Minhas Memórias da UnB. Edson Nery da Fonseca
Lido para Você, por José Geraldo de Sousa Junior, articulista do Jornal Estado de Direito.
Minhas Memórias da UnB. Edson Nery da Fonseca. Série Informação e Memória. Uma Trajetória de 45 Anos da Ciência da Informação na Universidade de Brasília 1965-2010. Edição Comemorativa da Posse do Primeiro Conselho da Faculdade de Ciência da Informação. Cerimônia de Outorga do Título de Professor Emérito a Edson Nery da Fonseca. Brasília: Faculdade de Ciência da Informação, 22/11/2010.
Uma nota de relevo de meu reitorado, em cujo interregno se deram dois jubileus – o cinquentenário de Brasília, 2010 e o cinquentenário da UnB, 2012 – terá sido, certamente, associar marcas da memória institucional, notadamente pela distinção dos protagonismos que marcaram a subjetividade acadêmica pelo reconhecimento da Comunidade às suas biografias com os títulos honoríficos outorgados pelo Conselho Universitário: doutorados honoris causa, notórios saberes, mérito universitário, professores eméritos.
Entre 2008 e 2012, tempo do mandato, pude conferir o doutorado honoris causa, o último deles a Boaventura de Sousa Santos (Sociólogo), antes dele a Aryon Dall’Igna Rodrigues (Linguista), Giovanni Casertano (Filosófo), Paulo Freire, post-mortem (Educador), Nilza Eigenheer Bertoni (Matemática); o primeiro Immanuel Wallerstein (Sociólogo).
Com o título de Professor Honoris Causa, o Educador Rumen Borislavov Soyanov.
Com o título de Mérito Universitário, os servidores Teodoro Freire (Post Mortem), o Seo Teodoro do Bumba Meu Boi do Teodoro, Élson Rodrigues de Souza, Abadia Rosa de Fátima Correa Pereira e Maria Regina Miranda Pinelli.
Chamo especial atenção para as outorgas do título de professor emérito porque traduzem a notável contribuição daqueles docentes à universidade e ao seu campo de atuação departamental, atribuído aqueles aposentados que se distinguem por esses atributos. Estimulei as unidades a marcar o jubileu da UnB fazendo a seleção de seus mais destacados congregados, até para tê-los como expressão do ethos acadêmico da Congregação departamental.
Nesse período, pude presidir e fazer a entrega em cerimônias emblemáticas de títulos de professor emérito a Lenora Gandolfi (Faculdade de Medicina), Isaac Roitman (Instituto de Ciências Biológicas), Joanílio Rodolpho Teixeira (Faculdade de Economia), José Carmine Dianese (Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária), Dioclécio Campos Júnior (Professor da Faculdade de Medicina), César Augusto Cuba Cuba (Faculdade de Medicina), Maurício Gomes Pereira (Faculdade de Medicina), Milton Martins Ribeiro (Instituto de Artes), Flávio Rabelo Versiani (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade), Cristóvam Ricardo Cavalcanti Buarque (Centro de Desenvolvimento Sustentável), Potyara Amazoneida Pereira Pereira (Instituto de Ciências Sociais), Carlos Eduardo Tosta (Faculdade de Medicina), Antônio Raimundo Lima Cruz Teixeira (Faculdade de Medicina), Roberto Armando Ramos de Aguiar (Faculdade de Direito), José Carlos Córdova Coutinho (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo), Carlos Roberto Félix (Instituto de Ciências Biológicas), Albino Verçosa de Magalhães (Faculdade de Medicina), Vladimir Carvalho (Faculdade de Comunicação), Luís Humberto Miranda Martins Pereira (Faculdade de Comunicação), Carlos Chagas (Faculdade de Comunicação), Antônio Augusto Cançado Trindade (Instituto de Relações Internacionais), Hellio Barbosa Ferreira (Faculdade de Medicina), Reinhardt Adolfo Fuck (Instituto de Geologia), Nagib Mohammed Abdalla Nassar (Instituto de Biologia), Pedro Demo (Instituto de Ciências Sociais), Vicente de Paula Faleiros (Departamento de Serviço Social), José Carlos Brandi Aleixo (Instituto de Relações Sociais), Jacques Rocha Velloso (Faculdade de Educação), Ilma Passos Alencastro Veiga (Faculdade de Educação), Alcida Rita Ramos (Instituto de Ciências Sociais). Incluo Eva Waisros Pereira (Faculdade de Educação). Já não era o reitor no momento da outorga, mas a convite da homenageada fui o orador na sessão solene em que recebeu o título (SOUSA JUNIOR, J. G.. Eva Waisros Pereira ou a escola como ‘lugar de memória’. LINHAS CRÍTICAS (ONLINE), v. 21, p. 531-537, 2015).
