sábado, 31 de dezembro de 2011

“A Universidade vive um momento prodigioso”


ENTREVISTA EXCLUSIVA - 30/12/2011
José Geraldo de Sousa Junior exalta o ano do cinquentenário como propício ao debate sobre a reestruturação, que ele pretende iniciar antes de deixar a Reitoria: "Não serei candidato"
Ana Beatriz Magno, Ana Lúcia Moura e José Negreiros - Da Secretaria de Comunicação da UnB
http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=6118 
José Geraldo de Sousa Junior inicia o quarto ano de seu mandato convencido de que a Universidade de Brasília está pacificada e unida para melhorar seus indicadores acadêmicos e de desempenho.
O professor da Faculdade de Direito eleito reitor em 2008 considera que as metas definidas para sua gestão foram cumpridas e a Universidade está preparada para dar início ao debate sobre sua reestruturação, no contexto do cinquentenário. “Criamos um empoderamento da Universidade”, disse em entrevista concedida à Secretaria de Comunicação, na última semana de dezembro.
Somada à realização da Estatuinte, que ele promete encaminhar ainda que não se formalize o resultado de comissão instituída pelo Conselho Universitário, as metas são tratadas por ele como finalísticas. “Não serei candidato à reeleição”, disse durante a entrevista que durou uma hora e quarenta e três minutos. Leia a seguir.
UnB Agência: O senhor é candidato a reitor?
José Geraldo: Não. Tenho convicção de que a perenização acadêmica na gestão burocratiza o professor. Em uma universidade, onde há uma renovação contínua de quadros, é uma subtração do potencial de gestores que são formados aqui permanentemente você se manter numa função que poderia ser exercida por outros que se renovam. Não estigmatizo reeleição, mas eu, pessoalmente, sou contra. Não me dispus à reeleição em nenhum dos cargos que exerci. Acho que deu e dá para realizar tudo que se programou como plataforma no tempo de quatro anos, que é o do mandato do reitor. Espero que da minha gestão saiam os quadros que vão dar continuidade ao projeto.
UnB Agência: O senhor é contra a reeleição de uma chapa ou apenas do cabeça de chapa?
José Geraldo:
 Acho que o vice deve ser um candidato natural quando você tem uma articulação bem sedimentada. Neste caso, ele não está sendo reeleito. Está saindo para um outro cargo, naturalmente derivado do aprendizado que realizou, da experiência que acumulou.
UnB Agência: Ele é seu candidato?
José Geraldo: Ainda não fechamos essa questão.
UnB Agência: Como serão definidas as regras eleitorais?
José Geraldo:
 O Consuni vai definir se a eleição é conduzida por ele ou como ele construiu historicamente, quando separa a consulta da eleição. Eu, por exemplo, fui indicado em uma consulta conduzida e com regras definidas pela comunidade onde obtive 3% de votos sob o segundo colocado em um segundo turno de escrutíneo, em uma votação paritária. Depois, fui eleito no Consuni (Conselho Universitário), não paritário, para integrar uma lista tríplice que me deu 99,98% dos votos dos conselheiros. O segundo colocado teve dois votos. O terceiro, um. E os três integramos a lista. Foram, portanto, dois processos de escolha. A universidade soube separar o que é atividade de comunidade da deliberativa de seus colegiados e foi o Consuni quem estabeleceu que haveria consulta. Até quis conduzir o processo, mas uma interpelação judicial levou a que ele separasse e aí as entidades convocaram. Vão convocar agora? Não sei. Uma delas convocará? Não sei. Uma lista de professores convocará? Não sei? O Consuni convocará? Não sei. A Reitoria convocará? Pode convocar.
UnB Agência: O senhor termina o ano sem nomes importantes da sua gestão. Ao que atribui isso?
José Geraldo: A uma boa filosofia. Não criei feudos nem mandarinatos. A gestão é feita de continuidade e renovação contínua. Tive diferentes mobilidades no interior do próprio grupo, nomes que se deslocaram de uma posição para outra, se moveram no sentido de seu melhor desempenho, também com experiência acumulada em outras funções. Alguns que saíram continuam apoiadores do projeto, participam das interlocuções. Outros foram definir suas próprias opções subjetivas ou objetivas. Não faz muito tempo, agreguei dois novos nomes decorrentes da criação de dois decanatos. Então, termino o ano com mais nomes dos que os que saíram, e quero crer que com uma estrutura de gestão mais fortalecida, mais ordenada, no tocante ao posicionamento dos atores que estão se engajando no cumprimento da proposta programática. Terminamos o ano com razões de sobra, em um ano de crise, para celebrar aquilo que foi o trabalho deste coletivo.
UnB Agência: Quais as razões para celebrar?
