O Direito Achado na Rua: nossa conquista é do tamanho da nossa luta

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Ex-estudantes relembram período da ditadura na UnB


50 ANOS - 30/08/2012
Mariana Costa/UnB Agência
 
Ex-estudantes relembram período da ditadura na UnB
Histórias do movimento estudantil permearam reunião realizada na quarta-feira, 29, com a participação da deputada federal Erika Kokay e dos jornalistas Beto Almeida e Tereza Cruvinel, ex-estudantes da UnB 
Fernando Molina - Da Secretaria de Comunicação da UnB
http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=7011 
No dia em que uma das invasões militares à Universidade de Brasília completou 44 anos, a reflexão sobre o movimento estudantil foi tema predominante na reunião da Comissão UnB 50 Anos, realizada nesta quarta-feira, 29. Sediado no Salão de Atos da Reitoria, o encontro contou com a participação da deputada federal Erika Kokay e dos jornalistas Beto Almeida e Tereza Cruvinel, ex-estudantes da UnB, que relataram a repressão e a violência que sofreram a comunidade acadêmica na época e a resistência estudantil à ditadura.
Tereza Cruvinel estava matriculada no curso de Letras em 1977, quando foi presa pela repressão. Adepta do pensamento de que historiar é preciso, a atual colunista dos Diários Associados entende que é preciso dar mais destaque à UnB no processo de redemocratização do país.
“Às vezes, o papel da UnB fica secundarizado frente a fatos que ocorreram no eixo Rio-São Paulo. Porém, a mobilização na Universidade de Brasília contribui para o retorno à democracia”, disse Tereza. Ela contou que os participantes do movimento estudantil buscavam divulgar suas idéias ao máximo. “Panfletamos até em Dia de Finados e feriados cívicos como 7 de Setembro”, compartilhou a ex-presidente da Empresa Brasil de Comunicação.
AUDÁCIA - Para Beto Almeida, o movimento estudantil daqueles anos tinha dentre suas características a audácia organizativa, política e temática. “Os sindicatos estavam amordaçados. Tínhamos um papel a cumprir perante a sociedade brasileira”, explicou o jornalista, para quem as universidades têm uma dívida social com o país.
Mariana Costa/UnB Agência
 Beto Almeida
Almeida lembrou vários episódios vividos pelos estudantes na UnB, como a necessidade de esconder os mimeógrafos; a manifestação de repúdio à visita do ex-secretário de estado dos EUA, Henry Kissinger; e a realização de eventos culturais e educativos. “Com o projeto História do Chorinho”, contou, “trouxemos à UnB personalidades como Cartola e Waldir Azevedo”.
RESISTÊNCIA - O depoimento de Erika Kokay também foi tomado por histórias dos anos de resistência ao governo militar. “O movimento estudantil era símbolo da luta da sociedade brasileira pela democracia”, afirmou. A deputada ressaltou a importância da Universidade de Brasília no cenário nacional, relembrando a greve de 1977, aqui iniciada e, posteriormente, alastrada por outros estados.
Erika Kokay também frisou a relevância do Alojamento Estudantil, atual Casa do Estudante Universitário, como pólo de resistência à ditadura. “O Alojamento era um local de encontro para atividades políticas e artísticas, tais como debater e também cantar, ouvir músicas e assistir filmes”, relatou a deputada. Kokay também reiterou a importância de atividades de extensão universitária para cumprir com a missão emancipatória do ensino superior.
Mariana Costa/UnB Agência
 Erika Kokay
O reitor José Geraldo de Sousa Junior citou Pompeu de Souza, que costumava ressaltar os dois compromissos que para Darcy Ribeiro integram os pilares da Universidade de Brasília: lealdade com os padrões internacionais de conhecimento e a lealdade com o povo brasileiro.
“Após os movimentos do final da década de 1970”, apontou o reitor, “o Brasil viu concretizar as agendas da abertura política, da Constituinte e das eleições diretas para presidência da República.”
EMOÇÃO - Os relatos e os debates conferiram um clima especial à reunião da Comissão UnB 50 Anos. Esta é a opinião da professora Adalgisa Maria Vieira do Rosário, uma das responsáveis pelo Projeto ProMemória. “É muito emocionante rever esses ex-alunos e lembrar a atuação importante que realizaram no movimento estudantil pela democratização do país”, declarou.
A emoção também tomou conta do professor José Carlos Coutinho, ao lembrar a reunião que decidiu pela expulsão da à época estudante Erika Kokay, realizada em 17 de junho de 1977. “O então reitor José Carlos Azevedo nomeou o Conselho Universitário às pressas para responder a demanda legal que defendia a permanência da aluna”, lembrou Coutinho. Ele e o professor Marco Antonio Rodrigues Dias foram os dois únicos votos contrários ao desligamento de Kokay.
ENVOLVIMENTO - E como está o movimento estudantil atualmente? Para Beto Almeida, é preciso maior envolvimento em processos de transformações sociais. Citando a ausência da participação de universitários no projeto das Unidades de Polícia Pacificadora, colocado em prática no Rio de Janeiro, o jornalista fez um paralelo com as universidades nicaragüenses que se dedicaram à erradicação do analfabetismo em seu país.
“É necessário rebeldia contra estruturas arcaicas da sociedade brasileira”, sentenciou Almeida ao lançar uma proposta: mobilizar as universidades para o que chamou de uma “cruzada contra o analfabetismo no Brasil”. “Eu não abdiquei de nenhum sonho, com o tempo só os aperfeiçoei”, concluiu o jornalista.
Para Tereza Cruvinel , a democratização do Brasil passou pela reconstrução das instituições estudantis desmanteladas pelo governo militar e a UnB teve um importante papel nesse processo.
Mariana Costa/UnB Agência
Tereza Cruvinel
Com o objetivo de promover o registro histórico da universidade, a jornalista propôs a criação de um Blog da Memória, aberto a todas as pessoas que tenham algo a compartilhar – relatos, imagens, documentos.  “O passo seguinte seria compilar o material reunido em uma publicação impressa”, sugeriu.
No site UnB 50 Anos, é possível enviar fotos e registrar histórias. Mais informações estão disponíveis em:http://www.unb50anos.com.br/index.php/album?retrato=57

