Um dia pra guardar pro resto da vida!
Assim que acordei, passei cerca de uma hora anotando lugares, mapeando
áreas e caminhos para visitar as duas casa de Mandela, onde ele nasceu,
no soweto, e onde ele vivia, em Houghton. A expectativa era grande.
Contudo, por onde fiz amigos e amigas daqui, não houve nenhum que não
tenha dito pra ter cuidado, em especial no centro. Passaria
inevitavelmente pelo centro. Enfim, confesso que estava decidido a ir,
achar, mas havia uma tensão grande.
Saindo da Guest House, logo
peguei o trem veloz, construído para Copa do Mundo, que me deixaria no
centro, na Park Station. Até então não tinha noção de que era a Park
Station... É uma espécie de coração da cidade, trens, ônibus, vans, tudo
que se imaginar se encontra lá... Depois de tentar pegar um táxi para o
lugar onde pegaria uma van para Soweto e o taxista ser super grosso,
sai decidido a achar a van a pé, apesar de todo mundo ter recomendado o
contrário. Ainda era cedo, não estava cheio, mas todos olhavam que
aquele branquelo passava por ali... por sorte, perguntei pra van certa e
embarquei!
Chegando em Orlando, parte de Soweto, a casa onde
Mandela estava vazia. Muitos jornalistas e fotografos de várias partes
de mundo. Vendedores e turistas tb passavam por lá. Foi meio
decepcionante, mas o inteiro da casa, um museu, valeu a viagem. O mais
interessante lá é ver o contexto de guerra fria, como as potências
mundiais sustentaram o Apartheid pela Guerra Fria e como perseguiram
Mandela. Tem um documento de 91, do Estado de Michigan, implorando ao
Presidente dos Estados Unidos em retirar Mandela da lista de
terroristas, dados que mostram que Bush pai prometeu, mas não cumpriu,
como sabemos, só foi retirado em 2008.
Seguindo pelas ruas de
Orlando e cheguei no Hector Peterson Museum. Hector Peterson era um
estudante de 12 anos, que a irmã mais velha levou pra escola e ela
seguiu para uma mobilização contra o Apartheid. Sabendo onde a irmã ia,
ele a seguiu. Chegando lá a repressão foi gigantesca, se perderam e ele
acabou morrendo. Nesse museu se conhece a história e a concepção do
Apartheid, com imagens da vida em Soweto e a imagem da vida dos brancos.
Sobre educação e detalhes sobre os discursos dos governantes da época.
Onde vc sente muita vergonha de ser branco.
Saindo de lá, outra
pequena van. Dessa vez o policial me ajudou, mas o pessoal dentro da
van não me olhou bem por isso. Até o momento que uma senhora do meu lado
decide me perguntar de onde vinha, quando disse Brasil, virei atração
da van. Todos conversavam comigo, mais ainda quando disse que vinha por
Mandela. Todos trabalhavam, não tinham ido na casa de Mandela e não
pretendiam ir a nada. Mas ficaram felizes com minha vinda. No final da
viagem um deles me levou até a estação, o que seria bem difícil sem
eles.
Uma vez na Park Station, o desafio era chegar na atual
casa de Mandela. Foi quando, perdido dentro da estação, percebi que não
tinha visto o endereço dela. Sabia que era perto da estação Rosebank.
Segui pra lá, onde tinha um shop. Perguntei para várias pessoas, nenhuma
sabia. Isso me decepcionou e quase deixei pra ir amanhã, com endereço
em mãos. Foi quando achei os taxistas e eles falaram que sabiam. O preço
estava bom e decidi seguir.
No percurso o taxista foi super
amigável, ao contrário da minha primeira experiência. Chegando lá tb foi
um pouco decepcionante, apesar das flores. Só turistas brancos e
jornalistas. Estava quase partindo, quando tudo mudou. Começou chegar
vários grupos de religião africana, pouco depois, quando tb pensava em
ir embora, chegou uma banda de metais com uma multidão dançante, ficaram
cerca de uma hora andando pela região e animando. Era possível ver
vários trabalhadores ainda com trajes, trabalhadores de fast-food,
cozinheiros e cozinheiras ainda com toca, outros de uniformes de algumas
empresas e muitos empregadas domésticas. Esse último grupo estava muito
feliz, mas me assustou os trajes. São exatamente aqueles que vemos em
casa dos ricos em novelas, algumas delas, estava com a família branca e
cuidava de crianças dessas famílias, contudo isso não as impediam de
pular e gritar.
Na minha 3a tentativa de ir embora, encontrei
um grupo de mulheres vindo felizes e cantantes.Tive que voltar e ver o
que considero o momento mais incrível das 3:30 horas que estive lá.
Nessa hora, assim quando a banda chegou, quase chorei de alegria em ver
como celebram a morte. Como disse uma amiga, óbvio que estão tristes,
mas celebram o fato de terem um líder como Mandela. Quando começou a
chover, foi hora de partir. Com sorriso no rosto, com coração tranquilo e
alma transformada pelo oportunidade de ver um momento tão incrível!
Amanhã será a luta para entrar no Estádio, onde já seria histórico por
Mandela. Mas será ainda mais, pois Obama e Raul Castro discursarão no
mesmo evento, e ainda nossa Dilma Bolada.
