Entrevista com Nicolás Maduro: O ‘governo de rua’ é uma revolução dentro da Revolução | ||||
Depois de ter fracassado em sua tentativa de deslegitimar ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, democraticamente eleito em 14 de abril, a oposição já prepara as eleições municipais do próximo 8 de dezembro. Nessa perspectiva, lançou recentemente, com a ajuda da direita internacional e seus habituais cúmplices midiáticos, o boato de que o presidente Maduro não teria nascido na Venezuela e, por conseguinte, como estipula a Constituição, sua eleição não seria válida.
Sobre essa nova campanha de intoxicação e vários
outros temas da atualidade, conversamos com Nicolás Maduro –a bordo do
helicóptero que nos conduz de Caracas a Taguanes (Estado Guárico)-, no mesmo dia
em que se cumpriam seus primeiros cem dias de governo como Presidente da
República Bolivariana.
Tradução: ADITAL
Ignacio Ramonet:
A oposição venezuelana lançou uma campanha, que encontra eco em alguns meios
internacionais, afirmando que o senhor não nasceu na Venezuela, mas, em Cúcuta,
Colômbia; e que possui dupla nacionalidade, o que, segundo a Constituição, o
invalidaria como Presidente. Que comentários essa acusação lhe
inspira?
Nicolás
Maduro: O objetivo dessa loucura lançada por um demente da ultradireita
panamenha é criar as condições para uma desestabilização política. Tentam
conseguir o que não puderam fazer nem através das eleições, nem dos golpes de
Estado, nem através das sabotagens econômicas. Estão desesperados. E se baseiam
na ideologia anticolombiana que a burguesia e a direita venezuelanas sempre
tiveram contra o povo da Colômbia.
A esse respeito, se eu houvesse nascido em Cúcuta
ou em Bogotá, me sentiria feliz de ser colombiano. Porque é uma terra fundada
por Bolívar. Se tivesse nascido em Quito ou em Guayaquil, também me sentiria
orgulhoso de ser equatoriano, porque é uma terra libertada por Bolívar; ou em
Lima, ou em Potosí, ou em La Paz, ou em Cochabamba, me sentiria feliz por ser
peruano ou boliviano; e se houvesse nascido no Panamá, terra de Omar Torrijos,
terra de dignidade, que fez parte da Gran Colômbia, de Bolívar, também me
sentiria orgulhoso de ser panamenho. Porém, nasci e me criei em Caracas, berço
do Libertador; nessa Caracas sempre convulsa, rebelde, revolucionária. E aqui
estou como Presidente. Essas loucuras serão recordadas como parte da crise de
desespero esquizofrênico na qual, às vezes, a direita internacional entra com o
objetivo de acabar com essa réstia de luz que é a revolução bolivariana.
Por outro lado, o
Presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, declarou recentemente que
foram descobertas conspirações contra o senhor, com intenção de atentar contra
sua vida.
Nicolás
Maduro: Sim, o ministro do Interior, Rodríguez Torres, o Presidente da
Assembleia Nacional, Diosdado Cabello e eu mesmo revelamos um dos planos de
assassinato que estava sendo preparado para o dia 24 de julho, aniversário do
nascimento de Simón Bolívar, e comemoração dos 190 anos da Batalha Naval de
Maracaibo. Dispunham de um conjunto de planos que conseguimos neutralizar e que
têm sempre sua origem na mesma direita internacional. Aí, aparece por exemplo, o
nome de Álvaro Uribe (ex-presidente da Colômbia), que tem uma obsessão contra a
Venezuela e contra os filhos de Chávez. Aparece também a velha máfia de Miami, a
de Posada Carriles, que conta com o apoio de importantes instâncias de poder nos
EUA. O governo de Barack Obama não quis desmontar essa máfia de Posada Carriles,
um terrorista convicto e confesso, perseguido pelas leis de nosso país porque
derrubou um avião de Cubana de Aviação, em outubro de 1976...
Posso garantir-lhe que continuaremos
defendendo-nos, neutralizando esses planos... e vencendo. Se eles alcançassem
seu objetivo, se criaria uma situação que não gostaria nem de pensar nela. A
quem menos lhe convém que algo assim aconteça é a direita venezuelana.
