sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Boaventura de Sousa Santos na UnB

AULA DA INQUIETAÇÃO - 25/10/2012
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Reprodução
 
Boaventura volta à UnB para instigar o pensamento social
Sociólogo português estará na Universidade, na próxima semana, para receber o título de Doutor Honoris Causa e oferecer a Aula da Inquietação para os estudantes
Cristiano Torres - Da Secretaria de Comunicação da UnB


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“A universidade vai para onde vai o mundo e é por isso que uma boa universidade deve ajudar a mudar o mundo”. As palavras do sociólogo Boaventura de Sousa Santos foram proferidas em discurso no seminário Universidade e Sociedade, um ciclo de debates que discutiu a reestruturação da Universidade de Brasília, em 2009, e sintetizam as ideias do português acerca da academia e do papel central que essa instituição assume nas transformações da sociedade.
Os estudantes da Universidade de Brasília terão a oportunidade de rever e de ouvir de novo a mensagem do estudioso, que esteve várias vezes no campus, na Aula da Inquietação, que acontece às 10h da próxima terça-feira, 30 dse outubro, no Teatro de Arena do campus Darcy Ribeiro. Além disso, o sociólogo – cujo trabalho é dedicado a temas como globalização, justiça social, democracia e direitos humanos – receberá também o título de doutor Honoris Causa, às 18h30 da segunda-feira, 29, no Memorial Darcy Ribeiro. A apresentação do homenageado será feita pela filósofa Marilena Chauí.
Boaventura de Sousa Santos nasceu em Coimbra, em 1940 e têm Doutorado em Sociologia do Direito pela Universidade de Yale (1973). É professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e leciona também nas Universidades de Wisconsin-Madison e de Warwick. Além disso, dirige o Centro de Estudos Sociais da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e o Centro de Documentação 25 de Abril, na mesma Universidade.
O português chegou a morar numa favela do Rio de Janeiro, nos anos 1970. Ele escolheu o Brasil como cenário para compreender as raízes das injustiças econômicas e sociais e debater um novo caminho para o mundo. Suas ideias costumam ser evocadas em discussões que envolvem os temas mais sensíveis da atualidade.
Assiduamente convidado a participar de atividades na UnB, a primeira aproximação de Boaventura de Sousa Santos com a instituição aconteceu ainda na década de 1970, quando seus textos foram pela primeira vez alvos de debates em seminários na UnB. A aproximação foi uma das principais inspirações para a criação do grupo de pesquisa O direito achado na rua, hoje linha de pesquisa da Faculdade de Direito. A corrente de pensamento, da qual o reitor José Geraldo de Sousa Junior é um dos criadores e principais defensores, incorpora ao pensamento jurídico às práticas normativas desenvolvidas no seio das comunidades e dos movimentos sociais. Boaventura participou de vários volumes da série de livros publicados sobre tema.
Em seu trabalho recente, o sociólogo vêm provocando os agentes sociais a repensar o modo de produção do conhecimento dentro da universidade e defende uma aproximação com os movimentos sociais do mundo. Para Boaventura de Sousa Santos, vêm deles as iniciativas que, de fato, podem transformar a sociedade.
Para o autor de A Crítica da Razão Indolente, é preciso criticar radicalmente as verdades estabelecidas. “As teorias críticas que hoje vigoram no mundo foram produzidas pelos países do Hemisfério Norte. As experiências inovadoras de hoje estão acontecendo no Hemisfério Sul, e é para elas que o mundo tem que olhar”, afirmou. Ele também defende que a tradição e as culturas mais antigas, como os movimentos indígenas e os povos africanos possuem experiências capazes de criar políticas públicas e transformar a sociedade.
AULA INAUGURAL – Desde 2009, a cada semestre os novos alunos da UnB são recebidos com uma especial Aula da Inquietação, pensada para instigar nos calouros as primeiras curiosidades quanto ao novo mundo acadêmico que se descortina. Aberta a toda a sociedade, o encontro reúne pensadores da atualidade a um público variado – que envolve visitantes, professores, servidores, calouros e veteranos – num espaço em que são privilegiadas a liberdade e a expressão. Para o reitor José Geraldo de Sousa Junior, a aula “completa o ciclo de recepção dos calouros com um encontro entre os saberes não conformistas – exatamente o que a Universidade precisa”.
A edição inaugural, em março de 2009, reuniu 1,3 mil pessoas para assistir o rapper brasiliense Gog e o teólogo Leonardo Boff, que celebraram a inquietude em três horas de debate público sobre a proximidade da academia com os grupos marginalizados da comunidade. Ainda em 2009, o cientista Miguel Nicolelis pediu aos alunos que não desistissem dos sonhos diante das críticas ou das dúvidas alheias. “As pessoas têm medo daqueles que continuam sonhando com o impossível. Se vocês tiverem medo, não tentem dissuadir o próximo que quer seguir esse caminho. Mesmo o fracasso vale a pena. Rejeitem a mediocridade”, recomendou.
A terceira edição da Aula trouxe à UnB o astrofísico Marcelo Gleiser, que percorreu uma viagem desde o Big Bang aos dias de hoje e também provocou os calouros da universidade a não serem passivos na sala de aula. No segundo semestre de 2010, a atriz Clarice Niskier e o físico Ennio Candotti propuseram aos alunos a união entre arte e ciência nas salas de aula. O encontro inusitado entre saberes tão diferentes resultou em um ponto comum: Clarice acredita na transgressão como meio para o crescimento pessoal, e Candotti vê na indisciplina uma ponte para o conhecimento.
Em 2011, foram convidados, no primeiro semestre, o professor e músico José Miguel Wisnik e poeta e jornalista Eric Nepomuceno. Nessa apresentação, uma das novidades foi a presença de alunos de ensino médio na platéia. Já a sexta edição recebeu o poeta Nicolas Behr e o ator Juliano Cazarré. O evento foi marcado por protestos de estudantes, que expressaram sua indignação diante dos problemas da universidade e do Brasil.
A mais recente Aula da Inquietação, em 2012, recebeu as histórias e experiências de Amyr Klink. O navegador e escritor falou sobre o tempo de estudante, os desafios e de como os conhecimentos acadêmico, popular e prático contribuíram para o desenvolvimento de seu trabalho. “Não é somente o que vocês vão aprender aqui, nem somente o que vocês ouviram dos seus avós que vai solucionar os problemas. É preciso somar ciência e saberes populares na construção do conhecimento”, defendeu.

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