* Rafael está há um ano em viagem de formação (EUA, AL). No último mês estava fazendo o circuito europeu quando aconteceu a morte de Mandela. Não hesitou, suprimiu Paris e Budapeste do roteiro e vou participar do fazimento (lembrando Darcy Ribeiro) da História. É isso Rafael Pops, quem sabe faz a hora.
Assim que acordei, passei cerca de uma hora anotando lugares, mapeando áreas e caminhos para visitar as duas casa de Mandela, onde ele nasceu, no soweto, e onde ele vivia, em Houghton. A expectativa era grande. Contudo, por onde fiz amigos e amigas daqui, não houve nenhum que não tenha dito pra ter cuidado, em especial no centro. Passaria inevitavelmente pelo centro. Enfim, confesso que estava decidido a ir, achar, mas havia uma tensão grande.
Saindo da Guest House, logo peguei o trem veloz, construído para Copa do Mundo, que me deixaria no centro, na Park Station. Até então não tinha noção de que era a Park Station... É uma espécie de coração da cidade, trens, ônibus, vans, tudo que se imaginar se encontra lá... Depois de tentar pegar um táxi para o lugar onde pegaria uma van para Soweto e o taxista ser super grosso, sai decidido a achar a van a pé, apesar de todo mundo ter recomendado o contrário. Ainda era cedo, não estava cheio, mas todos olhavam que aquele branquelo passava por ali... por sorte, perguntei pra van certa e embarquei!
Chegando em Orlando, parte de Soweto, a casa onde Mandela estava vazia. Muitos jornalistas e fotografos de várias partes de mundo. Vendedores e turistas tb passavam por lá. Foi meio decepcionante, mas o inteiro da casa, um museu, valeu a viagem. O mais interessante lá é ver o contexto de guerra fria, como as potências mundiais sustentaram o Apartheid pela Guerra Fria e como perseguiram Mandela. Tem um documento de 91, do Estado de Michigan, implorando ao Presidente dos Estados Unidos em retirar Mandela da lista de terroristas, dados que mostram que Bush pai prometeu, mas não cumpriu, como sabemos, só foi retirado em 2008.
Seguindo pelas ruas de Orlando e cheguei no Hector Peterson Museum. Hector Peterson era um estudante de 12 anos, que a irmã mais velha levou pra escola e ela seguiu para uma mobilização contra o Apartheid. Sabendo onde a irmã ia, ele a seguiu. Chegando lá a repressão foi gigantesca, se perderam e ele acabou morrendo. Nesse museu se conhece a história e a concepção do Apartheid, com imagens da vida em Soweto e a imagem da vida dos brancos. Sobre educação e detalhes sobre os discursos dos governantes da época. Onde vc sente muita vergonha de ser branco.
Saindo de lá, outra pequena van. Dessa vez o policial me ajudou, mas o pessoal dentro da van não me olhou bem por isso. Até o momento que uma senhora do meu lado decide me perguntar de onde vinha, quando disse Brasil, virei atração da van. Todos conversavam comigo, mais ainda quando disse que vinha por Mandela. Todos trabalhavam, não tinham ido na casa de Mandela e não pretendiam ir a nada. Mas ficaram felizes com minha vinda. No final da viagem um deles me levou até a estação, o que seria bem difícil sem eles.
Uma vez na Park Station, o desafio era chegar na atual casa de Mandela. Foi quando, perdido dentro da estação, percebi que não tinha visto o endereço dela. Sabia que era perto da estação Rosebank. Segui pra lá, onde tinha um shop. Perguntei para várias pessoas, nenhuma sabia. Isso me decepcionou e quase deixei pra ir amanhã, com endereço em mãos. Foi quando achei os taxistas e eles falaram que sabiam. O preço estava bom e decidi seguir.
No percurso o taxista foi super amigável, ao contrário da minha primeira experiência. Chegando lá tb foi um pouco decepcionante, apesar das flores. Só turistas brancos e jornalistas. Estava quase partindo, quando tudo mudou. Começou chegar vários grupos de religião africana, pouco depois, quando tb pensava em ir embora, chegou uma banda de metais com uma multidão dançante, ficaram cerca de uma hora andando pela região e animando. Era possível ver vários trabalhadores ainda com trajes, trabalhadores de fast-food, cozinheiros e cozinheiras ainda com toca, outros de uniformes de algumas empresas e muitos empregadas domésticas. Esse último grupo estava muito feliz, mas me assustou os trajes. São exatamente aqueles que vemos em casa dos ricos em novelas, algumas delas, estava com a família branca e cuidava de crianças dessas famílias, contudo isso não as impediam de pular e gritar.
Na minha 3a tentativa de ir embora, encontrei um grupo de mulheres vindo felizes e cantantes.Tive que voltar e ver o que considero o momento mais incrível das 3:30 horas que estive lá. Nessa hora, assim quando a banda chegou, quase chorei de alegria em ver como celebram a morte. Como disse uma amiga, óbvio que estão tristes, mas celebram o fato de terem um líder como Mandela. Quando começou a chover, foi hora de partir. Com sorriso no rosto, com coração tranquilo e alma transformada pelo oportunidade de ver um momento tão incrível!
Amanhã será a luta para entrar no Estádio, onde já seria histórico por Mandela. Mas será ainda mais, pois Obama e Raul Castro discursarão no mesmo evento, e ainda nossa Dilma Bolada.
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