José Geraldo: Terminamos o ano com uma excelente execução orçamentária. Terminamos com uma resolução que autoriza a flexibilização da jornada de trabalho, fruto de uma política de gestão de pessoas e de qualidade de trabalho construída de maneira bastante consistente, com a revisão de todos os processos de trabalho, e considerando as dificuldades em um contexto em que o fenômeno da terceirização ainda é o imponderável. Terminamos com a constante histórica e ampliada da aprovação de projetos nas agências de fomento, e com a UnB integrando o capital dos melhores desempenhos acadêmicos.
UnB Agência: Houve discordâncias no interior da Administração durante a condução desse processo?
José Geraldo:
 Construí uma política em que o espaço não pode ser individualista, tem de ser construído no compartilhamento de valores, o que impõe limites e os limites têm de ser construídos dialogicamente, por isso valorizo o processo deliberativo dos colegiados. Ele coloca limites. Coloca limites a mim todo o tempo. Muitas das ações de meu projeto tinham base na aplicação na UnB do Reuni (Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), o que fizemos com muita nitidez nos últimos três anos. Em Brasília certamente só o Governo do Distrito Federal realiza mais em termos proporcionais de metros quadrados e valores contratados em obras. Nem na inauguração tivemos isso. Além da expansão, reconstruímos o modelo de definição do trabalho das fundações, ampliando o controle da Universidade sobre seu desempenho. Ao mesmo tempo, demos um salto maior na direção da demanda social de fortalecimento do apoio por meio de estruturas públicas. Criamos o mecanismo de inovar na área, por exemplo, de serviços, com o Cespe (Centro de Seleção e Promoção de Eventos), criando uma empresa pública. Criamos um empoderamento da universidade para exercitar suas funções de atuação, de acordo com as novas exigências que se apresentam para ela. Não é mais só ensino, pesquisa e extensão, mas inovação, tecnologia, qualificação dos recursos humanos do governo. E fizemos isso a partir das reuniões dos colegiados, que se reuniram muito mais vezes que em qualquer outra época. A medida das reuniões de colegiados permitiu que se recuperasse não só a confiança no sentido da construção do modo de gerir a Universidade, como a possibilidade de diálogo que esteve muito dificultado nos anos recentes por conta de tensões de diferentes ordens e alguns ressentimentos. A universidade está pacificada. Isso teria sido possível sem uma equipe bem coordenada, bem integrada?
UnB Agência: A criação dos dois decanatos não parece ter diminuído as queixas quanto ao andamento dos processos internos da Universidade. Como o senhor avalia os resultados?
José Geraldo:
 Os dois novos decanatos são a maior demonstração da sua capacidade de produzir resultados realizados sustentáveis. Velocidade não é equivalente de qualidade. Velocidade é, às vezes, arroubo de imprevidência. O que dizem os relatórios de auditoria dos nossos processos? Que são regulares, que estão bem consistentes, as situações anômalas são percebidas, são identificadas, são reorientadas, e, convenhamos, o desempenho tanto da gestão de pessoas quanto da gestão de orçamento, apresentaram resultados muito bem definidos. Agora, leva em conta que isso se faz inclusive num momento em que a complexidade organizacional ficou muito mais adensada. Ampliamos em cerca de 47% o volume edificado com uma base de execução ainda antiga. Estamos fazendo sem sobressaltos algo que é exigido de uma estrutura que não é ainda a estrutura correspondente à modernização dos processos. Estamos fazendo mais com menos, e melhor.
UnB Agência: Quais as metas para 2012?
José Geraldo: 2012 é um ano de altíssimo simbolismo porque é quando se comemora o cinquentenário da Universidade. Temos uma oportunidade, que vai se combinar com outras agendas de debate estimuladas pela eleição e pela Estatuinte, da Universidade se colocar numa dimensão de alta reflexão. A reestruturação é uma meta finalística para o ano que vem, porque é quando a gente tem a inserção mais forte dos cerca de 1 mil professores novos que entraram na Universidade. O debate com eles é trabalhar o tema da reestruturação, que significa repensar a planta epistemológica, os projetos político pedagógicos, o que está em finalização e deve ser um dos temas importantes da agenda do CEPE (Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão) do próximo ano.
UnB Agência: O senhor tem alguma frustração? Há algo que admita que não vai dar tempo de fazer?
José Geraldo: O erro é uma condição metodológica do real. No meu discurso de posse aqui, disse aos estudantes que eles acertam até quando erram. E erram frequentemente. Mas eu posso tributar ao que é considerado um erro deles, por exemplo, querer interromper o vestibular em Ceilândia, ao que ao final se realizou que é colocar a consolidação e implementação de Ceilândia como ordem de prioridade e de concretização de toda a comunidade, e permitir que o Conselho Universitário se incorporasse a esse esforço e fosse uma instância importante na qual se discutiu o modelo real de finalização da obra? Trabalhei em condições próprias de um sistema que é técnico e é político. Não interrompi nenhum projeto construído nem hierarquizei nem questionei, não fiz varejo nem cortejei, e dei continuidade a todos, como também terão de ter continuidade, até porque o sistema hoje não é mais de apropriação dos espaços institucionais porque existem requisitos de responsabilidade administrativa e fiscal.