Desapareceria do mapa político de nosso país por 300 anos... Porque a Revolução
tomaria outro caráter, sem dúvida, muito mais profundo, muito mais socialista,
muito mais anti-imperialista. Espero que esses planos jamais tenham êxito,
porque repercutiria muito mal para eles. E eu veria tudo lá do céu...
O senhor pensa
que o fracasso da oposição em sua tentativa de desestabilização se deve à
política que o senhor tem impulsionado, ou a uma mudança de atitude da própria
oposição ante as eleições municipais do próximo 8 de dezembro?
Nicolás
Maduro: Deve-se, principalmente, à fortaleza institucional da democracia
venezuelana, e a decisão que tomei, apoiando-me nessa fortaleza, de derrotar o
mais cedo possível a tentativa de insurreição e de violência. Neutralizá-lo. Não
permitir que se estendesse. Eles tentaram uma espécie de insurreição nas
principais cidades, nos dias 15 e 16 de abril.
Qual foi o grau
de violência?
Nicolás
Maduro: Assassinaram 11 pessoas humildes, entre elas, uma menina e um
menino. E feriram a quase 100, dos quais pouco se fala. Teve gente que ficou com
sequelas para toda a vida.
A oposição mostrou seu verdadeiro rosto golpista.
Aparentava bons modos democráticos, porém, quando [em 5 de março], o comandante
Chávez faleceu, decidiu desconhecer o resultado das eleições e tentar impor pela
força –com o suposto apoio internacional dos EUA e de outros governos da
direita-, uma operação para desestabilizar a Revolução. Conseguimos
neutralizá-los e derrotá-los logo. Agora, não lhes resta outro caminho que
voltar a tentar, pela via eleitoral, ocupar espaços nas prefeituras. Nós os
obrigamos a que assim seja. Se não fosse por nossa decisão, de que a
Constituição seja respeitada, eles teriam levado nosso país a uma situação de
guerra civil.
Em recentes
declarações, o senhor alertou sobre fissuras na unidade da
Revolução. O senhor teme uma divisão do
chavismo?
Nicolás
Maduro: As forças divisionistas e dissolventes sempre ameaçaram qualquer
Revolução. As aspirações ao poder de grupos de pessoas são uma negação do
projeto da Revolução Bolivariana, que é de caráter socialista, e exige
desprendimento e sacrifício. O comandante Chávez foi presidente porque as
circunstâncias da história o colocaram nesse posto. E eu sou presidente, não por
ambição individual ou porque represento um grupo econômico ou político; sou
presidente porque o comandante Chávez me preparou, me designou e o povo
venezuelano me ratificou em eleições livres e democráticas.
Assim, que todas essas forças dissolventes sempre
existirão. Porém, a Revolução tem a capacidade moral, política, ideológica para
sobrepor-se a qualquer tentativa de divisão de suas forças. Eu disse isso no
Llano venezuelano, porque estava vendo com meus próprios olhos, lá mesmo, diante
de mim, uma pessoa que se diz chavista, porém, por debaixo dos panos, é
financiado pelos latifundiários, e ele tem um discurso chavista para dividir.
Não é impossível que quando esse indivíduo constate que não é designado pela
Revolução como candidato à prefeitura desse município, se lance por sua conta...
Estamos em boas condições para conseguir candidaturas unitárias em quase todos
os municípios do país; e teremos que fazer um grande esforço para derrotar as
forças dissolventes desses setores que se dizem chavistas; mas, no final, acabam
sendo aliados da contrarrevolução.
Em relação à
prática governamental precedente, o senhor introduziu várias mudanças: crítica
da insegurança, denúncia da corrupção e, sobretudo, o que chama o "governo de
rua” Por que sentiu a necessidade de insistir nesses temas? E que balanço faz do "governo de rua”?
Nicolás
Maduro: Em primeiro lugar, o "governo de rua”, estabeleceu nessa nova
etapa um método para que exista uma direção coletiva da Revolução. Segundo:
criou-se um sistema de governo onde não há intermediários entre o poder popular
local e a instância de governo nacional. Trás solução para problemas concretos;
porém, sobretudo, contribui à construção do socialismo, das comunas, de uma
economia socialista, e a consolidação de um sistema público de saúde integral,
gratuito e de qualidade, e de um sistema educativo público e gratuito de
qualidade... E o "governo de rua” é uma revolução dentro da Revolução.
