Memórias e Afetos [recurso eletrônico]
Lido para Você, por José Geraldo de Sousa Junior, articulista do Jornal Estado de Direito.
Memórias e Afetos [recurso eletrônico] / organizadores: Leides Barroso Azevedo Moura, Marisete Peralta Safons, Nanahira de Rabelo e Sant’Anna, Gabriel Corrêa Borges e Cristina Flores Garcia. – Brasília: Universidade de Brasília, 2022. 239 p.: il. Modo de acesso: World Wide Web: <http://dasu.unb.br/>. ISBN 978-65-998701-0-1
Foi lançado no dia 5/9, em evento promovido pelo CEAM – Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares, da UnB – Universidade de Brasília, o e-book Memórias e Afetos. 60 Anos da Universidade de Brasília. Os organizadores e organizadoras informam que um extenso programa de divulgação, no mesmo estilo do lançamento, terá sequência para melhor divulgação da obra e do projeto que a tornou possível.
No Prefácio, assinado pela Reitora Márcia Abrão, junta-se à motivação os fundamentos do projeto e da obra:
Este é um livro de perguntas e respostas sobre o lugar da Universidade de Brasília na vida de pessoas que passaram algum tempo por aqui, umas mais, outros menos. A história da UnB afeta trajetórias, transforma biografias.
Técnicos, professores e estudantes que tramaram na própria história laços de afeto com a instituição que agora completa 60 anos.
A UnB soube envelhecer, porque soube se reinventar. Tem orgulho do passado, sobre o qual não se cansa de refletir, mas segue adiante de braços dados com as oportunidades do presente e de olho muito atento ao futuro.
O aprendizado de vida da Universidade se confunde com a sabedoria de todos e todas que deixaram ao menos uma gota de suor e outra de felicidade nesses campi espalhados pelo Distrito Federal.
Com a marca do Grupo de Trabalho “Envelhecimento Saudável e Participativo”, da Diretoria de Atenção à Saúde da Comunidade (DASU) vinculada ao Decanato de Assuntos Comunitários (DAC) e ao Projeto de Extensão de Ação Contínua “Construindo uma universidade para todas as idades”, este livro é a prova do que a Universidade de Brasília busca oferecer em suas ações contínuas.
Fico muito honrada de estar ao lado, nestas páginas, de tanta gente querida que dedicou e dedica seus esforços diários para o engrandecimento da UnB.
Sigamos em frente para aprender cada vez com a velhice, para fazer desta etapa momento de celebração da alegria de viver, reconhecendo os próprios valores e reverberando no cotidiano o prazer de compartilhar com dignidade e solidariedade o lugar de trabalho e estudos. Viva a UnB, que sabe envelhecer!
Ainda em disposição prefacial, o Decano de Assuntos Comunitários da UnB, professor Ileno Izídio, acentua essa condição do envelhecimento, que não significa perder a dimensão da vida ativa e preservar lugares de dignidade para continuar solidário com o mundo:
Por algum tempo envelhecer significava estar fora da atualidade quando não da própria dinâmica da vida. A contemporaneidade não comporta mais uma visão excludente de uma das etapas mais ricas do crescimento humano.
Esta publicação, ímpar, afetiva, amorosa e acima de tudo histórica, é verdadeiramente um presente e uma homenagem a este processo de vida de muitas pessoas ímpares de nossa comunidade. Saudamos sua edição como registro dos 60 anos de nossa jovem senhora UnB, porém com a perspectiva mais promissora ainda: de promoção de saúde e engajamento ativo no mundo a nossa volta.
Cícero escreveu De Senectude (Da Velhice), aos sessenta anos; Norberto Bobbio, também escreveu Da Velhice, aos oitenta anos; o ministro Evandro Lins e Silva, o seu O Salão dos Passos Perdidos, perto nos noventa anos. E me dizia, com seu ânimo sempre jovial, quando o cumprimentei por ter se tornado imortal logo que admitido na Academia Brasileira de Letras, que o que ele queria mesmo era ser imorrível.
A obra, com depoimentos de que chegou e ultrapassou os 60 anos, para se identificar com a UnB, neste ano, sexagenária, mostra que a memória nos deixa imorríveis.