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Invasão de 1968 será estratégica para trabalhos da Comissão da Verdade


HISTÓRIA - 29/08/2012
Reprodução/UnB Agência
 
Invasão de 1968 será estratégica para trabalhos da Comissão da Verdade
Ocupação do campus Darcy Ribeiro pelos militares completa 44 anos um dia antes da segunda reunião da comissão que vai apurar violação de direitos humanos na UnB durante a ditadura militar
Grace Perpetuo e João Campos - Da Secretaria de Comunicação da UnB
http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=7003 
No fatídico dia 29 de agosto de 1968, o campus da Universidade de Brasília foi invadido por tropas do Exército, numa radical demonstração de força que marcou o endurecimento da ditadura que vigorava à época no país. A entrada brutal dos militares no campus é considerada um momento estratégico para a condução dos trabalhos da Comissão Anísio Teixeira de Memória e Verdade, que se reúne pela segunda vez nesta quinta-feira, 30 de agosto.
“A invasão de 1968 é estratégica para o nosso trabalho, porque marca uma virada na forma como a repressão se estabeleceu na Universidade de Brasília”, diz o professor José Otávio Nogueira Guimarães, coordenador de investigação da Comissão. Ele acrescenta que, “a partir de então, a repressão passa a se valer de estratégias mais elaboradas, dissimuladas, burocráticas e administrativas, mas ainda extremamente duras”.
A Comissão foi criada para apurar violações de direitos humanos e liberdades individuais que ocorreram na Universidade de Brasília entre abril de 1964 e outubro de 1988, duas datas extremas que, no Brasil, marcam o Golpe Militar e a promulgação da Constituição. Ainda estrutural, a reunião desta quinta-feira será dedicada à definição de metodologias, à construção de prioridades e à divisão de tarefas.
Assim como a invasão de 1968, outros dois momentos da repressão, e da resistência a ela, vão nortear os trabalhos da Comissão. Segundo José Otávio Guimarães, o primeiro começa com o Golpe de 1964 e se estende até o momento em que 223 professores pedem demissão da Universidade, em 1965, em um inescapável protesto contra a arbitrária demissão de nove professores, pouco antes. Leia mais aqui. “O projeto inicial da nova Universidade, então cheia de energia e idealismo, foi atingido em cheio por essas demissões, que representavam 79% do quadro da instituição”, lembra o professor. 

Coordenador de relações institucionais da Comissão da Verdade, o professor da Faculdade de Direito Cristiano Paixão reitera que a evasão em massa dos docentes representou “um atentado à alma da instituição, no qual sua essência foi violentamente suprimida”.

O segundo momento estrategicamente elencado pela comissão vai de 1965 a 1968. “Nesse período, mesmo atingida, a Universidade de Brasília ainda resistia, valendo-se do movimento estudantil que começa a se elaborar a partir de 1967”, observa José Otávio Guimarães. Neste contexto, a invasão de 1968 foi um “divisor de águas”, segundo o professor, e inaugurou um período que se encerraria apenas em 1985, ano em que Cristovam Buarque tornou-se reitor da UnB. “A Comissão da Verdade quer levar em conta a especificidades destes três momentos históricos diferentes e ouvir os testemunhos de acordo com eles”, diz Guimarães.

ENDURECIMENTO – “De fato, invasão de 1968 é um indício do endurecimento do regime, em que o espaço do diálogo fica anulado diante da força das armas”, diz o professor Cristiano Paixão. Ele acrescenta que o contexto histórico em que a invasão da UnB se deu “é um momento em que a ditadura vai se tornando ainda mais evidente, apesar de já ter começado brutal”.
Cristiano Paixão reitera que este momento do regime militar ficou marcado por um sistema repressivo cada vez mais sofisticado, em que o Estado começou a se organizar para espionar e reprimir. “A repressão que ocorreu aqui na UnB teve toda uma organização, um aparato repressivo marcado por processos administrativos, inquéritos, expulsões e espionagens”, lembra, reiterando que a Universidade “foi alvo da ditadura durante todo o regime”.

Àqueles que insistem em pensar que estes fatos são parte de uma história distante, o professor reforça: “Tudo isso marcou intensamente o que somos hoje, e a reconstrução da Universidade de Brasília ainda está em curso”.

DEPOIMENTO – A historiadora e professora da UnB Geralda Dias era estudante no campus na época e lembra do período em que a instituição foi alvo da ditadura militar. Geralda recorda que a morte do estudante secundarista Edson Luiz, baleado aos 16 anos durante um protesto no Rio de Janeiro, em 28 de março de 1968, foi um marco no movimento estudantil em todo o país. “Fizemos uma reunião na UnB para tratar do caso na mesma noite da tragédia. As passeatas e assembleias tomaram grandes proporções e o debate também cresceu no Congresso por conta da pressão da sociedade sobre o caso”, conta ela, que tem 43 anos de UnB e está organizando um livro sobre a história da Universidade. 