É também uma
maneira de combater o burocratismo?
Nicolás
Maduro: De vencê-lo. Propondo outro sistema. Porque os modelos de governo
que herdamos expressam a forma de governar do Estado burguês, ele mesmo herdeiro
da colônia, na América Latina. O presidente Chávez os derrotou mediante as
Missões que constituíram um novo modelo de gestão das políticas públicas. Nós,
estamos agregando o "governo de rua” às Missões, que, poderíamos dizer, é uma
instrução direta do comandante Chávez. Ele nos ordenou, a Elías Jaua que era
vice-presidente na época e a mim, que era vice-presidente político, que fôssemos
construindo um sistema de governo regionalizado 0”popular”, dizia ele- e eu lhe
pus "governo de rua”. Todas são instruções e orientações dentro da filosofia de
um modelo socialista no qual o poder não seja das elites –nem elites burguesas,
nem l]novas elites que se burocratizam ou se aburguesam-. Queremos que o poder
esteja democratizado, que seja uma vacina contra o burocratismo, contra o
aburguesamento e, além do mais, que nos permita alcançar a "eficiência
socialista”.
Se a oposição
ganhar as eleições municipais de 8 de dezembro próximo, é provável que chame a
um referendo revocatório em 2015. Como o senhor vê essa perspectiva?
Nicolás
Maduro: Estamos preparados para todos os cenários. Sempre diremos a
verdade ao povo. Se a oposição conseguisse uma boa votação no 8 de dezembro,
tentará aprofundar a desestabilização para dissolver nossa pátria, acabar com a
independência e acabar com a Revolução do comandante Chávez, que retomou o
conceito de Republica Bolivariana. Vão impor cenários de desestabilização
violenta em primeiro lugar e os EUA tentarão acabar com os níveis de
independência e de união que a América Latina possui hoje.
Temos uma grande responsabilidade, porque estamos
defendendo um projeto que pode tornar possível outro mundo em nossa região e
pode contribuir para criar um mundo multipolar, sem hegemonias econômicas,
militares, nem políticas do imperialismo estadunidense. Boa parte do nascimento
de outro mundo onde se respeitam os direitos dos povos do Sul –e, inclusive, dos
povos da Europa, para que a Europa livre-se do neoliberalismo-, depende de que,
na América Latina, triunfem definitivamente as ideias de constituir um bloco de
força e de equilíbrio para consolidar a ideia de que já não somos nenhum "pátio
traseiro/quintal” dos Estados Unidos. Tudo isso depende, em boa medida, do que
aconteça por aqui.
Como o senhor
explica o resultado da oposição no passado 14 de abril, e como pensa ganhar o
próximo 8 de dezembro?
Nicolás
Maduro: Há um eleitorado que sempre votou indistintamente na oposição.
Porém, no dia 14 de abril, uma boa parte dos que não votaram em nós o fizeram
por descontentamento, por coisas mal feitas, problemas acumulados... No entanto,
esses eleitores nunca acompanharam as aventuras golpistas e antibolivarianas da
direita. A esses venezuelanos, nós, permanentemente, dizemos que estamos na rua,
trabalhando para melhorar as coisas. Eles sabem que não tem sido fácil. E que a
epopeia maior foi, na véspera do 14 de abril, sobrepassar a tragédia histórica
da morte do comandante Chávez; superar o luto coletivo. Quando uma pessoa entra
em luto, pode cair em estado de desesperança; não crer em nada. Boa parte do
povo venezuelano entrou em luto profundo. E os especialistas em guerra
psicológica que acossam nosso país se aproveitaram desse momento e dessa
fragilidade para atacar duramente... Por isso, nossa vitória no dia 14 de abril
foi realmente heroica.
O que estamos realizando –o "governo de rua”; a
recuperação da economia; a atenção a temas intransferíveis, como a segurança
cidadã, a corrupção...-. Isso nos dará forças para a grande vitória do 8 de
dezembro. E será a garantia de que se abre um novo caminho para a construção do
socialismo do século XXI.
