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terça-feira, 5 de agosto de 2014

Sobre o que aprendi - com a Inglaterra e seu sistema educacional. Primeira Carta de Albion





 Ana Luiza Almeida e Silva *

Após um seminário sobre Direitos Econômicos e Sociais na LSE (London School of Economics), tomei conhecimento de um manifesto desenvolvido por diversas faculdades de Economia em diferentes países da Europa contra o caráter restritivo de suas grades curriculares. O movimento, fortemente endossado pelas universidades britânicas, é fortalecido por argumentos como: a superficialidade da abordagem disciplinar; desvinculação a outras áreas do conhecimento e, principalmente, a ausência do pensamento crítico nas salas de aula.

Esse movimento constitui um feito das Ciências Econômicas, mas poderia facilmente ser aplicado a outras disciplinas e ao conservadorismo que as rodeia. Na Inglaterra, noto no âmbito acadêmico uma clara opção por um uma estrutura hierárquica e exclusiva que, inevitavelmente, está relacionada a suas origens históricas.

A educação básica britânica  passa por um amplo processo de privatização. Atualmente, 40% das escolas de educação básica, que antes eram completamente financiadas pelo governo, constituem Academies que, além de não estarem vinculadas as autoridades locais, podem exercer a atividade com escopo de lucro.
A previsão do Sindicato dos Professores Britânico é de que ate 2015 todas as escolas de educação básica terão esse status.

Em nível superior, desde 2011, o ensino público e gratuito já não é uma realidade.  O governo subsidia uma parte mínima das taxas universitárias, podendo a anualidade de um curso de graduação custar até 9 mil Libras a um estudante britânico ou originário de um dos países membros da União Europeia.[1]

A um estudante nacional de países não pertencentes à União Europeia, a anualidade custa uma média de 12 mil Libras ao ano, ou, 30% a mais que aquela aplicada a  um aluno europeu, podendo tal diferença chegar a 50%.

Mas em um país em que quatro instituições acadêmicas de Ensino Médio enviam mais estudantes a Oxford e Cambridge do que outras 2000 por todo o Reino Unido, o elemento econômico sobre diretrizes educacionais torna-se uma pauta urgente. Nesse sistema,  as  mais prestigiadas escolas do Reino Unido ocupam aproximadamente 30% das vagas de Oxford – e 84 delas são privadas.[2]

O sistema de educação britânico  não é para todos e não deixa nenhuma dúvida quanto a essa escolha.

Apesar de seguir uma tendência mundial de privatização da educação - a exemplo dos USA, onde a média anual de um curso de graduação é de 22 mil dólares ao ano[3], o que assusta no Reino Unido é uma aparente aceitação e institucionalização dos critérios discriminatórios no ambiente acadêmico. O excessivo apelo às distinções acadêmicas,  as seleções de estudantes  baseadas em suas instituições de origem e até mesmo a noção de “resposta perfeita”, não apenas acirram a competitividade entre alunos, como empobrecem o ambiente acadêmico.

Em um dos artigos que li, um professor de Oxford e ex-aluno da casa declarava sua frustração pela excelente experiência acadêmica e solitária em termos de interação social nos anos em que passou naquela universidade.  E isso é evidente quando se observa as mais altas classes britânicas ao verem seu padrão social decrescer e seu estilo de vida ser alterado por conta de tais gastos (agora com educação) que os distinguem do resto da sociedade.

Portanto, a descrição feita por mim, há alguns meses, sobre o país em que “todos podem ser tudo”, constitui uma exclusividade da realidade Sueca e que, em termos acadêmicos, definitivamente não se aplica à Inglaterra

 Em uma sociedade orgulhosa de suas origens monárquicas e perpetuadora de uma profunda fratura social, essa parece apenas ser mais uma estratégia para perpetuar a segregação, só que agora ela assume um novo formato – relacionado a origens, etnias e gênero. 

Para saber  mais sobre o manifesto das faculdades de Economia:

[1] HSBC Report on Annual cost of studying (2013)
[2] Sutton Report on Higher Education Destinations for Individuals in England. http://www.suttontrust.com/public/documents/sutton-trust-he-destination-report-final.pdf
[3] U.S. Department of Education, National Center for Education Statistics (2014)


* Ana Luiza Almeida e Silva é aluna do mestrado em Direito, Estado e Constituição da Universidade de Brasília e do programa de mestrado Human Rights Policy and Practice, uma ação do consórcio entre universidades na Suécia, Reino Unido, Noruega e Índia
** Confira , da autora, o texto “Conversações de Erasmus: 1ª Carta, de Gotemburgo”, publicado neste Blog em 5 de março de 2014

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