Em Brasília, um dos principais espaços escolhidos para os protestos comandados por estudantes como Honestino Guimarães era a Avenida W3 Sul, pelo alto movimento de pessoas e carros. Geralda ressalta que houve uma primeira invasão no campus da UnB antes da violenta entrada de agosto de 1968. “A polícia chegou ao alojamento próximo da Faculdade de Educação às 6h, recolhendo todos os estudantes que estavam dormindo ou nas redondezas. Já havia um clima tenso com a polícia”, diz. Geralda havia dormido no alojamento na noite da primeira entrada dos militares, mas acabou poupada por ser a única mulher a ser encontrada. Segundo ela, a invasão marcou a primeira em vez que os alunos foram levados pelos militares para a quadra de esportes que, hoje, fica ao lado do Prédio Multiuso I. 

Mas o auge da crise acabou sendo a invasão de agosto 1968, que representou um golpe duro para o movimento estudantil. “Foi decretada a prisão de oito estudantes, entre eles Honestino, que, a essa altura, já estava sendo escondido. No dia eu estava fora do campus e, quando tentei entrar, a Universidade estava toda cercada.”

A historiadora ressalta que a brutalidade dos militares e a falta de informação sobre os estudantes presos tiveram uma repercussão muito grande no país. Houve uma intensa pressão social: “O caso foi muito debatido no Congresso, nas famílias e entre os deputados que tinham filhos estudantes”. Depois da invasão de 1968, o movimento estudantil perdeu forças e sofreu diversos ataques externos. “A invasão é um dos casos mais emblemáticos da história da UnB”, reitera.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Invasão da Universidade de Brasília por tropas do Exército completa 44 anos

http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2012/08/29/interna_cidadesdf,319655/invasao-da-universidade-de-brasilia-por-tropas-do-exercito-completa-44-anos.shtml
A invasão da Universidade de Brasília (UnB) por tropas do Exército completa 44 anos hoje (29). A UnB foi a instituição de ensino superior que mais sofreu durante o regime militar, na opinião do historiador José Otávio Nogueira Guimarães, coordenador de investigação da Comissão de Memória e Verdade Anísio Teixeira. Recentemente instalada, a comissão vem desenvolvendo o trabalho de apurar violações de direitos humanos e liberdades individuais na universidade, ocorridas entre abril de 1964 (golpe militar) e outubro de 1988 (promulgação da Constituição).

Guimarães acredita que a repressão teve forte impacto na UnB porque a instituição tinha um projeto inovador em termos educacionais, mas ainda era incipiente. Por isso, segundo ele, mereceu a desconfiança dos militares. “Não era uma universidade que estava ali há muito tempo, como a USP [Universidade de São Paulo]. Era uma universidade nova [em funcionamento há dois anos]. Face ao projeto original e aos quadros [de docentes] que Darcy Ribeiro tinha conseguido trazer, eu não tenho dúvida: ela foi a universidade mais atingida”.

Soldados ao lado de camburão incendiado por estudantes no campus da UnB durante invasão
Soldados ao lado de camburão incendiado por estudantes no campus da UnB durante invasão
O historiador lembra que no dia 9 de abril de 1964, nove dias depois do golpe, nove professores foram demitidos, além do reitor Anísio Teixeira e do vice-reitor Almir de Castro. As demissões foram feitas com base no Ato Institucional nº 1 (AI-1), que previa “investigação sumária”, com demissão e dispensa de funcionários públicos, contra quem tivesse “tentado contra a segurança do Pais, o regime democrático [sic] e a probidade da administração pública”.

Além das dispensas após o AI-1, 223 professores pediram demissão da universidade em setembro de 1965 por causa das intervenções. “Foi aquela diáspora”, comentava Darcy Ribeiro (morto em 1997), um dos idealizadores da UnB. Segundo ele, a instituição foi concebida “para cuidar das causas do atraso do Brasil”, mas mesmo antes do golpe já incomodava.

“Brasília não podia ter duas coisas: operários fabris fazendo greve e estudantes fazendo baderna”, disse Darcy Ribeiro, em depoimento registrado no documentário Barra 68, de Wladimir Carvalho (veja fotos), que retrata a invasão. Na invasão, um estudante foi baleado, 60 pessoas foram presas e 500 chegaram a ser detidas provisoriamente, junto com parlamentares, na quadra de basquete.

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A invasão ocorreu porque os alunos haviam protestado recentemente contra a morte do estudante secundarista Edson Luis de Lima Souto, no Rio de Janeiro. Um decreto determinava a prisão de sete universitários. Com a ordem, agentes das polícias Militar e Civil, do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) e do Exército invadiram a universidade. “Ignorância militar era uma coisa absurda .A UnB incomodava por causa da maneira como foi idealizada”, pondera Cláudio Antônio de Almeida, então estudante de economia.

Almeida era amigo de Honestino Guimarães, aluno de geologia e presidente da Federação dos Estudantes Universitários de Brasília (Feub), um dos sete que tinham ordem de prisão decretada na invasão. Segundo o ex-aluno, Honestino foi levado em “cena de sequestro”. Ele lembra que estava tendo aula de política e programação econômica, com o professor Lauro Campos, morto em 2003, quando começou a ouvir gritos: “prenderam Honestino!”.

Na sequência, os alunos saíram correndo da sala de aula. “Fomos avisados de que um grupo de policiais saiu arrastando Honestino de maneira violenta, batendo nele, colocaram-no dentro de uma viatura e saíram dando tiros pela janela, até o próprio motorista”, relatou à Agência Brasil.

A invasão da UnB marcou uma mudança nas intervenções na universidade. A partir dali, o governo militar usou outras estratégias para combater o que considerava “subversão” acadêmica: entre elas, a exclusão de professores e estudantes de programa de bolsas, a produção de material contra docentes e depoimentos falsos. “O propósito era criar fatos para desmoralizar as pessoas e fazer uma limpeza na universidade”, analisa José Otávio Guimarães. Segundo ele, há documentos no Arquivo Nacional que comprovam a atuação de agentes do Serviço Nacional de Inteligência (SNI) e do Serviço de Inteligência do Ministério da Educação para investigar alunos e professores.