Até onde o senhor
pensa chegar em sua luta contra a corrupção?
Nicolás
Maduro: Até as últimas consequências. Vamos com tudo! Enfrentamos uma
direita muito corrupta, herdeira da IV República descomposta e em decadência.
Porém, também estamos enfrentando a corrupção que fez ninho no campo
revolucionário ou no seio do Estado. Não haverá trégua! Constitui uma equipe
secreta de investigadores incorruptíveis que já estão destampando vários casos.
Temos alguns detidos de mais alto nível e vamos seguir atacando forte. Serão
julgados e irão para onde devem ir: para a prisão!
Como o senhor vê
a situação da economia venezuelana? Vários análises alertam sobre o elevado
nível da inflação.
Nicolás
Maduro: A economia venezuelana está em transição para um novo modelo
produtivo, diversificado e ‘socialista do século XXI’, no marco da construção de
um novo quadro econômico constituído pela integração sul-americana e
latino-americana. Não devemos esquecer que, agora, somos membros do Mercosul;
somos membros da Alba (Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América) e
lideramos Petrocaribe. Toda essa massa geográfico-demográfico-econômica reúne 24
países do continente, o que poderia representar quase a quarta economia do
mundo... Temos que transformar a economia venezuelana e conectá-la com o
desenvolvimento desse novo marco econômico, e, ao mesmo tempo, integrar-nos, em
situação vantajosa, na economia mundial. Não de dependência. Por isso digo que
estamos em transição.
Sobre a inflação, lhe direi que padecemos um
ataque muito forte, especulativo, contra nossa moeda, e estamos superando. Há
também uma sabotagem ao abastecimento de vários produtos. Tudo isso produz
inflação. Porém, já começamos a controlar, a equilibrar; e estou certo de que
superaremos essa situação no que resta do segundo semestre.
Vamos estabilizar a moeda. Já começamos a
estabilizar o abastecimento; porém, a chave fundamental para que saiamos desse
modelo rentista, dependente, é a diversificação de nossa produção. Estamos
realizando grandes investimentos em setores chave da produção de alimentos, da
agroindústria e da indústria pesada. Estamos atraindo capital internacional que
traga divisas e tecnologia. Recentemente, fizemos um giro pela Europa e estamos
otimistas de que venham capitais da França, da Itália, de Portugal... Desejamos
que venha capital do Brasil, da Índia, da China, com sua tecnologia para
desenvolver a indústria intermediária na Venezuela, diversificando-a. Para que a
Venezuela tenha motores próprios e variados e não dependa somente do petróleo
que, claro, constitui um motor poderosíssimo para os próximos 50, 80 anos.
Poderosíssimo. Não esqueçamos que a Venezuela dispõe de mais importantes resevas
de petróleo do planeta e possui a quarta reserva de gás. A Venezuela é uma
economia com muito poder financeiro e econômico. O que veremos, sobretudo a
partir de 2014, é uma recuperação do nível de estímulo e crescimento da economia
venezuelana.
Como se explicam
os problemas de desabastecimento, que têm sido muito criticados pela imprensa
internacional?
Nicolás
Maduro: O desabastecimento faz parte de uma estratégia de "guerra
silenciosa”, onde atores políticos, acompanhados por atores econômicos nacionais
e internacionais, vendo o estado de gravidade do comandante Chávez, entre
dezembro de 2012 e março desse ano, começaram a atacar pontos chave dos
processos econômicos venezuelanos. Alentados também por alguns erros cometidos
no sistema de câmbio de divisas na Venezuela, que já foram corrigidos. Essas
forças antibolivarianas, pouco a pouco, começaram a golpear o abastecimento dos
produtos que importamos. Além disso, para explicar a escassez de alguns
produtos, devemos levar em consideração que o poder aquisitivo dos venezuelanos
não para de aumentar. Temos apenas 6% de desemprego e o salário mínimo urbano
aqui é o mais alto da América Latina. Outro ponto importante, reconhecido pela
FAO (Organização das nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, siglas em
inglês), somos o país do mundo que mais tem feito para combater a fome. Tudo
isso -é muito importante considerar- gerou uma capacidade de consumo da
população que está crescendo a cada ano acima de 10%. O consumo cresce em um
ritmo superior à capacidade de produção do país e à capacidade dos mecanismos
que tínhamos para abastecê-lo com importações.
