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sexta-feira, 31 de maio de 2024

 Direitos Humanos

Seminário na ENFF realiza formação comunitária voltada aos Direitos Humanos

Evento discute políticas fundiárias, direitos humanos e a luta pela Reforma Agrária no Brasil
Foto: Erica Vanzin

Por Fernanda Alcântara
Da Página do MST

Termina nesta quarta (29) o seminário inaugural de “Formação Comunitária em Direitos Humanos”, que reuniu importantes lideranças e participantes para discutir os desafios atuais e as possíveis soluções para as questões fundiárias e de direitos humanos no Brasil. Realizado através de uma parceria entre a Universidade de Brasília (UnB), o Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) e o Movimento dos Trabalhadores/as Rurais Sem Terra (MST), com apoio do Governo Federal, este é o primeiro de cinco seminários regionais que acontecem nas cinco grandes regiões do país.

Ayala Ferreira, do Setor de Direitos Humanos do MST, destaca que o projeto foi inspirado em experiências anteriores na região Nordeste, focando na formação de base para aqueles que vivem nos acampamentos e assentamentos da Reforma Agrária Popular e atuam na mediação de conflitos. Segundo Ayala, “há algum tempo atrás, apareceu essa oportunidade junto com a UnB, em parceria com o Ministério de Direitos Humanos e Cidadania e através das emendas parlamentares do deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) e do deputado Salomão (PT-ES). Estamos agora englobando o Brasil e vamos fazer cinco seminários regionais, começando com esse na região Sudeste”.

A mesa de abertura contou com a fala inicial de Ney Strozake, do Setor de Direitos Humanos do MST, e Orlando Silva, deputado federal pelo PCdoB. Orlando enfatizou a importância do histórico dos movimentos sociais e populares e elogiou a organização do MST na construção de propostas para o país a partir da Reforma Agrária Popular.

Deputado Federal Orlando Silva. Foto: Erica Vanzin

O primeiro debate trouxe o cenário atual da política fundiária, com a presença de Sabrina Diniz, do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA-SP), Sandra Maria da Silva Andrade, da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ), e Ricardo Baraviera, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB).

Diniz ressaltou a necessidade de conhecimento dos processos para que os movimentos sociais saibam onde exercer pressão para avançar nas suas causas.  “Nós retrocedemos 50 anos em 5, e isso é difícil de recuperar […], mas a única forma de garantir estes direitos e avançar para desfazer os retrocessos feitos nos governos anteriores é com informações e conhecimento”.

E complementou: “esses seminários são fundamentais para que as pessoas entendam as nossas limitações, mas que não se paralisem por isso. É importante a gente colocar todas essas limitações orçamentárias, burocráticas, judiciais e entender como funciona e o porque que alguns projetos não saem, se é falta de vontade política, e às vezes é, mas também se é um impedimento de outro setor”, afirmou Diniz.

Neste mesmo sentido, Sandra Maria da Silva Andrade, em participação por videoconferência direto do quilombo, falou sobre os desafios enfrentados pelos quilombolas, destacando a violência constante contra seus corpos e territórios, citando a morte de mãe Bernadete, assassinada em agosto de 2023. Ricardo Baraviera, da APIB, também abordou a violência no campo, ressaltando que os movimentos populares ali presentes são “movimentos irmãos”, pois partem de uma luta que muitas vezes é territorial, é cultural, e que resiste mesmo diante das violências.

O Professor doutor José Geraldo de Sousa Júnior, da UnB, participou da mística da ENFF e realizou o plantio de uma muda de aroeira antes de sua conferência inaugural sobre “Direitos Humanos na Atualidade”. Esta foi a primeira visita do professor à Escola, e fez menção à uma passagem do pesquisador durante sua passagem na CPI contra o MST, realizada no ano passado. “Como é bom estar em um debate em que as pessoas têm cognição”, lembrou.

Foto: Suzana Motta

José Geraldo refletiu sobre o princípio de função social da terra, introduzido na Constituinte de 1988, e como este princípio é questionado atualmente no Congresso Federal. Ele destacou que os direitos humanos são uma disputa por posições democráticas e constitucionais, e que a Constituição Federal de 1988 foi construída pelos movimentos sociais.

“Os Direitos Humanos não são as declarações, não são os monumentos produzidos como símbolos, embora estes tenham indícios. […] Direitos Humanos estão nas ideias, mas ele só se concretiza enquanto disputa por posições democráticas e posições constitucionais. É, em suma, ação política. E por isso que nossa constituição é um instrumento importante, ela foi construída pelos movimentos sociais”, afirmou em discurso.

A história não é uma coisa que vai de cima pra baixo, para ter avanços e recuos. Ela é permanentemente contraditória. E se faz aos trancos e barrancos, se faz com dramas e abatimentos de protagonismos, mas ela se transforma na ação política e nisso, transforma o mundo”

– José Geraldo de Sousa Júnior, da UnB

Nesta terça-feira (28), o seminário contou com conferências que debateram temas como os massacres no campo, conflitos e emergências climáticas, criminalização e formas de resistência no campo, e a participação e os impactos do Sistema de Justiça no acesso à terra e território. O evento se encerra nesta quarta (29), com uma mesa de reflexão sobre as relações étnico-raciais e de gênero na luta por terra e território, com representantes da CONAQ, APIB e MST.

Ayala Ferreira destacou também a importância de reunir pessoas para refletir sobre a situação atual do campo, mobilizando membros do MST, movimentos populares para abordar o reconhecimento e a demarcação dos territórios indígenas e quilombolas, e a Reforma Agrária como dimensões fundamentais para superar as desigualdades no Brasil.

Foto: Erica Vanzin

“Estamos muito felizes com essa perspectiva de reunir as pessoas para sonharmos coletivamente um outro Brasil, que passa pela democratização do acesso à terra e pelo reconhecimento das terras tradicionais indígenas e quilombolas”, afirmou Ayala.

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