Com esse material, Guimarães espera que Comissão da Verdade vá além de contar a resistência “heroica” à ditadura militar. Segundo ele, pode ser que se chegue a documentos que mostrem que ocorreu delação e que foram forjadas histórias sobre as pessoas. A comissão faz nesta semana sua segunda reunião fechada para definir prioridades.

Historiadores, pioneiros e artistas concordam com mudança em nome de ponte
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2012/08/29/interna_cidadesdf,319627/historiadores-pioneiros-e-artistas-concordam-com-mudanca-em-nome-de-ponte.shtml 
Publicação: 29/08/2012 06:14 Atualização: 29/08/2012 06:25
Via com 400m de comprimento e três faixas de tráfego, inaugurada na época da ditadura, em fevereiro de 1976, é alvo de enquete no site do Correio Braziliense
Via com 400m de comprimento e três faixas de tráfego, inaugurada na época da ditadura, em fevereiro de 1976, é alvo de enquete no site do Correio Braziliense
A polêmica sobre a possibilidade de alterar o nome da Ponte Costa e Silva ganha a adesão de historiadores, pioneiros e artistas brasilienses. O grupo favorável à mudança da nomenclatura do monumento destaca a necessidade de homenagear uma personalidade relacionada à construção e ao desenvolvimento da cidade. A Associação dos Candangos Pioneiros de Brasília defende o nome do primeiro diretor do Hospital de Base e ex-presidente da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), Ernesto Silva. O pioneiro integra a lista dos personagens sugeridos pelo projeto de lei que tramita na Câmara Legislativa do DF e que pretende renovar a identidade da ponte.

ENQUETE: VOCÊ CONCORDA COM A MUDANÇA DO NOME DA PONTE COSTA E SILVA?

Ernesto Silva, médico pediatra, chegou à capital em 5 de fevereiro de 1955 e era conhecido como o Pioneiro do Antes, por conta da dedicado à criação e à preservação do plano urbanístico de Brasília. Foi ele quem assinou o edital do concurso do Plano Piloto, em 1956. Apaixonado pela cidade criada por Juscelino Kubitschek, o carioca Ernesto nunca deixou Brasília e morreu em 3 de fevereiro de 2010, aos 95 anos, em decorrência de disfunção múltipla dos órgãos. “Ele era um alucinado por Brasília. Precisamos avivar o nome dele. Ernesto Silva não pode ser esquecido”, defende a viúva, Sônia Maria Souto Silva, 74 anos.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Derecho desde la calle: introduccíón crítica al derecho a la salud

Derecho desde la calle: introduccíón crítica al derecho a la salud
Inscrições abertas para o curso de extensão derecho desde la calle: introduccíón crítica al derecho a la salud

Nayane Taniguchi
A Universidade de Brasília (UnB) e a Fiocruz Brasília, por meio do Programa de Direito Sanitário (Prodisa), firmaram nova parceria para promover um verdadeiro intercâmbio de conhecimento entre países que compõem a Rede Iberoamericana de Direito Sanitário. Até 20 de agosto estarão abertas as inscrições para a primeira edição internacional do curso de extensão derecho desde la calle: introduccíón crítica al derecho a la salud (direito achado na rua: introdução crítica ao direito à saúde), na modalidade de educação à distância. A edição conta com o apoio da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS). O curso gratuito, que tem o espanhol como língua oficial, será iniciado em 3 de setembro e tem 90 horas de duração. Ao todo, 250 vagas estão disponíveis para profissionais das áreas da saúde ou do direito. Os interessados devem ter nível superior completo, ler e escrever em espanhol e ter interesse no tema.

 O direito achado na rua é uma linha de pesquisa que procura dinamizar as discussões de estudantes, professores e pesquisadores que buscam pensar e debater o direito de forma crítica
O direito achado na rua é uma linha de pesquisa que procura dinamizar as discussões de estudantes, professores e pesquisadores que buscam pensar e debater o direito de forma crítica