Pelo menos, é o que depreendo, da nota explicativa com que a Organização abre o livro, num texto instigante e mobilizador, assinado pela professora Leides Barroso Azevedo Moura, Coordenadora do Projeto de Extensão PEAC ENF-FS “Construindo uma universidade para todas as idades. O texto traz como título: “Uma palavra sobre o projeto: ‘Construindo uma universidade para todas as idades’”. Reproduzo:
A dignidade do envelhecer pode ser institucionalmente celebrada e defendida. Construir a narrativa de uma universidade para todas as idades favorece o preparo de profissionais do cuidado e de toda a comunidade do Distrito Federal para eliminar a discriminação e o silenciamento das necessidades, reivindicações e riquezas das variadas velhices.
O conceito de Universidade Promotora da Saúde (UPS) nasce da percepção de que as Instituições de Ensino Superior exercem papel fundamental na saúde de docentes, discentes, técnicos administrativos, equipes de serviços e também na população das suas cidades.
De acordo com a Carta de Okanagan, um documento basilar aprovado no Congresso Internacional de Universidades Promotoras da Saúde, uma UPS deve ter visão transformadora da saúde e da sustentabilidade da sociedade presente e futura e adotar como parte de sua responsabilidade decifrar as oportunidades de promoção da saúde no cotidiano, propiciar no campus e para além dele uma cultura de valorização da diversidade geracional, de gênero, raça, na defesa da equidade e da justiça social. Uma UPS se envolve em projetos de transformação de valores societários e busca “fortalecer a comunidade e contribuir para o bem estar das pessoas, lugares e do planeta” (Carta de Okanagan, 2016).
O projeto “Construindo uma universidade para todas as idades “objetiva desenvolver parcerias e ações entre a universidade e os coletivos inteligentes da cidade na promoção do envelhecimento saudável e participativo e desenvolverá atividades de ensino, pesquisa e extensão junto à comunidade acadêmica da UnB, profissionais e estudantes em formação, pessoas idosas, famílias, gestores e ativistas no tema do envelhecimento na universidade e na cidade. Possui um caráter interdisciplinar na sua concepção e está articulado aos trabalhos desenvolvidos pelo Grupo de Trabalho “Envelhecimento Saudável e Participativo” da Diretoria de Atenção à Saúde da Comunidade (DASU) vinculada ao Decanato de Assuntos Comunitários e ao Programa de Extensão “Envelhecimento Saudável e Participativo com cidadania: UnB como Universidade Promotora de Saúde”.
As atividades do projeto se organizam segundo as ações estabelecidas pela Política Nacional da Pessoa Idosa, Estatuto da Pessoa Idosa, Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa e Política Distrital da Pessoa Idosa.
O livro contêm 60 depoimentos, conforme um formulário de entrevista que associa a biografia dos entrevistados a sua atuação na UnB.
Fui um desses entrevistados e compartilho meu depoimento como efeito demonstração do roteiro memorialista que acaba caracterizando a obra:
Como você entra na história da UnB? Já antes de conhecê-la, chegando em Brasília (1971) e descobrindo a univer(c)idade. Depois, na advocacia de cidadania e defesa das garantias constitucionais, em tempos sombrios (Ditadura), participando das ações da Ordem dos Advogados em defesa da universidade sempre sob investida autoritária, com ocorrências graves ao seu projeto e à sua comunidade. Depois, como aluno de pós-graduação, a partir de 1978, na Faculdade de Direito. Em seguida (1985), sendo admitido na UnB, na redemocratização, no Reitorado Cristovam Buarque, primeiro como procurador-geral (PJU) depois como chefe de Gabinete do Reitor e, finalmente, também desde 1985, admitido como docente (1985) até hoje (aposentado como professor titular na compulsória dos 75 anos) mas permanecendo como pesquisador voluntário sênior. Nesse ínterim, exercendo atividades de gestão, desde coordenador – graduação, pós-graduação), diretor de unidade, reitor (2008-2012), nessa condição, atuando ou presidindo todos os Conselhos de Unidade e Superiores da Universidade.