Além dos eventos acadêmicos e de suas respectivas atas, muitas dessas sessões tiveram a sua memória ou registro editorial em obras editadas com alcance para além do celebratório (cf. Solenidade de Outorga do Título de Professor Emérito da Universidade de Brasília ao Cientista Político José Carlos Brandi Aleixo / Universidade de Brasília; José Carlos Brandi Aleixo – Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2012). Nessa edição o meu pronunciamento de saudação na condição de Reitor e Presidente do Conselho Universitário, p. 61-68.
Com alcance conceitual, o discurso do homenageado (Boaventura de Sousa Santos) e o discurso de elogio (Marilena Chauí), lidos na cerimônia e depois publicados, em edição com meu prefácio (SANTOS, Boaventura de; CHAUÍ, Marilena. Direitos Humanos, Democracia e Desenvolvimento. São Paulo: Cortez Editora, 2013). Em sua passagem na UnB para a entrega do título Boaventura concluiu o ciclo de aulas da inquietação, ponto alto dos eventos de acolhimento a cada semestre durante meu mandato. No simbólico teatro de arena, a céu aberto, um convidado ou uma convidada instigavam o imaginário do auditório, em média 4 mil pessoas, para se lançarem, desde a universidade, no mundo.Com Boaventura a inquietação chamou para a rebeldia competente (https://www.youtube.com/watch?v=7qbetHrL2JI).
Refiro-me também, aludindo à consigna de igual simbologia, a outorga de título de notório saber, uma prerrogativa universitária para acreditar percursos de alta indagação na seara do conhecimento ainda que não o conhecimento sistematizado, que a universidade homologa, a livro que reúne os memoriais, pareceres e discursos que precedem e se materializam na cerimônia de concessão do título de Notório Saber em jornalismo a Luiz Cláudio Cunha, pela Universidade de Brasília, em sessão solene do seu Conselho Universitário, no dia 9 de maio de 2011. O livro foi organizado pela esposa do agraciado, a também professora Maria Jandyra C. Cunha, que agregou à obra, além do material já mencionado, a saudação do Professor Luiz Gonzaga Motta, a minha manifestação na qualidade de Reitor e de Presidente do Conselho, acrescentando um prefácio a cargo do Jornalista Flávio Tavares, ex-professor da UnB e um posfácio do senador e ex-Reitor da UnB, Cristovam Buarque. E, naturalmente, o discurso do homenageado, jornalista Luiz Cláudio Cunha, um dos mais conhecidos e reconhecidos profissionais do jornalismo do Brasil (http://estadodedireito.com.br/todos-temos-que-lembrar-a-licao-e-a-missao-do-jornalista/).