A coordenadora do Prodisa e uma das organizadoras do curso, Maria Célia Delduque, explica que o curso é dividido em duas etapas: a primeira, teórica, tem como objetivo discutir a filosofia direito achado na rua, o direito sanitário nas Américas e o conceito de saúde coletiva. Nessa etapa, as turmas serão formadas por alunos de todos os países. Já na segunda fase, os alunos serão divididos por países. Os assuntos tratados serão específicos da realidade de cada país em relação ao direito sanitário. “No caso do Brasil, temos a questão da judicialização da saúde, que será abordada no curso”, exemplifica Delduque. A primeira edição internacional do curso de extensão será realizada por meio da plataforma Moodle, com o apoio de tutores, pelo Centro de Educação a Distância da UnB (Cead/UnB). A coordenadora de Produção de Material para Educação à Distância do Cead/UnB, Rossana Beraldo, conta que o curso utilizará o modelo colaborativo, com a realização de discussões sobre temas ou tópicos relacionados ao direito sanitário. Os alunos também participarão de fóruns e farão análises de casos reais. “O objetivo do curso é promover um intercâmbio de informações a partir da realidade dos sistemas de saúde dos países, além de colocar em discussão temas sobre este assunto para que os alunos possam comparar e construir um modelo para seus países”, explica.
Os textos utilizados no curso serão retirados do livro Derecho desde la calle: introduccíon crítica al derecho a la salud, sexto livro da série, elaborado com a colaboração da UnB, Fiocruz, Opas e universidades da América Latina, que será lançado em outubro deste ano, em Brasília. Serão disponibilizados aos alunos a edição completa do livro em espanhol na versão eletrônica e textos de apoio – em língua portuguesa. “A ideia é construir uma rede interligada de temas relacionados à saúde”, complementa Beraldo. “Recebemos o desafio da Opas no sentido de levar o direito achado na Rua – introdução crítica ao direito à saúde para toda a América Latina. A meta do curso é ter 45 mil alunos em toda a América Latina e Caribe”, afirma Delduque. A parceria entre a Fiocruz Brasília e a UnB já possibilitou a capacitação de 1,6 mil alunos na 1ª edição, realizado em 2009. A expectativa é que o sucesso se repita nesta edição, agora internacional.  “A proposta é levar para os demais países a ideia de um sistema público e universal, como o SUS, utilizando uma ferramenta jurídica como a filosofia do direito achado na rua”, explica.
A primeira turma será composta por alunos da Argentina, El Salvador, Costa Rica, Brasil e Espanha. Cinquenta vagas são voltadas para o público brasileiro. O curso será titulado pela UnB, com apostilamento da Fiocruz. Para fazer a inscrição, basta enviar um e-mail para carlaslessa@fiocruz.br, com os seguintes dados: nome completo, número de RG e órgão expedidor e e-mail válido.  As vagas serão preenchidas por ordem de inscrição.
Direito achado na rua
Curso de extensão universitária à distância criado em 1987 pelo Núcleo de Estudos para a Paz e os Direitos Humanos em parceria com o Cead/UnB. É atualmente, no âmbito da linha de pós-graduação da UnB, uma linha de pesquisa que procura dinamizar as discussões de estudantes, professores e pesquisadores que buscam pensar e debater o direito de forma crítica. Mais informações pode ser obtidas pelo telefone (61) 3329-4513 ou pelo email carlaslessa@fiocruz.br

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Comissão da Verdade na UnB: entre o passado e o futuro


MEMÓRIA - 21/08/2012
Cristiano Paixão e José Otávio Nogueira Guimarães
Foi instalada, no último dia 10 de agosto, a Comissão Anísio Teixeira de Memória e Verdade da UnB. Quais perspectivas de atuação se colocam para a Comissão? Que papel ela pode desempenhar na história da Universidade?
Há dimensões essenciais que merecem destaque. A primeira delas é a necessidade de um conhecimento profundo, abrangente, articulado e coerente acerca do funcionamento dos mecanismos repressivos e das formas de resistência na UnB durante o regime civil-militar. Isso é o que se pretende com o relatório conclusivo, a ser apresentado à comunidade acadêmica após 18 meses de trabalho.
A segunda dimensão envolve a complementaridade. A Comissão Anísio Teixeira desenvolverá suas atividades por meio de um diálogo com instituições do Estado e organizações da sociedade civil. Uma das vertentes dessa interlocução poderá ocorrer com a Comissão Nacional da Verdade, instalada em 18 de maio de 2012, que já ofereceu à Comissão Anísio Teixeira, por intermédio de Paulo Sérgio Pinheiro, o uso de suas competências, garantidas por lei, de poder convocar depoentes e acessar sem restrições documentos relativos às violações de direitos humanos ocorridas nos últimos 50 anos. O relatório conclusivo da Comissão da UnB será enviado à Comissão Nacional, que deliberará acerca de seu aproveitamento, total ou parcial.
Outra vertente de diálogo poderá ocorrer com a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, para que sejam envidados esforços, por exemplo, para que seja conhecida a real causa da morte – ainda não esclarecida – de Anísio Teixeira, figura de importância ao mesmo tempo local e nacional. Já existe Termo de Cooperação celebrado com a Comissão da Anistia do Ministério da Justiça, em cujos arquivos – compostos por cerca de 70 mil processos de reparação – encontram-se muitos casos relacionados à Universidade de Brasília.
Para além dessas dimensões, outro desdobramento deve ser lembrado. Uma comissão que se estabelece numa universidade traz consigo a perspectiva do aprendizado. Ela não se destina apenas a escrever um relatório voltado unicamente para o passado – o que não seria pouco. Instalada em um tempo presente rico de transformações, ela aponta para o futuro.
Ao tomar a decisão de constituir uma Comissão de Memória e Verdade, a UnB projeta sua história num horizonte intergeracional. Quando decide dar voz aos perseguidos políticos, desvelar os procedimentos do regime autoritário e investigar documentos dispersos em várias instituições e coleções, a Universidade reconhece a importância, no presente, desse conhecimento do passado. Não há atividade histórica que não mantenha alguma expectativa em relação ao futuro. Isso vale para os trabalhos da Comissão Anísio Teixeira.
Não é apenas com o teor do relatório que esperamos sensibilizar a comunidade acadêmica. Nossa intenção é também a de convidar todos os segmentos que compõem a UnB – docentes, discentes, servidores – a engajar-se nas atividades da Comissão e continuar a (re)escrever, para o futuro, a história da opressão que se abateu sobre a Universidade e os atos de resistência que aqui se manifestaram.

Cristiano Otávio Paixão Araújo Pinto é coordenador de relações institucionais da Comissão Anísio Teixeira de Memória e Verdade da Universidade de Brasília. É professor da Faculdade de Direito, da UnB, professor visitante do máster oficial em Direito Constitucional, da Universidad de Sevilha e Procurador Regional do Trabalho (MPT/MPU). 
 
