Gladstone Leonel da
Silva Júnior[1]
Valência é uma cidade que merece
ser admirada. Ela traz de tudo, um pouco. A beleza arquitetônica mescla o
antigo ao moderno sem perder a harmonia.
Cada vez tenho uma impressão
maior do vigor da influência árabe na Espanha. Pudera isso refletir também na
reprodução cultural e educacional do povo, reconhecendo a força civilizatória
do mundo árabe.
Mais elementos da cidade impressionam.
Vou falar do jardim de Túria. Nele existem frutas, arte, flores, gente. Podem
me questionar:
– Mas seria isso somente um
jardim?
Não tal como concebemos. De
acordo com minha imperfeita impressão métrica são uns 300 metros de largura e
uns 07 quilômetros de extensão cortando, ao meio, toda a cidade de Valência e
desembocando em museus modernistas como o Ciudad de las Artes y la Ciencia e o
Hemisferic. Algo incrível! Imagine Belo Horizonte ou São Paulo cortado ao meio
por uma natureza viva, cultura, pessoas, animais e bicicletas.
Além desses atrativos, do final
desse jardim, em uma rápida caminhada, se chega ao mar mediterrâneo. No verão
europeu ele torna-se elemento essencial para o entretenimento e bem estar. Na
praia vários seios desnudos logo chamam a atenção de um mineiro desavisado. O
repentino espanto, por não observar essa prática nas praias brasileiras,
transforma-se em um saudável reconhecimento da diferença cultural para além da
construção moral. Nada que esse mineiro recém-chegado não se acostumasse.
A Universidade de Valencia também
tem o seu destaque. Não tanto pela estética, mas por sua construção social. A
impressão que passa é o permanente contato da mesma com os debates da
sociedade, para além da cidade. Não por acaso, encontro professores e
estudantes engajados com os problemas Espanhóis, análises da crise, envolvidos
em demandas autonômicas e independentistas, refletindo e assessorando o
constitucionalismo latino-americano dentre outras tantas questões. Nesse
ambiente envolvente com uma boa estrutura, os estudos vão ganhando
consistência.
Poderia falar muito mais, do quão gostoso são
os frutos do mar (principalmente o polvo cozido temperado com pimenta e
azeite), da arte de se fazer a paella valenciana, da surpresa em ouvir as
pessoas daqui falando valenciano e não castelhano, de sentir a rivalidade entre
Levante F.C. X Valencia C. F. um pouco como sinto entre Cruzeiro X Atlético-MG,
de cantar e “bailar” músicas do Enrique Iglesias como se estivesse ouvindo um
samba de Clara Nunes ou Beth Carvalho.
Uma singular experiência de vida
que me agrada, sobretudo, tendo a clareza que o encantamento tem prazo de
validade. O conforto em saber que logo me juntarei aos meus é único. Seja para
compartilhar tudo isso, para continuar fomentando um direito contra-hegemônico,
para construir outros projetos de vida e de sociedade, para fazer um samba do
peleja, para jogar capoeira, para ver o Cruzeirão campeão, para estar com o meu
povo tendo a convicção de que são as minhas raízes que me direcionam a retornar
ao Brasil. Sendo assim, em breve o farei!
Valência, Espanha, Outubro de
2014.
[1]
Doutorando
em Direito, Estado e Constituição pela Universidade de Brasília (UnB). Realiza
estágio doutoral (doutorado-sanduíche) na Universidade de Valencia, Espanha.
Advogado da RENAP. Ele integra o coletivo Diálogos Lyrianos.
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