O simbólico dessa conjuntura de jubileu prestou-se também para um denso programa de avaliação sobre o afazer acadêmico da institucionalidade universitária no balanço do cinquentenário. Ele compreende as memórias acadêmicas (http://estadodedireito.com.br/a-universidade-interrompida-brasilia-1964-1965/; http://estadodedireito.com.br/estudos-sobre-a-unb/) e as memórias dos sujeitos que conduziram ou vivenciaram os processos (http://estadodedireito.com.br/a-historia-da-universidade-de-brasilia-contada-por-seus-personagens-reportagens-depoimentos-entrevistas/; http://estadodedireito.com.br/memoria-e-perspectivas-50-anos-de-letras-da-universidade-de-brasilia-1962-2012/).
Entre essas, as que combinam as duas dimensões, servir à memória de trajetórias e as vivências subjetivas com elas entrelaçadas, como neste Minhas Memórias da UnB, de Edson Nery da Fonseca.
Na celebração da posse de seu primeiro Conselho, a Faculdade de Ciência da Informação, resgata a trajetória de 45 anos da Ciência da Informação na Universidade de Brasília 1965-2010, enquanto homenageia em sessão solene do Conselho Universitário, que tive a honra de presidir, o seu reconhecimento ao papel fundador de um de seus próceres: Edson Nery da Fonseca, Biblioteconomista, fundador da Biblioteca Central da UnB e professor da UnB, ex-Diretor da antiga Faculdade de Estudos Sociais Aplicados, também Professor Emérito, conforme Resolução do Consuni 015/95.
A plaquete dá conta da angústia original: “Confesso que ao mudar-me em 1960 do Rio de Janeiro para Brasília eu me senti o mais infeliz dos homens”. Para logo reaprumar-se: “Em seus primeiros anos a hoje cinquentenária Brasília se resumia em poeira e solidão. Por que, então, vivi em Brasília durante trinta e um anos? Por causa da UnB”.
Assim, podendo readquirir o sentido de felicidade porque: “quando tomei conhecimento do Plano Orientador da UnB fiquei deslumbrado. E um dos dias mais felizes de minha vida foi aquele em que Darcy Ribeiro me convidou para ensinar na recém inaugurada universidade”, o que lhe permitiu propor, em 1965, “a criação de uma Faculdade de Biblioteconomia e Informação Científica”, na ocasião, inscrita num projeto inicial de instalar um curso de Biblioteconomia que se integrou como Departamento na então Faculdade de Estudos Sociais Aplicados.
Nesse passo, ele anota, com “o advento da automação e da interdisciplinaridade (categoria que ele cultivou com seu mestre e amigo Gilberto Freyre, nos seminários de Tropicologia em Apipucos) fez com que as bibliotecas atraíssem analistas de sistemas que podem atuar com proficiência nos processos técnicos, ficando os bibliotecários com as funções muito mais importantes de seleção e orientação de usuários. Era isso o que pensava o sábio Ortega y Gasset ao imaginar o futuro bibliotecário ‘como um filtro que se interpõe entre a torrente de livros e o homem’”.
A partir dessa fonte expandida em torrentes que sob a forma de livros jorra na inteligência humana, o Autor a Universidade de Brasília que lhe proporcionou “o convívio com educadores do alto nível de Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro, juristas como Vítor Nunes Leal e Roberto Lyra Filho, escritores como Agostinho da Silva e Cassiano Nunes, linguistas como Antônio Salles Filho e Ulf Baranov, helenistas como Eudoro de Sousa, teólogos como o domicano Mateus Rocha (que chegou a ser Reitor), o salesiano Astério Campos e o jesuíta José Carlos Brando Aleixo… Por tudo o que acabo de recordar é que me orgulho de ter sido professor da UnB e considero os vinte e nove anos aqui passados como os mais felizes da minha vida”.
O resgate dessas memórias, compõe o contexto histórico da institucionalidade em suas linhas mestras de desenvolvimento; mas a crônica do interpessoal, aqui e ali recupera o incidental do biográfico que possa ser eventualmente recolhido pelas crônicas do período. Ouvi de Roberto Lyra Filho a recordação de um Eudoro de Sousa, apoplético em sua revolta contra um certo canalha que o desgostara e que ele, sem que ninguém conseguisse acalmar ou demover, queria encher a cara de balas; somente serenado, em risos, quando o próprio Roberto, com séria admoestação, o direciona: “Como, Eudoro, você, um helenista, quer encher de balas esse desafeto! Transfixe-o com uma lança!”.