O comandante Chávez, na última vez que falei com
ele pessoalmente, no dia 22 de fevereiro passado, quando avaliamos a situação
econômica e falamos sobre o desabastecimento, me disse: "Desatou-se uma ‘guerra
econômica’ para aproveitar minha doença e a gravidade de minha situação e a
possibilidade de chegarmos às eleições presidenciais. Nesse caso, a burguesia
tentaria criar circunstâncias econômicas difíceis para, com o apoio imperial,
dar o golpe final na Revolução Bolivariana”.
Nós já estamos saindo dessas circunstâncias. Ao
povo venezuelano jamais faltou o alimento. Nunca. Pode ir em qualquer bairro
popular, desses que eu conheci nos anos 80, onde as crianças eram famélicas,
onde as pessoas comiam uma vez ao dia e, às vezes, comida para cachorro... O
bairro mais humilde que encontrem no país, onde quiser, pode abrir a despensa e
verá carne, arroz, óleo, leite... O povo tem garantido o alimento e isso nas
piores circunstâncias da ‘guerra econômica’ que nos fizeram.
Por isso, temos estabilidade social e política.
Agora, essa guerra é muito diferente daquela de onze anos atrás. Saía o chefe da
patronal, Carmona Estanga, e chamava a paralisação geral. Saía o chefe da velha
burocracia sindical, Carlos Ortega, e chamava à paralisação. Eles davam a cara,
assumiam a sabotagem da economia e houve grandes desabastecimentos que quase
provocam uma explosão social em 2002-2003. Agora, não. Agora é a ‘guerra
silenciosa’, uma ‘guerra suave’, ‘diplomacia suave’, segundo consignas de
Washington. Em 2002-2003, governava George W. Bush, que era brutal e dizia: "Vou
invadir!” e invadia; "Vamos derrocar tal governo” e o derrocava. Agora, é o
suave, o escondido, e aparece a direita fascitoide que vai sorrindo e dizendo:
"Esse governo é incapaz porque não pode abastecer as cidades”. Quando são eles
os que estão por detrás de um plano, com agentes internacionais no campo
econômico para causar dano ao país. Porém, vamos superando e vamos nos
vacinando. No futuro, lhes será impossível arremeter com esses mesmos
mecanismos.
En la economía
¿qué papel le ve usted al sector privado?
Nicolás Maduro: Históricamente, el
sector privado en Venezuela tiene poco desarrollo. Nunca hubo burguesía
nacional. El sector privado, en lo fundamental, se desarrolló cuando surge el
petróleo, como un factor más bien vinculado a la apropiación de la renta
petrolera. Casi todas las grandes riquezas de la burguesía venezolana están
vinculadas a la manipulación del dólar, sea para importar productos (la
burguesía comercial) o sea para apropiarse de la renta y colocarla en cuentas de
grandes bancos en el exterior. Así que, en cien años, no tuvimos una burguesía
productiva como la tuvo Brasil por ejemplo, o Argentina. Ahora es cuando estamos
viendo resurgir sectores privados con proyectos vinculados a la verdadera
producción de riquezas para el país.
En el modelo socialista venezolano, el sector
privado tiene un papel que jugar en la diversificación de la economía. Desde
siempre, el Comandante Hugo Chávez favoreció las relaciones con el sector
privado, tanto en la pequeña, como en la mediana o la gran empresa, favoreció el
desarrollo de empresas mixtas y la venida de capital privado internacional. Hay
un pensamiento económico que, en Venezuela, se ha desarrollado para seleccionar
en qué área es necesaria la inversión extranjera. Qué capital puede venir y en
qué condiciones. Por ejemplo: aunque nuestro petróleo está nacionalizado,
existen modalidades diversas que permiten inversiones, en la Franja del Orinoco,
de todo el capital mundial; allá hay empresas de todo el planeta, empresas
mixtas: 40% capital internacional, 60% Venezuela. Les cobramos los impuestos
debidos –antes se cobraba el 1%, ahora se les cobra el 33%. Venezuela ofrece
todas las garantías constitucionales para recibir capital internacional.
