente da Comissão de Autonomia da Andifes; autor/organizador do livro Da
universidade necessária à universidade emancipatória
Evento vai reunir, em
Brasília, reitores, diretores, acadêmicos, trabalhadores, estudantes,
associações profissionais, centros de pesquisas e representantes de organizações
governamentais e não governamentais
A CRES 5 vai acontecer
no Centro Internacional de Convenções do Brasil, em Brasília (DF), de 13 a 15
de março. Organizada pelo Ministério da Educação (MEC), por meio da Secretaria
de Educação Superior (Sesu) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (Capes), e pelo Unesco IESALC, a Conferência reunirá reitores,
diretores, acadêmicos, trabalhadores, estudantes, redes de ensino superior,
associações e profissionais, centros de pesquisa, sindicatos, representantes de
organizações governamentais e não governamentais e todos os interessados na
educação superior no continente.
A III Conferência
Regional de Educação Superior, realizada em Córdoba (Argentina) em junho de
2018, adotou uma Declaração e um Plano de Ação 2018-2028. Após a Conferência
Mundial de Educação Superior, em 2022, os atores de educação superior da região
avaliaram a necessidade de realizar uma reunião de acompanhamento da III CRES,
a fim de promover um processo participativo que destacasse o progresso
alcançado, bem como os desafios remanescentes e as questões emergentes,
especialmente relacionados à pandemia da covid-19.
A CRES 5 será a
concretização dessa decisão, permitindo analisar as conquistas da educação
superior na América Latina e no Caribe e, ao mesmo tempo, estabelecer
prioridades para a próxima Conferência Regional de Educação Superior, prevista
para 2028.
O fio condutor dos
debates da III Conferência são as condições de trabalho na educação superior. O
trabalho decente e as condições de vida dos atores da educação superior
enquanto afirmação do princípio de que é impossível haver educação superior de
qualidade sem assegurar os direitos e as condições laborais estabelecidos pela
Organização Internacional do Trabalho, como emprego produtivo com salário
justo, oportunidades e tratamento igualitário, seguridade social e
possibilidades de desenvolvimento pessoal e integração social. Entre as
especificidades que ativam essa questão, estão as garantias de direitos,
incluindo questões emergentes aceleradas pela pandemia de covid-19, como a
digitalização da educação e seus efeitos nas rotinas, cargas e jornadas de
trabalho. Assim, entre as tarefas atribuídas a esse eixo, estão avaliar a
situação atual das condições de vida e trabalho na educação superior e propor caminhos
concretos para a proteção dos direitos e a promoção do bem-estar de todos os
trabalhadores da educação superior na região.
Estão disponíveis, na
página da Conferência, as minutas dos documentos-base resultantes das
atividades dos Grupos de Trabalho (GTs) responsáveis por cada eixo temático da
CRES 5, incluídas no temário após a reunião preparatória da Conferência que
ocorreu em Havana, Cuba, nos dias 7 e 8 de fevereiro. E eles configuram o rico
painel de assuntos que serão tratados, a partir dos respectivos Grupos de
Trabalho, a saber: GT.1 Documento base (minuta) - A educação superior como
parte do sistema educacional na América Latina e Caribe; GT.2 Documento base
(minuta) - Educação Superior, diversidade cultural e interculturalidade na
América Latina e Caribe; GT.3 Documento base (minuta) - Educação Superior,
internacionalização e integração regional da América Latina Caribe; GT.4
Documento base (minuta) - O papel da educação superior diante dos desafios
sociais da América Latina e Caribe; GT.5 Documento base (minuta) - Pesquisa
científica e tecnológica e inovação como motores do desenvolvimento humano,
social e econômico para a América Latina e o Caribe; GT.6 Documento base
(minuta) - O papel estratégico da educação superior no desenvolvimento
sustentável da América Latina e Caribe; GT.7 Documento base (minuta) - Trabalho
decente e condições de vida dos atores da Educação Superior; GT.8 Documento
base (minuta) - O Impacto da COVID-19 na Educação Superior; GT.9 Documento base
(minuta) - Inclusão, diversidade e o papel da mulher na Educação Superior;
GT.10 Documento base (minuta) - Financiamento e Governança; GT.11 Documento
base (minuta) - A autonomia das Instituições de Educação Superior; GT.12.1
Documento base (minuta) - O futuro da Educação Superior na América Latina e
Caribe; GT.12.2 Documento base (minuta) - O futuro da Educação Superior na
América Latina e Caribe
Convidado a proferir a
conferência de encerramento da Conferência, no dia 15, acertei com a
organização o tema "Universidade, hoje, no contexto de América
Latina". Realizando-se em Brasília, a cidade na qual Darcy Ribeiro
implantou a síntese de seu mais elaborado projeto, a universidade necessária
inscrita na proposta de criação da Universidade de Brasília, é fundamental que
se possa pensar o destino compartilhado de sociedades cuja origem comum, a
colonial, somente pode se consumar, de novo Darcy, como uma pátria grande, num
contexto de emancipação.
Portanto, trata-se de
pensar uma universidade emancipada, que se livre das injunções colonizadoras
que alienaram o humano no passado colonial e que não podem se conformar, a
alienação do pós-humano, no contexto neocolonial e neoliberal.
Por isso, a defesa da
autonomia, no conhecimento, para escapar ao empreendedorismo que o mercadoriza,
numa modelagem funcional de acumulação privatizante (SOUSA JUNIOR, José Geraldo
de Future-se valoriza o privado e não acena para o ethos acadêmico, in
IHU-Revista do Instituto Humanitas Unisinos, nº 539, ano XIX, 2019) quando a
luta emancipatória (por inclusões: de classe, de gênero, de raça), alcançaram o
simbólico da educação como bem público, social, fora do mercado, como está no
desenho das principais constituições da região.
Isso significa cautela
com relação ao artificial e ao distanciamento porque o conhecimento só pode ser
construção do comunitário, do diálogo real, preservado na sua liberdade
(conforme a OEA já preveniu ao editar Princípios Interamericanos sobre a
Liberdade Acadêmica, para prevenir "a constatação da ameaça crescente, no
continente, de agressões, mobilizações e atitudes contra a autonomia
universitária e a liberdade de ensino, sobre a desinstitucionalização e a
desconstitucionalização desses fundamentos, caros aos enunciados dos direitos
convencionais internacionais, assim como da própria
ONU"(https://www.oas.org/es/cidh/informes/pdfs/Principios_Libertad_Academica.pdf).
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