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terça-feira, 16 de abril de 2013

UnB colaborou com SNI nos anos 70

Direitos Humanos| 16/04/2013 |

UnB colaborou com SNI nos anos 70

A Universidade de Brasília colaborou ativamente com a Escola Nacional de Informações na época do reitor Amadeu Cury (foto), liberando professores para proferir palestras naquela instituição, indicam documentos encontrados nos acervos do Serviço Nacional de Informações (SNI) e da Assessoria de Segurança de Informações da universidade.

Brasília – Na contramão da história de luta e resistência da Universidade de Brasília contra a repressão e a censura impostas pela ditadura militar, professores da universidade tiveram papel fundamental na formação de espiões e agentes infiltrados.

Documentos encontrados nos acervos do Serviço Nacional de Informações (SNI) e da Assessoria de Segurança de Informações da universidade (Asi-UnB), disponíveis no Arquivo Nacional em Brasília, demonstram a íntima relação entre os diretores da Escola Nacional de Informações (Esni) e o reitor da UnB na década de 70, Amadeu Cury.

A Esni foi criada pelo governo federal em 1971. Órgão do Serviço Nacional de Informações, sua função principal era promover cursos e estágios relacionados com as atividades do SNI.

Como não possuía ainda um quadro próprio de instrutores, valia-se de professores das universidades.

Assim, na expectativa de obter o apoio da UnB, mediante o ofício de 31 de janeiro de 1973, o diretor da Esni, general Enio dos Santos Pinheiro, solicitava ao reitor da UnB, Amadeu Cury, que fosse colocado à disposição da Esni, no período de 15 de fevereiro a 31 de julho, o professor Jenner José de Araújo, lotado na Diretoria de Assuntos Comunitários da UnB.

Em 24 de janeiro de 1974, o reitor Amadeu Cury informava o recebimento de ofício da Esni, de 21 de janeiro, no qual o general Enio Pinheiro solicitava colaboração da universidade para que o professor Roberto de Lyra fosse autorizado a proferir palestras na Esni. Cury anunciava, com satisfação, que em entendimento pessoal com o referido professor, autorizara-o a proferir as palestras no período indicado. E acrescenta: a universidade sentia-se honrada em poder colaborar nas atividades da Esni.

Em outro ofício de abril de 1974, o reitor acusava recebimento dos agradecimentos do general Pinheiro pela colaboração da universidade e elogios à participação dos professores Roberto de Lyra e Thais Maria Ottoni de Carvalho na instrução de cursos na Esni.

Em março de 1976, era a vez do novo diretor da Esni, general Octavio Aguiar de Medeiros, solicitar os serviços da universidade para autorizar o coronel Helio Bettero e os professores Mario Ribeiro Cantari e Luiz dos Santos, todos do Departamento de Educação Física, a proferirem palestra na Esni.

Mas a relação entre UnB e Esni não se resumia à cessão de docentes para cursos.

Em de 25 de março de 1975, o reitor Amadeu Cury comunicava a um diretor então Ministério da Educação e Cultura, coronel Armando Rosenzweig Menezes, que autorizara a participação do servidor Francisco Pedro de Oliveira, chefe da Assessoria Especial de Segurança e Informações da UnB, em estágio na Esni. Nos arquivos do SNI constam as fichas do referido servidor, com dados de qualificação que o gabaritavam apto para as atividades da ASI-UnB.

Outro ponto que chama atenção em relação à Esni é que suas atividades prosseguiram mesmo depois da restauração do regime democrático.

Em 14 de abril de 1989, alunos do curso de preparação da carreira de diplomata visitaram as instalações da Esni, onde lhes foi oferecido um almoço.

Os alunos fizeram severas críticas à Escola, sendo Pompeu Andreucci Neto o mais contundente. Numa redação, Pompeu criticou os talheres finos usados no almoço, e trazia a impressão de que o estabelecimento recordava a tortura sofrida pelas pessoas que lutavam pela liberdade e justiça. Por fim, disse ter sentido vergonha, por ter acreditado que um governo dito democrático não desperdiçaria verba para formar 'espiões e traidores do povo'.

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