¿Se mantendrá el
control de cambio?
Nicolás
Maduro: El control de cambio es un sistema exitoso. En febrero pasado,
para defendernos de un ataque brutal contra la economía y contra la moneda,
tuvimos que adecuar, digamos, el bolívar. Venezuela puede manejarse con este
tipo de cambio que tenemos, perfeccionándolo. Debemos fortalecer nuestra moneda,
vacunarla contra los ataques especulativos y perfeccionar el sistema de manejo
de las divisas convertibles.
Usted me habló
antes de ‘eficiencia’ ¿Qué progresos ha constatado en materia de ‘eficiencia’,
en particular en el campo de la economía?
Nicolás
Maduro: En primer lugar, una mejora sustantiva del sistema del Cadivi
[Comisión de Administración de Divisas],
el organismo que maneja el control de cambio en Venezuela. Realmente ha mejorado
mucho en los controles previos, los controles posteriores y la asignación de las
divisas necesarias para los agentes económicos. Otro elemento muy importante ha
sido la creación del Sicad [Sistema
Complementario de Administración de Divisas], un mecanismo de subastas
que está funcionando de manera perfecta, pero al que, además, tiene ahora acceso
el público en general. Cualquiera puede ir al Sicad. La gente común y corriente
puede obtener divisas para su vida normal, sin necesidad de pasar por ninguna
alcabala. Esos son progresos concretos.
Pero también hemos constituido un Estado Mayor
para la dirección de la economía, dirigido por Nelson Merentes, el
vicepresidente de Finanzas. Allí están todos los ministros de los sectores
económicos. Cada ministro tiene que supervisar, apoyar y dirigir cada rubro que
se produce en Venezuela. Hemos seleccionado 58 rubros fundamentales. Tenemos un
seguimiento permanente -pudiera ser hasta diario, ahora es semanal- de cómo va
la producción de cada uno de esos productos, qué inversiones hacen falta, qué
trabas tienen para su comercialización interna... O sea, vamos logrando un
mecanismo clave para gobernar la economía. De igual modo que se gobierna, a
nivel político, un país, hay que gobernar la economía. Sobre todo si nos estamos
planteando construir el socialismo.
El capitalismo es el reino de la anarquía, y
cuando hay anarquía en lo económico gobierna quien tiene más poder: el capital
financiero. Hoy ¿quién gobierna realmente Europa? El capital financiero. En
Europa, este capital financiero está desmontando el Estado de bienestar que se
constituyó después de la Segunda Guerra Mundial. En Venezuela no, estamos
construyendo un gobierno económico para edificar el socialismo ¿Para qué debe
servir la economía? Para garantizarle a la ciudadanía la salud, la alimentación,
la vivienda digna, la educación gratuita... ¿A quién le debemos estos derechos
universales? A la Revolución Francesa y a la Ilustración que llegaron a nuestra
tierras, traducidas al mestizaje latinoamericano, de la mano de Simón Rodríguez,
y que defendió Bolívar. Es parte del patrimonio más grande de la humanidad. Pero
el capital financiero niega todo eso.
En estos cien
días de gobierno, nuestra impresión es que la principal crisis de política
exterior que conoció Venezuela fue con Colombia. ¿Cómo están actualmente las
relaciones con Bogotá?
Nicolás
Maduro: En estos cien días, hemos logrado consolidar todo el eje de
relaciones estratégicas, ante la construcción de una nueva geopolítica regional
y de un nuevo sistema de fuerzas para garantizar la nueva independencia del
continente. Las diferencias con Colombia han sido tratadas, evidentemente, a
través del diálogo. Hemos trazado las líneas de conducta para su superación. Yo
confío en la palabra del presidente Juan Manuel Santos, y espero que logremos lo
que conversamos. Yo confío en que vamos a tener una relación de coexistencia
pacífica y positiva entre dos modelos: un modelo socialista, de revolución
cristiana del siglo XXI, igualitario, de democracia popular como el venezolano,
y otro modelo que no voy a calificar, pero que es distinto al nuestro. Estamos
obligados a coexistir como hermanos siameses. Hemos demostrado que se puede
coexistir y ojalá los sectores políticos y económicos dominantes en Colombia y
el presidente Santos al mando del gobierno, entiendan que la coexistencia y el
respeto son básicos para el desarrollo de nuestros dos países.