José Otávio Nogueira Guimarães é coordenador de investigação da Comissão Anísio Teixeira. É professor do Departamento de História, da Universidade de Brasília, co-líder do grupo de pesquisa Direito e História: Políticas de Memória e Justiça de Transição e membro do grupo de pesquisa Archai: As Origens do Pensamento Grego, da mesma universidade.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Comissão da UnB vai investigar suspeita de assassinato de Anísio Teixeira


Publicação: 17/08/2012 12:51 
Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília – A Comissão de Memória e Verdade da Universidade de Brasília (UnB) vai investigar a suspeita que o ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB), Anísio Teixeira, foi assassinado em março de 1971, por agentes do Estado, após ser sequestrado e levado para uma unidade da Aeronáutica, quando se dirigia à casa do filólogo Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, no Flamengo, no Rio de Janeiro. Segundo a nova versão, Anísio sofreu tortura e foi encontrado com vários ossos quebrados e traumatismo na cabeça e no ombro, devido a pancadas com objeto de forma cilíndrica, possivelmente feito de madeira.
Essa versão é admitida pela família do ex-reitor e veio a público na semana passada em Brasília no momento de instalação da comissão. Durante a cerimônia, João Augusto de Lima Rocha, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e biógrafo de Anísio Teixeira, anunciou que tinha o conhecimento do assassinato conforme confidenciado a ele em relatos diferentes pelo ex-governador da Bahia Luís Viana Filho (1967-1971) e pelo professor e crítico literário Afrânio Coutinho.
“Essa suspeita perdura até hoje entre os familiares. Nunca se soube uma situação que objetivamente que negasse isso. Muito pelo contrário, ficaram sempre situações não esclarecidas. Então, não nos surpreendeu [a revelação do professor João Augusto] porque, vez por outra, já tinham sido levantadas que se processaria alguma coisa no sentido de investigar isso”, confirmou à Agência Brasil, o médico psiquiatra Carlos Antônio Teixeira, terceiro filho de Anísio Teixeira.
Segundo a versão oficial, o ex-reitor morreu após cair acidentalmente no poço do elevador de serviço do prédio onde morava Aurélio Buarque. Conforme Carlos Antônio, a família sempre desconfiou da versão, mas temia buscar investigação aprofundada. “Nós, na verdade, não víamos clima e nem maior mobilização para isso. Por isso, nos mantivemos distantes. Na época, tentamos clarear os fatos, mas as coisas tomaram o caminho de querer culpar o mordomo, aí desistimos de prosseguir”, disse, ao salientar que a família “sempre se dispôs” à qualquer iniciativa de investigação apesar de nunca ter tomado a frente. “A família tinha medo de sofrer retaliações”, complementa o professor João Augusto.
A suspeita sobre as circunstâncias da morte de Anísio Teixeira será investigada pela Comissão de Memória e Verdade da UnB, que por coincidência tem o nome do ex-reitor, em uma homenagem a ele. A informação é do historiador da UnB José Otávio Nogueira Guimarães, coordenador de investigação da comissão. “Anísio Teixeira era alguém que incomodava. Ele foi cassado [depois do golpe militar de 1964], mas não tinha posições de esquerda explícita. Tinha, porém, projetos e uma forma de pensar que certamente não agradava o regime”, avalia o historiador.
Conforme o professor João Augusto, quem primeiro confidenciou a versão de assassinato foi Luís Viana Filho, que a época (dezembro de 1988) escrevia o livro Anísio Teixeira: a Polêmica da Educação (Editora Unesp). Viana, que apoiou o golpe e era próximo do marechal Castello Branco (primeiro presidente militar), “teve informação de que Anísio não tinha morrido, estava detido em instalações da Aeronáutica no Rio.”
O segundo depoimento foi de Afrânio Coutinho (março de 1989) na casa e na presença de James Amado (irmão de Jorge Amado) e da sua esposa Luiza Ramos (filha de Graciliano Ramos). “Ele me disse que presenciou a necrópsia de Anísio Teixeira. Pelos ossos que estavam quebrados de Anísio, ele não admitia que tenha sido queda. Quase todos os ossos estavam quebrados. A versão era de que ele foi sequestrado no caminho [à casa de Aurélio Buarque] e submetido à tortura”. Conforme o relato de Afrânio, “Anísio também disse a ele que estava recebendo telefonemas com ameaças.”
Carlos Antônio Teixeira acrescenta que no momento do suposto sequestro, Anísio tinha em sua pasta um texto do Partido Comunista Brasileiro, o Partidão (que estava na clandestinidade, mas era contra a guerrilha). O texto, que desapareceu, foi dado ao ex-reitor pelo próprio filho – ele, sim, militante do PCB. “Era um documento crítico. Falava da ditadura, não falava das pessoas, mas das perspectivas próximas e imediatas”, descreveu Carlos Antônio à Agência Brasil. De acordo com ele, o pai “achou o texto lúcido e por causa da clandestinidade do Partidão não se afastava fisicamente do documento.” A pasta e outros documentos de Anísio Teixeira foram devolvidos à família.
Além de Afrânio Coutinho, a necropsia de Anísio Teixeira foi testemunhada pelos médicos e amigos do ex-reitor: Diolindo Couto (neurologista), Domingos de Paola (professor titular de anatomia patológica) e Francisco Duarte Guimarães (anatomopatologista do do Hospital dos Servidores). Todos os três médicos, assim como Afrânio Coutinho e Luís Viana Filho, já estão mortos.
A Comissão de Memória e Verdade da UnB deverá fazer a primeira reunião de trabalho na próxima semana e terá acesso ao acervo do Arquivo Nacional, entre outros, além de ser apoiada pela Comissão da Verdade do governo federal, a quem deverá encaminhar o relatório final.
Procurado pela Agência Brasil, o Ministério da Defesa informou que não irá se manifestar sobre o assunto e que o caso deve ser tratado no âmbito da Comissão da Verdade.
Edição: Carolina Pimentel

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Cinema pela Verdade prepara comunidade para investigar crimes da ditadura na UnB