UnB Agência: Mas nem tudo será concluído?
José Geraldo: Nem tudo será completado, mas as condições de realização e o horizonte de mudança estão estabelecidos. Como eu sempre disse, uma universidade se caracteriza pela sua continuidade institucional, por isso ela é milenar enquanto conceito civilizatório, e ela se refere muito pelo o que projeta, não tanto pelo que realiza. No plano programático, a única coisa que não consegui por conta do obstáculo legislativo, mas que já tem uma mediação para tentar fazer de outro modo, é a creche.
UnB Agência: Ceilândia vai ficar pronta até o final de março?
José Geraldo: Ceilândia vai estar apta a receber os estudantes até o final de março, como está no momento. O semestre começa, como já terminou em Ceilândia, no campus novo. Fizemos a última reunião do Consuni no auditório do campus novo. Percorremos os espaços já ocupados pelos laboratórios no campus novo. Não entre nessa filosofia de que o provisório é imprestável. Os estudantes e professores não estão em galpões, não estão em angares. Eles estão instalados em escolas, que são preparadas para atividades de ensino, de pesquisa. Qual foi o compromisso? Assumiríamos uma das obras e garantiríamos, enquanto UnB, a entrega dela para o início do semestre. Assumiríamos que daríamos essa informação precisa no dia 30 de novembro e o fizemos. Assinamos o contrato no dia 30 de novembro, a empresa já está lá trabalhando. Agora, não assumi compromisso de ter os prédios prontos, mas de ter Ceilândia apta a receber os alunos em condições de desenvolvimento das atividades.
UnB Agência: O senhor vai propor a Estatuinte?
José Geraldo:
 Já está proposta. Já levei ao Consuni, já estabeleci um parâmetro para sua realização no Conselho e na última reunião disse: se não puder sair por condição operativa do Consuni sem fugir da decisão, eu retomo para mim o encaminhamento, claro que submetendo ao exame do Consuni. Tem coisas que posso até fazer sem ele, mas não posso fazer nada contra. Então, pretendo no início do semestre chamar a mim aquilo que já autorizado pelo Consuni, que é organizá-la, ao invés de, como está agora, há seis meses esperando que se formalize o resultado da uma comissão.
UnB Agência: Esse dar seguimento que o senhor propõe é de uma Estatuinte paritária?
José Geraldo:
 Sim, porque foi definido assim, como uma Estatuinte paritária.
UnB Agência: Isso significa que o senhor seguirá defendendo a paridade?
José Geraldo: A paridade eu defendo há 40 anos, por escrito inclusive. O 70x15x15 significa que é um conglomerado de poder. Significa um contexto de maioria para afirmar representação de poder. Os estudantes têm uma identidade política que é secular. Os valores dos estudantes não são conjunturais, não são destes estudantes de 2011 nem conjunturais desta Universidade. É da categoria acumulada, que é tão forte que já inscreveu no imaginário do país a noção de que existe um movimento estudantil, que alimenta a consciência dos estudantes, e de uma forma até generosa porque não é uma consciência ajustada a interesses momentâneos ou corporativos. E por isso que nesta consciência eles trabalham em temas como educação, ética, como o Petróleo é Nosso, como o Diretas Já, Estatuite, como anistia.
UnB Agência: O senhor é permissivo com os estudantes?
José Geraldo: Não, sou educador. A universidade não é um monastério ou internato ou quartel. Então, o que eu acho é que temos de construir as regras de convivência, e construir de forma educadora. Sou educador. Eu abri sindicâncias para examinar excessos, mas construí representações de condutas de maneira que os resultados fossem educadores. O princípio da conduta é a redenção.
UnB Agência: Se o senhor fosse candidato, o senhor se elegeria?
José Geraldo: Quando fui candidato, algumas pessoas achavam que eu não tinha chance. E o que eu tinha para alicerçar minha pretensão? A minha coerência e a minha história. O que eu construí como percepção nos meus eleitores? Que eu não mentiria. Quando dizem: “Ah, é um professor muito ligado aos movimentos sociais”. Sim, a minha vida toda. “Ah, é o Zé do MST”. Mas isso me ofende? Quando foram definir que cor eu usaria na campanha, eu disse: vermelho. Se eu usar verde eles vão acreditar que sou eu? Eleição não é um jogo de certeza. Você duvida que eu poderia ser eleito se fosse candidato?

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