Lembrei de Roberto Lyra Filho, meu mestre (Orientador) e precursor na criação do projeto O Direito Achado na Rua, ele e Edson Nery, grandes amigos. Um registro de hoje, simultaneamente crônica e descoberta.
Há poucos dias recebi uma mensagem do querido colega e amigo, professor da Universidade Federal do Paraná, Ricardo Prestes Pazello: “Estimadíssimo Zé, olha essa preciosidade emocionante que recebi! Não poderia deixar de compartilhar contigo. Por algum motivo, o bibliófilo pernambucano me procurou e enviou este achado!”.
E em seguida me copiou uma mensagem que acabara de receber. Nestes termos:
“Caro senhor Ricardo Prestes, sou um bibliófilo amador, e há pouco mais de uma década comprei num sebo de Recife uma caixa de discos de vinil de Bach, e para minha surpresa, tinha uma cartinha, que li, todavia esqueci. Ano passado voltei a ler e achei uma preciosidade, tratava-se de uma missiva do professor Roberto Lyra Filho destinada a um certo recifense, nela tinha o desejo do epitáfio e das peças de Bach que deveriam ser tocadas na sua futura missa de sétimo dia, já que a carta datava de 1978, desta forma fiquei curioso e fiz uns links na web e cheguei em 2011, numa visita feita no túmulo do professor por um grupo de pessoas, e no texto do Blogspot tinha um epitáfio que, segundo todavia tenho um enorme desejo no desfecho festa história. Nunca conheci o professor Roberto Lyra Filho, nem nenhum dos relacionados na cartinha, o meu interesse é absolutamente voltado a história. Boa noite!”.
Junto cópia da carta, com a letra inconfundível do Professor Roberto Lyra Filho, elegante e numa caligrafia bem educada, igual a todo o conjunto de cartas – um estilo cultivado por ele, num tempo em que não havia nem computador nem internet – e ele detestava datilografar.
Eu próprio, seu orientando, datilografei muito dos seu originais, como O Que É Direito, cuja cópia xerográfica guardo encadernada e autografada por ele. Também datilografei a sua célebre Carta Aberta a um Jovem Criminólogo, marco epistemológico da virada as Criminologia da Reação Social para a Criminologia Crítica, em cujo âmbito ele inscreveu, a exatos cinquenta anos, a sua Criminologia Dialética, publicada pela Editora Borsoi. A Carta Aberta foi publicada por Heleno Fragoso, em 1971, na Revista de Direito Penal, órgão Oficial do Instituto de Ciências Penais do Rio de Janeiro, que ele fundou e dirigia (LYRA FILHO, Roberto. Carta Aberta a um Jovem Criminólogo: Teoria, Práxis e Táticas Atuais. Rio de Janeiro: Forense/Instituto de Ciências Penais do Rio de Janeiro, vol. 1, nº 28, p. 5-25).
Logo respondo ao Pazello, comentando o achado precioso, esclarecendo que o recifense mencionado “é o Edson Nery da Fonseca. Um dos fundadores da UnB. Criou a Biblioteca da UnB e foi Diretor da Faculdade de Estudos Sociais Aplicados, à qual, na época, se vinculava o então Departamento de Direito. Grande amigo do professor Roberto Lyra Filho. Não sei o que os discos foram fazer em Recife. A carta é a letra do Lyra, linda caligrafia, grande epistológrafo. O Flávio era um advogado de Brasília e andou um tempo pela UnB. Fui o testamenteiro de Roberto Lyra Filho e seu último testamento não mencionava o epitáfio, mas legava a sua magnífica discoteca composta só de clássicos, a Ana Arruda filha de compadres seus – Ivani Neiva e Jarbas Marques. Quando Aninha alcançou a maioridade doou a discoteca a Escola de Música de Brasília. Assim como meu filho Daniel, que no mesmo testamento recebeu o legado de sua biblioteca, na maioridade transformou o comodato em doação a UnB”.
