sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Ex-estudantes relembram período da ditadura na UnB


50 ANOS - 30/08/2012
Mariana Costa/UnB Agência
 
Ex-estudantes relembram período da ditadura na UnB
Histórias do movimento estudantil permearam reunião realizada na quarta-feira, 29, com a participação da deputada federal Erika Kokay e dos jornalistas Beto Almeida e Tereza Cruvinel, ex-estudantes da UnB 
Fernando Molina - Da Secretaria de Comunicação da UnB
http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=7011 
No dia em que uma das invasões militares à Universidade de Brasília completou 44 anos, a reflexão sobre o movimento estudantil foi tema predominante na reunião da Comissão UnB 50 Anos, realizada nesta quarta-feira, 29. Sediado no Salão de Atos da Reitoria, o encontro contou com a participação da deputada federal Erika Kokay e dos jornalistas Beto Almeida e Tereza Cruvinel, ex-estudantes da UnB, que relataram a repressão e a violência que sofreram a comunidade acadêmica na época e a resistência estudantil à ditadura.
Tereza Cruvinel estava matriculada no curso de Letras em 1977, quando foi presa pela repressão. Adepta do pensamento de que historiar é preciso, a atual colunista dos Diários Associados entende que é preciso dar mais destaque à UnB no processo de redemocratização do país.
“Às vezes, o papel da UnB fica secundarizado frente a fatos que ocorreram no eixo Rio-São Paulo. Porém, a mobilização na Universidade de Brasília contribui para o retorno à democracia”, disse Tereza. Ela contou que os participantes do movimento estudantil buscavam divulgar suas idéias ao máximo. “Panfletamos até em Dia de Finados e feriados cívicos como 7 de Setembro”, compartilhou a ex-presidente da Empresa Brasil de Comunicação.
AUDÁCIA - Para Beto Almeida, o movimento estudantil daqueles anos tinha dentre suas características a audácia organizativa, política e temática. “Os sindicatos estavam amordaçados. Tínhamos um papel a cumprir perante a sociedade brasileira”, explicou o jornalista, para quem as universidades têm uma dívida social com o país.
Mariana Costa/UnB Agência
 Beto Almeida
Almeida lembrou vários episódios vividos pelos estudantes na UnB, como a necessidade de esconder os mimeógrafos; a manifestação de repúdio à visita do ex-secretário de estado dos EUA, Henry Kissinger; e a realização de eventos culturais e educativos. “Com o projeto História do Chorinho”, contou, “trouxemos à UnB personalidades como Cartola e Waldir Azevedo”.
RESISTÊNCIA - O depoimento de Erika Kokay também foi tomado por histórias dos anos de resistência ao governo militar. “O movimento estudantil era símbolo da luta da sociedade brasileira pela democracia”, afirmou. A deputada ressaltou a importância da Universidade de Brasília no cenário nacional, relembrando a greve de 1977, aqui iniciada e, posteriormente, alastrada por outros estados.
Erika Kokay também frisou a relevância do Alojamento Estudantil, atual Casa do Estudante Universitário, como pólo de resistência à ditadura. “O Alojamento era um local de encontro para atividades políticas e artísticas, tais como debater e também cantar, ouvir músicas e assistir filmes”, relatou a deputada. Kokay também reiterou a importância de atividades de extensão universitária para cumprir com a missão emancipatória do ensino superior.
Mariana Costa/UnB Agência
 Erika Kokay
O reitor José Geraldo de Sousa Junior citou Pompeu de Souza, que costumava ressaltar os dois compromissos que para Darcy Ribeiro integram os pilares da Universidade de Brasília: lealdade com os padrões internacionais de conhecimento e a lealdade com o povo brasileiro.
“Após os movimentos do final da década de 1970”, apontou o reitor, “o Brasil viu concretizar as agendas da abertura política, da Constituinte e das eleições diretas para presidência da República.”
EMOÇÃO - Os relatos e os debates conferiram um clima especial à reunião da Comissão UnB 50 Anos. Esta é a opinião da professora Adalgisa Maria Vieira do Rosário, uma das responsáveis pelo Projeto ProMemória. “É muito emocionante rever esses ex-alunos e lembrar a atuação importante que realizaram no movimento estudantil pela democratização do país”, declarou.
A emoção também tomou conta do professor José Carlos Coutinho, ao lembrar a reunião que decidiu pela expulsão da à época estudante Erika Kokay, realizada em 17 de junho de 1977. “O então reitor José Carlos Azevedo nomeou o Conselho Universitário às pressas para responder a demanda legal que defendia a permanência da aluna”, lembrou Coutinho. Ele e o professor Marco Antonio Rodrigues Dias foram os dois únicos votos contrários ao desligamento de Kokay.
ENVOLVIMENTO - E como está o movimento estudantil atualmente? Para Beto Almeida, é preciso maior envolvimento em processos de transformações sociais. Citando a ausência da participação de universitários no projeto das Unidades de Polícia Pacificadora, colocado em prática no Rio de Janeiro, o jornalista fez um paralelo com as universidades nicaragüenses que se dedicaram à erradicação do analfabetismo em seu país.
“É necessário rebeldia contra estruturas arcaicas da sociedade brasileira”, sentenciou Almeida ao lançar uma proposta: mobilizar as universidades para o que chamou de uma “cruzada contra o analfabetismo no Brasil”. “Eu não abdiquei de nenhum sonho, com o tempo só os aperfeiçoei”, concluiu o jornalista.
Para Tereza Cruvinel , a democratização do Brasil passou pela reconstrução das instituições estudantis desmanteladas pelo governo militar e a UnB teve um importante papel nesse processo.
Mariana Costa/UnB Agência
Tereza Cruvinel
Com o objetivo de promover o registro histórico da universidade, a jornalista propôs a criação de um Blog da Memória, aberto a todas as pessoas que tenham algo a compartilhar – relatos, imagens, documentos.  “O passo seguinte seria compilar o material reunido em uma publicação impressa”, sugeriu.
No site UnB 50 Anos, é possível enviar fotos e registrar histórias. Mais informações estão disponíveis em:http://www.unb50anos.com.br/index.php/album?retrato=57

Nenhum comentário:

Postar um comentário