O Direito Achado na Rua: nossa conquista é do tamanho da nossa luta

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Feminismos em Coimbra (Cartas do Mondego)

(...) Mulher na democracia
Não é biombo de sala
 (...)Vencida numa fornalha
Não há bandeira sem luta
Não há luta sem batalha”
Música “Teresa Torga”, Zeca Afonso.

“(...)Tinha a mania de pôr as cores a condizer
No meu entender, rosa com vermelho não podia ser
Uma noctívaga que não dormia a sesta
E, de manhã, sempre quis menos conversa
Uma covinha só de um lado da bochecha
Adormecia com o pai e a mesma canção do Zeca
"Dorme, meu menino, a estrela-d'alva"
Era sempre mais Mafalda do que Susaninha
Ai de quem dissesse mal do Sérgio Godinho!”
Música “Vayorken”, Capicua

O feminismo grita nas paredes e nas ruas de Coimbra. São diversas as manifestações em graffiti stencil, algumas chamando a atenção para o número de mortes de mulheres em Portugal, outras defendendo a autonomia das mulheres e o próprio feminismo.


Essas frases se repetiram em diversas ações sobre a temática ocorridas em novembro. Houve oficina no CES tratando de literatura feminina africana e os discursos acerca da poligamia e outra tratando de discursos sobre masculinidades pelas novas mídias, além de uma Conferência no dia 25 de novembro para debater a violência contra as mulheres.
Ainda, a 1ª Semana da Consciência Negra do CES teve uma mesa de abertura fantástica composta apenas por mulheres negras debatendo o feminismo e o racismo, trocando experiências entre Portugal e Brasil.
Mesa 1a Semana da Consciência Negra do CES – 19/11/14
Vigília em memória das mulheres assassinadas em Portugal - 02/11/14
Para além das atividades acadêmicas, ocorreram atividades convocadas por entidades locais como uma reunião aberta do partido “MAS” para discutir o que é o feminismo; uma vigília promovida pelo Movimento Nós, Mulheres; e convocada por diversas entidades, como a UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta), nas escadarias monumentais da Universidade para lembrar o assassinato de mais de trinta mulheres só este ano em Portugal.
Logo no meu primeiro mês aqui a questão da violência doméstica já se mostrou como uma
problemática também portuguesa. Em outubro, em Coimbra, um homem assassinou sua mulher, uma filha e deixando outra filha ferida.
Isso significa que a violência contra a mulher é de fato um problema mundial. Em 1999, a OMS já constatava, em um estudo com 35 países, que entre 10% e 52% das mulheres já haviam sido agredidas fisicamente pelo parceiro em algum momento de suas vidas (http://www.compromissoeatitude.org.br/alguns-numeros-sobre-aviolencia-contra-as-mulheres-no-mundo/).
E as notícias vindas do Brasil não são nada alentadoras. Em 2014, o país caiu de 62ª para 71ª posição de igualdade de gênero no mundo. Segundo o Mapa da Violência (2012) até o ano de 1996 as taxas de homicídio de mulheres eram de 4,6 homicídios para cada 100 mil mulheres não sofrendo alterações mesmo após da Lei Maria da Penha, demonstrando que temos muito ainda que avançar em termos de políticas públicas especificas para este problema.
Bandeja da cantina da Universidade de Coimbra com campanha contra o abuso sexual de mulheres
Teatro da Oprimida - Ato 25/11/14
Por isso a importância da data 25 de novembro como dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher. Este dia em Coimbra não passou em branco. Durante quatro dias participei de um curso de Teatro da Oprimida com a Judite da Marcha Mundial de Mulheres e um grupo de mais ou menos oito pessoas. Foram dias intensos de desmecanização dos nossos corpos e busca por novas formas de expressão de nossas lutas por libertação. Desse curso, tiramos um teatro Imagem que apresentamos no dia 25 de novembro na Praça 8 de maio, no centro comercial de Coimbra, associada a um ato manifesto.

Não pude deixar, claro, de lembrar em todo o momento das Promotoras Legais Populares do Distrito Federal que formou a sua 10ª turma no dia 29 de novembro. Como pude expressar virtualmente para esta turma, estar aqui, participando destas experiências, me faz perceber que no mundo todo há mulheres sofrendo violência, mas há também mulheres resistindo e lutando. E compor a luta pelo seu enfrentamento pode até ser difícil, mas também muito prazeroso. E o prazer está, em especial, no afeto e na alegria de descobrir por todo canto novas companheiras.


Coimbra, 01 de dezembro de 2014,


Lívia Gimenes Dias da Fonseca

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