¿Cómo van las
relaciones con Washington?
Nicolás
Maduro: Quisiera decir, primero, que Barack Obama es un presidente
circunstancial. Es una circunstancia en el seno de la élite que gobierna Estados
Unidos ¿Por qué llega Obama a la presidencia? Porque convenía a los intereses
del complejo industrial militar-financiero-comunicacional que dirige Estados
Unidos con un proyecto imperial. Quien conozca en profundidad la historia de la
fundación de Estados Unidos y de su expansionismo, reconocerá que es el imperio
más poderoso que ha existido, con un proyecto de dominación mundial. Sus élites
eligieron a Obama en función de sus intereses, y han logrado parte del objetivo
que se plantearon: hacer que el país aislado, desprestigiado que era Estados
Unidos en la época de George W. Bush, se convirtiera, gracias a Obama, en una
potencia que posee de nuevo capacidad de influencia y de dominación. Si no,
veamos el caso de Europa, sometida a los dictámenes de Washington como nunca
antes.
Lo que pasó con el presidente de Bolivia Evo
Morales, cuando cuatro Estados europeos le negaron el acceso a su espacio aéreo,
es una demostración gravísima de cómo, desde Washington, se dirige a los
gobiernos de Europa. Es muy desconcertante realmente. Yo no sé si los pueblos de
Europa saben eso, porque a veces, con el control comunicacional que hay, estas
noticias se van banalizando y se van dejando de lado. Pero es muy grave. Obama
ha logrado que el Imperio crezca en influencia política.
Los Estados Unidos van preparándose hacia una
nueva etapa que es crecer en dominación militar y económica. En América Latina,
su proyecto es revertir los procesos progresistas de cambio para volver a
convertirnos en su patio trasero. Por eso están retomando –con otro nombre– el
proyecto del ALCA [Área de Libre Comercio de
las Américas], para dominarnos económicamente y retomar los mismos
métodos del pasado. Fíjese, bajo el mandato de Obama: golpe de Estado en
Honduras dirigido desde el Pentágono; intento de golpe de Estado contra el
presidente de Ecuador Rafael Correa, teleguiado por la CIA; golpe de Estado en
Paraguay operado por Washington para sacar al presidente Fernando Lugo... Que
nadie se llame a engaño, si los Estados Unidos viesen que hay condiciones
favorables, vendrían de nuevo a llenar de oscuridad y de muerte América
Latina.
Por eso la relación del gobierno de Obama con
nosotros es esquizofrénica. Ellos piensan que nos pueden engañar con la
‘diplomacia blanda’; que nos vamos a dejar dar el ‘abrazo de la muerte’.
Nosotros lo hemos planteado muy claro: ustedes allá con su proyecto imperialista
y nosotros acá con nuestro proyecto de liberación. La única forma de que haya
una relación estable y permanente es que nos respeten. Por eso he dicho: "Tolerancia cero con el irrespeto gringo y de sus
élites. No lo vamos a tolerar más”.
Si nos siguen agrediendo, responderemos a cada
agresión con mayor fortaleza. Ha llegado la hora de la tolerancia cero.
En la reciente Cumbre del ALBA, usted ha propuesto una articulación ALBA-Mercosur-Petrocaribe. ¿Es una respuesta a la Alianza del Pacífico (1)?
Nicolás
Maduro: No. Es una necesidad histórica. Tenemos que consolidar los
espacios económicos logrados. Mercosur ha venido viviendo una transformación muy
positiva y ahora, con la incorporación de Venezuela, la próxima incorporación de
Bolivia y la posible incorporación de Ecuador, comienza Mercosur a ocupar un
espacio vital en Suramérica.