MEMÓRIA - 13/08/2012
Emília Silberstein/UnB Agência
 
José Geraldo de Sousa Junior avaliou o filme Hercules 56 como instrumento do conhecimento e da memória
Grace Perpetuo - Da Secretaria de Comunicação da UnB
O festival Cinema pela Verdade exibe até quinta-feira, 16, no Memorial Darcy Ribeiro, filmes sobre a ditadura  militar no Brasil. O objetivo é estimular a reflexão sobre o período, preparando a comunidade acadêmica para as atividades da Comissão da Verdade da Universidade de Brasília, que vai investigar crimes cometidos pelos militares no campus.
“A arte, a cultura e o cinema, sobretudo, têm a capacidade de abrir a nossa imaginação, para que liberemos nossa consciência de modo que, interpretando a história, possamos fazer um salto rumo à participação em uma política que transforma”, afirmou o reitor José Geraldo de Sousa Junior, após a exibição do documentário Hércules 56 (Brasil, 2006), de Silvio Da-Rin. O filme aborda o sequestro do embaixador dos Estados Unidos, Charles Elbrick, em 1969, por integrantes da luta armada contra a ditadura.
O festival, promovido pelo Instituto Cultura em Movimento (Icem) em parceria com o Ministério da Justiça e a UnB, exibirá nesta quarta-feira, 15, o filme Barra 68 – Sem Perder a Ternura (Brasil 2001), do professor emérito Vladimir Carvalho. Na quinta, 16, é a vez do inédito Diário de uma Busca (Brasil, 2011), de Flávia Castro. As sessões serão realizadas às 18h, seguidas por um debate.
No debate desta segunda, o cineasta Silvio Da-Rin saudou o festival como “algo muito revelador da vocação histórica da UnB”, e disse que a iniciativa é fundamental para que a juventude possa acompanhar com mais consciência as atividades da Comissão da Verdade. “Esse filme faz parte de um esforço de recuperação de uma memória geracional”, afirmou. Para ele, o filme tem o mérito de abrir mão de análises ao colocar na tela – para a avaliação do espectador – os vibrantes depoimentos dos participantes e sobreviventes do episódio do sequestro do embaixador norte-americano.
Wílon Wander Lopes, estudante de Direito na UnB à época dos acontecimentos narrados pelo filme, afirmou que viveu no festival “um dos dias mais felizes na UnB”, por constatar que o debate está vivo na instituição. “É importante que todos saibam como as ações de um estado delinquente afetam a vida de uma pessoa”, disse Lopes, emocionado.
Emília Silberstein/UnB Agência
Cristiano Paixão destaca a sobreposição de gerações na universidade

MEMÓRIA E VERDADE –
 O reitor José Geraldo afirmou que o cinema é um instrumento a serviço da promoção da memória e da verdade. “Você não constrói uma virada política das relações de subordinação e de tutela dos agentes autônomos que têm protagonismo na sociedade se não há compreensão sobre os fatos que marcam este protagonismo“, disse.
Para ele, Hércules 56 integra uma vertente cinematográfica que faz um balanço da conjuntura do anos anos de chumbo, contribuindo para impedir que situações semelhantes voltem a acontecer. “É preciso conhecer a história para não repeti-la, para identificar responsabilidades, para assegurar a reparação dos que foram vítimas dessa experiência irracional e, sobretudo, para haver nisso uma pedagogia de reeducação e renovação das instituições.”
“A UnB está presente nesse filme”, afirmou o professor Cristiano Paixão, que também participou do debate, em referência ao escritor e jornalista Flávio Tavares – um dos militantes retratados no documentário –, que foi professor da UnB. Cristiano lembrou que, à época, a UnB foi uma instituição muito visada pela ditadura militar, e elogiou o documentário por este revelar uma “linhagem de resistência intergeracional e representativa”, narrando, ao mesmo tempo, a história da opressão e da mobilização que resistiu a ela. “Aqui, na UnB, as gerações se sobrepõem. Temos a geração dos fundadores, dos interventores, dos resistentes, da reconstrução, e a atual, de estudantes. É isso o que anima a constituição de uma Comissão da Verdade aqui na universidade”, disse. “A Comissão quer ouvir essas camadas geracionais.”
Emília Silberstein/UnB Agência
 Silvio Da-Rin afirmou que a UnB tem tradição histórica de democracia
O FILME – Hércules 56 é um documentário sobre a luta armada contra o regime militar, focado no sequestro do embaixador norte-americano na Semana da Independência de 1969. Na ocasião, o grupo que empreendeu o sequestro fez duas exigências em troca da libertação do diplomata: a divulgação de um manifesto revolucionário e a libertação de 15 presos políticos. Banidos do território nacional e com a nacionalidade cassada, o grupo foi conduzidos ao México no avião da FAB Hércules 56.
É dos sobreviventes destes grupos – dos que promoveram o sequestro e dos que foram libertados por meio dele – que o filme se vale para narrar o episódio. Em cena, os nove sobreviventes do grupo que foi libertado: Agonalto Pacheco, Flávio Tavares, José Dirceu, José Ibrahin, Maria Augusta Carneiro Ribeiro, Mario Zanconato, Ricardo Vilas, Ricardo Zarattini e Vladimir Palmeira. Em entrevistas individuais, eles contam como eram as condições de atuação política no final dos anos 1960, a prisão, a libertação e sua permanência no México e em Cuba.
Com imagens da época (reunidas nos Estados Unidos, em Cuba, na França e no México), o documentário também coloca em cena os rebeldes que já faleceram, muitos vitimados pela ditadura: Luís Travassos, Onofre Pinto, Rolando Frati, João Leonardo Rocha, Ivens Marchetti e Gregório Bezerra. Para falar sobre os objetivos e detalhes do sequestro, o seu contexto e a repercussão sobre o processo político nacional, o diretor Da-Rin colocou em volta de uma mesma Cláudio Torres, Daniel Aarão Reis e Franklin Martins, dirigentes da então Dissidência da Guanabara (DI-GB), que idealizou a ação e passou então a adotar a sigla MR-8; e Manoel Cyrillo e Paulo de Tarso Venceslau, os dois únicos remanescentes da Ação Libertadora Nacional (ALN), que também participou da operação.
COMISSÃO - Criada para investigar os casos de repressão que dizem respeito à UnB, a Comissão Anísio Teixeira conta com 11 integrantes, entre professores e ex-alunos vítimas do período da repressão e tem como presidente o ex-reitor Roberto Aguiar. É a primeira Comissão com esta finalidade criada por uma universidade brasileira (leia mais aqui).