Meu diálogo com o Pazello ainda continuou: “puxa, Zé! Que história sensacional! Depois de ter recebido a carta de Lyra Filho já estou me organizando para retomar a questão do jazigo. Logo em breve farei novo contato contigo. Um forte abraço”.
O professor Pazello ainda entreteve diálogo com o bibliógrafo pernambucano (Alexandre Fernandes) agradecendo o achado, ao que esse se rejubilou pela contribuição inesperada: “Que maravilha, Ricardo, obrigado, para o fechamento da linda história, precisamos saber se na missa de sétimo dia, caso tenha ocorrido, foram executadas as peças pedidas pelo professor Roberto Lyra Filho. Tenho a impressão que não”. Assim que pude esclarecer que nas exéquias, em Brasília, essa aspiração nos era desconhecida. Em sua despedida de Brasília, numa conferência que representou sua última manifestação antes de rumar para São Paulo (LYRA FILHO, Roberto. A Constituinte e a Reforma Universitária. Conferência lida a 8.5.85, na Semana Jurídica, organizada pelo Diretório Acadêmico da Faculdade de Direito do CEUB (Centro de Ensino Universitário de Brasília. Brasília: Edições Nair, 1985), ele se restringiu a designar seu destino próximo (p. 23): “Aposento-me e sigo para São Paulo; mas a aposentadoria não é o ócio, nem a abdicação. Lutarei pelos nossos ideais, com o sjovens companheiros paulistas e até que chegue o momento final, de fechar os olhos e ser enterrado sob os pinheiros do meu adotivo Paraná”.
Por isso esclareci a Pazello que aqui ignorávamos essas disposições: em Brasília “a missa foi celebrada no auditório da Faculdade de Direito, na UnB. O celebrante foi o professor do Depatamento de Relações Internacionais (hoje Instituto de Relações Internacionais) padre José Carlos Brandi Aleixo (filho de Pedro Aleixo). Houve outra missa, mais pública na Igreja Santuário de Nossa Senhora de Fátima em Brasília. Muitas manifestações, sobretudo de estudantes. O estudante, hoje bem sucedido advogado Melillo Dinis leu as estrofes do poema de Noel Delamare – Envio (Da Cama ao Comício): ‘Não me lamento, porque canto,/ Faço do canto manifesto./ Sequei as águas do meu pranto/ Nos bronzes fortes do protesto./ Acuso a puta sociedade,/ Com seus patrões, seus preconceitos./ O teto, o pão, a liberdade/ Não são favores, são direitos’”.