O que a UnB representa na sua história? É minha própria história e eu sou parte de sua história. É minha mais definida identidade social.
TEMPO PRESENTE E TEMPO FUTURO
O que você tem feito? Continuo a docência e pelo acumulado, com alguma projeção, que me abre interlocução cultural e política. Tenho colunas permanentes em meios de comunicação o que amplia meu auditório e no modo presencial mantenho um diálogo interativo com um público muito extenso. Tendo sido reitor, me recuso exercer qualquer outra atribuição pública senão a de ex-reitor, mas não me furto de atuação honorífica ou benemérita em organismos civis: Ordem dos Advogados, Comissão Justiça e Paz (Arquidiocese), Instituto dos Advogados Brasileiros (fundado em 1843).
Você tem algum hobby? Até 3 anos atrás futebol society; atualmente, caminhadas ao ar livre.
Qual seu projeto de vida? Projeto de vida eu o compreendo como uma categoria do bem viver. O que me constitui nesse entendimento é contribuir para compreender as condições de dignidade da existência, notadamente em sentido coletivo e social. O que procuro realizar por meio das dimensões que agregam os fundamentos e princípios desse projeto: democracia, cidadania, justiça e direito/direitos humanos. A síntese desses fundamentos se concentra num programa teórico-político que co-organizo há 30 anos: O Direito Achado na Rua.
PERSPECTIVA SOBRE A VELHICE
O que você teria a dizer sobre envelhecimento e aprendizados da velhice? Em 40 anos de docência, cumprindo todos os fundamentos – ensino, pesquisa e extensão – tendo a leitura e a escrita como hábitos diários e ainda, mantendo ativo o engajamento acadêmico e associativo, estou disponível para a troca cotidiana ensinando, aprendendo, desaprendendo (como diz Manoel de Barros em Didática da Invenção) e de novo ensinando.
COMPARTILHANDO SABERES
Que aprendizado de vida gostaria de repassar às outras pessoas/gerações? O ganho biográfico que conhecimentos, saberes e vivências me fizeram “acumular”. Espaço para falar sobre algo não contemplado nas questões anteriores Apenas para indicar o endereço da plataforma na qual estão organizados os fatos principais desse projeto de vida: www.odireitoachadonarua.blogspot.com
Não há indicação no livro, mas na transmissão do evento de lançamento, a professora Leides exibiu as ilustrações que ornam o livro, indicando a capa – O céu que não vemos 2 – de Lígia de Medeiros e arte a seguir – Preciosidades da UnB – de Elda Evelina Vieira.
Cícero escreveu De Senectute (Da Velhice), aos sessenta anos; Norberto Bobbio, também escreveu Da Velhice, aos oitenta anos; o ministro Evandro Lins e Silva, o seu O Salão dos Passos Perdidos, perto nos noventa anos. E me dizia, com seu ânimo sempre jovial, quando o cumprimentei por ter se tornado imortal logo que admitido na Academia Brasileira de Letras, que o que ele queria mesmo era ser imorrível.
A obra, com depoimentos de quem chegou e ultrapassou os 60 anos, para se identificar com a UnB, neste ano, sexagenária, mostra que a memória nos deixa imorríveis. O livro abre com uma epígrafe que bem diz sobre a sua motivação: ‘Minha máquina do tempo é feita com memória e palavras. Entrando na memória, eu voo para o passado. Escrevendo as minhas memórias, eu levo outros a voar comigo.’’ (Rubem Alves)
José Geraldo de Sousa Junior é Articulista do Estado de Direito, possui graduação em Ciências Jurídicas e Sociais pela Associação de Ensino Unificado do Distrito Federal (1973), mestrado em Direito pela Universidade de Brasília (1981) e doutorado em Direito (Direito, Estado e Constituição) pela Faculdade de Direito da UnB (2008). Ex- Reitor da Universidade de Brasília, período 2008-2012, é Membro de Associação Corporativa – Ordem dos Advogados do Brasil, Professor Titular, da Universidade de Brasília, Coordenador do Projeto O Direito Achado na Rua.5 |
Nenhum comentário:
Postar um comentário