D. Sérgio da Rocha
Arcebispo de Brasília
José Márcio Moura Silva
Presidente da Comissão Justiça e Paz da
Arquidiocese de Brasília(*)
Brasília é uma
cidade em permanente mudança. Fruto da experiência de homens e mulheres,
plantada em meio ao planalto central, a cidade pensada como una, circunscrita ao
Plano Piloto, transformou-se numa constelação urbana – formada pelo centro e as demais cidades. Nesse
quadro, a expansão recente do
processo de urbanização trouxe consigo mudanças incríveis nos estilos de vida. Temos
hoje uma Brasília marcada por profundas desigualdades sociais, múltiplos
interesses de grupos e extensos problemas que merecem a atenção de todos e
todas.
A Arquidiocese
de Brasília criou sua Comissão Justiça e Paz a partir dessas questões como
campos de ação da Igreja para a justiça
e a paz.
No momento de sua fundação (1986) lançou
projeto constituído pelos pressupostos da cidadania em que muitas dessas
percepções sobre Brasília já estavam pontuadas. O programa da Comissão para as lidas e as lutas da
cidade foi parte do universo de democratização. Ali, já estava a percepção de
que Brasília era mais que suas escalas arquitetônica, monumental e bucólica. Brasília,
além de sua condição de urbs e de civitas, bela, moderna e funcional, tinha
e tem a dimensão de verdadeira polis,
obra do povo organizado para atribuir a ela a escala humana que a realiza como
cidade. Com o tempo, foi necessário reconstruir a Comissão Justiça e Paz para
adaptar-se a estes novos tempos, com o cuidado de garantir a tradição dos
trabalhos realizados, e o carinho de pensar o futuro com ousadia. É por isso toda
a Igreja Católica de Brasília, como comunidade de comunhão e conversão, celebra
o novo ciclo da Comissão Justiça e Paz, ao retomar tais percepções, propor
outras e colocar numa grande roda de conversas as muitas visões da cidade. A
Comissão Justiça e Paz coloca-se como espaço de mediação social a serviço da
cidade e de sua população, de seus desafios e de seus horizontes, de forma
pluralista e comprometida com o Evangelho. Entre o planejamento original e a
vida, entre a cidade sonhada, desejada e sua concretude, há diversas contradições
em Brasília – a lei, a sua (des)obediência e a superação das tensões por parte
das pessoas, instituições, grupos e as conquistas de seus direitos e deveres.
A
partir da rica experiência dos profetas do Antigo Testamento para anunciar a
justiça, da mensagem do Evangelho e da missão da Comissão Justiça e Paz deverá denunciar
tudo que possa lesar a justiça e colocar em perigo a paz. Ao mesmo tempo,
poderá e deverá intervir, a partir do diálogo construtivo e respeitoso, com os
diversos níveis eclesiais, institucionais e da sociedade, com o objetivo de
promover princípios, estimular o respeito entre todos e todas, defender a
dignidade humana e lutar pelo fortalecimento da democracia e da cidadania. Por
isso, a Comissão Justiça e Paz pode e deve se colocar como sentinela dos
direitos sociais, buscando inspiração na riqueza da espiritualidade cristã,
direcionando-a às “periferias existenciais”, na feliz expressão do Papa
Francisco, ao invés de ficar limitada à dinâmica interna.
Os desafios para esta nova
etapa da Comissão Justiça e Paz estão em torno de dois carismas essenciais na
Igreja: a profecia e o serviço à sociedade. O contexto é Brasília em um mundo em mudança. Uma
realidade marcada por grandes mudanças, com um alcance global que, com
diferenças e matizes, afetam o mundo inteiro. Os fenômenos da globalização e
das mudanças da ciência e da tecnologia impactam a cultura, a economia, a
política, as ciências, a educação, o esporte, as artes e também, naturalmente,
a religião. Uma realidade que para o ser humano se tornou cada vez mais sem
brilho e complexa. Aliás, o Papa Francisco tem acentuado a exigência desta
presença no mundo, mesmo com os riscos de sofrer as mesmas consequências que podem
acometer qualquer pessoa que saia à rua. Entretanto, poderemos ter a
confortante alegria de ser fermento de uma Brasília justa e solidária.
O
serviço, humilde e comprometido com a sociedade, não deixará de ser uma
dimensão permanente em busca da superação das desigualdades e afirmação dos
direitos humanos, da justiça e da paz. Esta é a outra essência de uma Comissão
que, em nome da Arquidiocese de Brasília, tem que combater o bom combate com
coragem e amor, mas com firmeza e atenção aos pequenos e desprotegidos que nos
desafiam a descobrir o próprio rosto do Senhor nas faces sofridas dos irmãos e
das irmãs.
(*) São também membros da CJP: Agnaldo Cuoco Portugal, Elizeu Francisco Calsing, Hélio José da Silva, José Carlos Soares Pinto, Pe. José Ernanne Pinheiro, José Geraldo de Sousa Junior, Jovita José Rosa, Melillo Dinis do Nascimento, Ricardo Spíndola Mariz, Simone Furquim Guimarães, Terezinha Lucia Santin e Pe. Thierry Linard de Guertechin
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