Pazello, há muito vem tentando, resgatar o túmulo, envolto nesse mistério de inacessibilidade. Nessa troca de comunicados, ele me envia um relato do professor Jacinto Nelson de Miranda a seu colega Márcio Berclaz:
“Que legal, Marcio. Estou dentro de qq iniciativa que se tiver para fazer o que o Zé e o Pazello sugeriram e sugerirem. Qq coisa me avise. Vc sabe como foi aquele dia do enterro? Parece hoje. Quem poderia ter interesse de colaborar com uma iniciativa restauradora é o Fruet. Ele e o irmão, Claudio, que se encarregaram (mais o pai deles, se não engano) com o enterro. Eles eram (sobretudo o pai que era pessoa finissima) uns sacanas; e adoravam pregar peças nos outros. Naquele dia recebi uma ligação de alguém avisando que eles estavam partixioqndo aos amigos LFo não só a morte dele, mas que enterro seria na cemitério da Santa Candida, de tarde, não lembro a hora. Mas justo na hora de um do jogo do Brasil na copa do mundo. Com a fama de sacanas, todo mundo ficou ressabiado. Eu mesmo tentei falar com eles e não consegui; e ninguém sabia nada, para todos que liguei. Nem a empregada sabia alguma coisa. Com isso, não fui, achando que era sacanagem. Mas não era. E ele foi enterrado assim, com quase ninguém: e sem os amigos e conhecidos que, como eu, não sabiam o porquê e não acreditaram no convite dos Fruet. Quem sabe agora eu possa me redimir. Por favor, deixe-me a par, ok? Abraços”
Eu próprio, com Jarbas Marques embarcamos de Brasília, mas entre atrasos de aeroportos e descoberta do cemitério, quando chegamos ao sepulcrário, já fechado, a custo nos deixando o zelador entrar para prestar nossas homenagens, ainda encontramos as oferendas sobre a lápide, destacando-se rosas vermelhas que ainda exalavam na penumbra da noite já entrada.
Depois eu descobriria o significado dessas rosas, no momento do sepultamento e em outras visitas, conforme o texto do professor Humberto Góes (http://assessoriajuridicapopular.blogspot.com/2011/07/rosas-vermelhas-intensidade-de-lyra.html):
“Passava das duas da tarde de uma terça-feira, dia 12 de julho de 2011, quando encontramos a professora Eloette no centro de uma Curitiba quente para este período. Segundo a informação transmitida por Diego Diehl complementada por Luiz Otávio, era ela uma das três pessoas que, sob a sombra de um pinheiro do Paraná, fizeram repousar, há 25 anos, o mentor de tantos sonhos transformadores, e era também ela que nos levaria a seis jovens pesquisadores e pesquisadoras em Direito (Ricardo Pazello, Luiz Otávio Ribas, Diana Melo, Carolina Vestena, Tchena Mazo e eu) a realizar um reencontro com uma memória, com uma obra, cujo sentido dava àquele instante a conotação de tarefa revolucionária. Digo revolucionária por sua capacidade de renovar a esperança, de alimentar o desejo de ver, na Filosofia do Direito, com reflexos no fazer jurídico hegemônico, ressurgirem, como irmãs siamesas, justiça social e prática jurídica cotidiana, institucionalizada ou não institucionalizada. Mas, como toda autêntica obra dessa natureza, era, ademais de um dever, uma prazerosa e sonhada atividade; era um fazer carregado de emoção e sensibilidade, através de que podíamos reafirmar o nosso compromisso com o mundo, com as transformações necessárias à dignidade e à justiça dos povos oprimidos. Nossa missão era encontrar com Roberto Lyra Filho no lugar em que fora semeado o seu corpo para alimentar o desejo de, seguir fazendo florescer suas ideias”.
Pazello, envolvido com o projeto de restaurar o túmulo, agora, com a descoberta da carta de Roberto Lyra Filho a seu amigo Edson Nery da Fonseca, sugere que possamos “tentar celebrar uma missa com essas peças de Bach na paróquia da Santa Cândida”. Temos pouco tempo, mas Roberto Lyra Filho que nasceu em 13 de outubro de 1926, faria, se vivo, 95 anos. Uma boa data para celebrar e continuar fazendo florescer as ideias que semeou.
José Geraldo de Sousa Junior é Articulista do Estado de Direito, possui graduação em Ciências Jurídicas e Sociais pela Associação de Ensino Unificado do Distrito Federal (1973), mestrado em Direito pela Universidade de Brasília (1981) e doutorado em Direito (Direito, Estado e Constituição) pela Faculdade de Direito da UnB (2008). Ex- Reitor da Universidade de Brasília, período 2008-2012, é Membro de Associação Corporativa – Ordem dos Advogados do Brasil, Professor Titular, da Universidade de Brasília, Coordenador do Projeto O Direito Achado na Rua |
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