Petrocaribe es una realidad maravillosa que ha
permitido la estabilidad energética, económica, financiera y social de 18 países
del Caribe. Y el ALBA es una vanguardia donde ha habido ensayos económicos como
el SUCRE [Sistema Único de Compensación
Regional], una unidad de cambio latinoamericana, o como el Banco del ALBA
y otros ensayos como las ‘empresas grannacionales’ que han ido adquiriendo
experiencia y espacios.
Ha llegado el momento de acercar todos los
espacios ya conquistados para definir un nuevo modelo económico. Ha llegado la
hora de unir ese inmenso espacio Mercosur-ALBA-Petrocaribe que representaría,
repito, casi la cuarta economía del mundo, en un espacio nuestro, y no de falso
libre comercio ¡Porque el libre comercio es falso! ¿Cree usted posible la libre
circulación, en los mares, de un tiburón y una sardina sin que el tiburón se
coma a la sardina? Imposible. El libre comercio es como cambiar pepitas de oro
por espejitos, sistema con el cual nos colonizaron hace 500 años. Tenemos que
consolidar una zona económica complementaria, diversa, desarrollada, con sus
mecanismos financieros, monetarios, y convertirnos en un poderoso bloque
económico. Y, a partir de ahí, tener relaciones con Rusia, la India, China,
Sudáfrica; redefinir nuestras relaciones comerciales y económicas con Europa,
con Estados Unidos, donde nosotros no volvamos a ocupar el papel de colonia.
¿Cómo ve usted
las relaciones con la Unión Europea?
Nicolás
Maduro: La Unión Europea ha perdido la oportunidad de convertirse en una
gran potencia equilibradora del mundo. Todos los pueblos del planeta aspirábamos
a que la Unión Europea fuera la fuerza de equilibrio del mundo. Pero parece que
no. El capital financiero y los viejos complejos colonialistas de las élites que
dirigieron Europa durante 300 años, parece que se van a imponer a la conciencia
democrática y democratizadora de la mayoría de los pueblos de Europa. ¿Qué
deseamos de la Unión Europea? Que cambie su política, que deje de estar de
rodillas ante Washington, que se abra al mundo y que vea a América Latina como
una gran oportunidad para volver a restablecer el Estado de bienestar social y
para establecer relaciones con nosotros de igualdad, de prosperidad, de
crecimiento. De manera natural, podemos desarrollar una alianza Unión
Europea-América Latina y el Caribe para el desarrollo conjunto. Estamos
preparados para eso. Entendemos perfectamente la cultura occidental, somos parte
de ella, aunque tenemos nuestras particularidades mestizas. Pero las élites
europeas no nos entienden. Ojalá eso se supere.
El Presidente
Chávez quería hacer de Venezuela un "país potencia” en un "mundo multipolar”
¿sigue siendo esa la línea, en materia de política exterior?
Nicolás
Maduro: Claro. En su corta vida, Chávez logró no sólo rescatar a Bolívar
como idea, inspiración y símbolo, sino que lo convirtió en una estrategia. Logró
hacer que, en el mundo, coexistan dos modelos: el capitalista-neoliberal, y el
modelo bolivariano-independentista-chavista, de justicia, de socialismo. En todo
el planeta hoy se están debatiendo esos dos proyectos: el del regreso de la
hegemonía unipolar del imperialismo estadounidense; o el modelo de un mundo
multipolar y multicéntrico.
El Comandante Chávez configuró una política de
desarrollo de ejes de fuerza, de núcleos de fuerza, de anillos de fuerza para
desmontar el mundo controlado por el imperialismo. Y sobre todo para construir
un nuevo sistema de relaciones internacionales. La humanidad no podrá existir si
no se desarrolla esa política internacional. Lo otro es cruzarse de brazos y
rendirse a que el Imperio reconquiste el mundo, lo vuelva a dominar y nos
esclavice más temprano que tarde. No lo vamos a permitir.
Nota:
(1) Bloque comercial constituido por Chile,
Colombia, México y Perú.
[Entrevista realizada el 31 de julio de 2013, en
el número Nº: 215, Septiembre 2.013 de Le Monde Diplomatique].
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O Direito Achado na Rua: nossa conquista é do tamanho da nossa luta
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