A energia solidária de um pensamento
Diálogo de intelectuais com Marilena Chauí é transformado em livro. Reitor da UnB lembra as contribuições da filósofa para as ciências jurídicas
Pedro Rafael Ferreira - Da Secretaria de Comunicação da UnB
Pedro Rafael Ferreira - Da Secretaria de Comunicação da UnB
A trajetória intelectual de Marilena Chauí projetou um consistente terreno para o desenvolvimento do pensamento político, social e filosófico no Brasil. O mais recente gesto de reconhecimento desse legado pode ser conhecido em livro. Extraído com base na documentação de um seminário sobre Democracia e Liberdade, ocorrido em 1998, no Paraná – com a participação da própria filósofa – a obra intitulada “Diálogos com Marilena Chauí” (Editora Barcarolla) chega às livrarias reunindo um conjunto de reflexões de estudiosos dos campos da história, filosofia, psicologia, direito e sociologia.
São registros das intervenções de pensadores brasileiros, todos eles identificados com os fundamentos teóricos propostos por Chauí. “Creio que esse sentimento de compreender o Brasil de outra forma não foi privilégio apenas meu, mas de todos aqueles que também se aproximaram dela, quaisquer que fossem suas especialidades, suas origens acadêmicas ou vínculos com movimentos sociais e culturais”, explicita a professora Maria Célia Paoli, da Universidade de São Paulo (USP) e organizadora do livro. A decisão de publicar a transcrição das falas e os textos de apresentação de participantes do seminário é uma tentativa atualizar diálogos interdisciplinares onde o pensamento da filósofa contribui com “poderosos” conceitos.
Dividido em três partes, o livro reúne um total de 15 artigos, mais a transcrição do debate final entre os participantes do seminário. Três dos textos são da própria Chauí, nos quais relata sua experiência como professora, o acúmulo prático experimentado em sua passagem pela secretaria municipal de Cultura de São Paulo (1988-1992, na gestão de Luiza Erundina), além de um depoimento sobre a amizade e uma leitura filosófica sobre ética e violência. Outros autores discutem temas como movimentos sociais e construção da democracia, intelectuais e militância política, além das interfaces do pensamento filosófico de Chauí para os estudos de sociologia, direito e história.
AMOR À SABEDORIA – Convidado para conduzir o painel de abertura do seminário que deu origem ao livro – realizado há 13 anos na Universidade Estadual de Londrina (UEL), no Paraná – o professor José Geraldo de Sousa Júnior destaca, em um dos artigos, a contribuição de Marilena Chauí para o pensamento jurídico brasileiro. Segundo o reitor, a noção de “sujeitos coletivos”, cujo emblema mais expressivo são os próprios movimentos sociais, exibe um conjunto de práticas que reafirmam direitos de cidadania.
“A partir da constatação derivada dos estudos acerca dos chamados novos movimentos sociais, desenvolveu-se a percepção, primeiramente elaborada pela literatura sociológica, de que o conjunto das formas de mobilização e organização das classes populares e das configurações de classes constituídas nesses movimentos, instauravam, efetivamente, práticas políticas novas, em condições de abrir espaços sociais inéditos e revelar novos atores na cena política capazes de criar direitos”, argumenta.
A fundamentação filosófica de Chauí, diz José Geraldo, alimentou o surgimento de “novas perspectivas paradigmáticas, de relevante alcance político” para o pensamento jurídico. Ao projetar o sujeito coletivo – no interior do ambiente social – como protagonista de direitos, foi inaugurado um “novo modo de produção do social, do político e do jurídico”, defende.
Reprodução/UnB Agência |
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