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Mostra no Cine Beijoca reúne filmes que tratam do período da ditadura


Publicação: 13/08/2012 08:00 Atualização: 13/08/2012 09:25
Diário de uma busca (2011), de Flávia Castro, é um dos filmes do festival (Flávia Castro/Divulgação)
Diário de uma busca (2011), de Flávia Castro, é um dos filmes do festival


O projeto Cinema pela Verdade chega hoje a Brasília, cidade de encerramento do festival. A iniciativa, fruto do edital Marcas da Memória, lançado pela Comissão de Anistia, serve para exibir documentários que relembram a ditadura militar no Brasil e fomentar o debate sobre um tema tão recente, mas pouco discutido. A mostra percorreu 26 estados. A primeira sessão será hoje, às 14h, no Cine Beijoca, cineclube localizado no Memorial Darcy Ribeiro, da Universidade de Brasília (UnB). 

O evento começa com a exibição do filme Hércules 56 (2006), de Sílvio Da-Rin, e uma roda de debate com o presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão. Além dele, estará presente o reitor da UnB, José Geraldo, que instaurou, na última sexta-feira, a Comissão de memória e verdade Anísio Teixeira, destinada a esclarecer episódios ocorridos contra estudantes e professores durante a ditadura. Depois da UnB, a mostra vai para o UniCeub em 20, 22 e 24 de agosto. Mais informações pelo telefone 8108-1699. 

Programe-se 

Hoje, às 14h: exibição de Hércules 56 (2006) e roda de debate com Paulo Abrão, presidente da Comissão de Anistia; José Geraldo, reitor da Universidade de Brasília; e Cristiano Paixão, coordenador de relações institucionais da Comissão da Verdade UnB.

Quarta-feira, às 18h: mostra do documentário Barra 68 — Sem perder a ternura (2001), de Vladimir Carvalho, e debate com o cineasta e José Otávio, coordenador de relações institucionais da Comissão da Verdade UnB.

Quinta-feira, às 18h: apresentação do filme Diário de uma busca (2011), de Flávia Castro, que estará presente na roda de debate com Eric Sales, pesquisador de políticas públicas e memória.

Comissão da Verdade na UnB


11/07/2012 - Atualizado em 11/07/2012
Fonte:  http://www2.correiobraziliense.com.br/euestudante/noticias.php?id=30850 

Saulo Araújo


Testemunhas da repressão no câmpus entre 1964 e 1984 devem ser ouvidas pela comissão da UnB

Universidade de Brasília institui grupo com o objetivo de esclarecer episódios de violência contra a comunidade acadêmica durante a didatura militar. Desvendar o desaparecimento de alunos é o principal foco do trabalho

A Universidade de Brasília (UnB) vai remexer o seu passado. Em 15 dias, um grupo de professores e historiadores se reunirá para esmiuçar documentos engavetados que podem revelar detalhes da violenta repressão sofrida pela comunidade acadêmica durante o regime militar. Testemunhas serão convidadas a contar o que viram e ouviram entre 1964 e 1984. O projeto, batizado de Comissão da Verdade da UnB, terá duas abordagens. Uma pretende desvendar o desaparecimento de líderes estudantis no período da ditadura e investigar episódios de tortura contra servidores. A segunda visa resgatar a história de uma das maiores instituições de ensino do país.

“Alguns estudantes da UnB se tornaram símbolos de luta e a história deles pode iluminar o futuro dos jovens de hoje que não conhecem a fundo o que se passou naquele difícil período”, afirmou o professor da Faculdade de Direito Cristiano Paixão, um dos entusiastas da proposta. A conclusão do trabalho auxiliará, ainda, a Comissão da Verdade em âmbito nacional, instalada em maio último a fim de apurar violações dos direitos humanos cometidos nos anos de chumbo. “Esse grupo tem sete membros e apenas dois anos para investigar tudo entre 1946 e 1988. É pouco tempo. A UnB foi alvo direto da ditadura, era vista como uma ameaça e, por essa razão, existem questões que ainda não foram completamente entendidas”, destacou Paixão.

Uma das prioridades do colegiado da universidade é esclarecer o que houve com Honestino Guimarães, aluno do curso de geologia e um dos principais opositores do regime. Ele foi visto pela última vez em outubro de 1973, após ser descoberto, no Rio de Janeiro, por homens do Centro de Informação da Marinha. Honestino passou a viver na clandestinidade na capital carioca em 1968, depois de ser preso diversas vezes em Brasília.

Ele era acusado por arapongas do governo de “promover e orientar a ação subversiva na UnB e ser o responsável por todas as crises por que tem passado a UnB. Um agitador contumaz e pernicioso ao ambiente universitário”. O texto consta em arquivos secretos do Serviço Nacional de Informações (SNI), publicados com exclusividade pelo Correio em abril último. Ele foi declarado desaparecido político, dado oficialmente como morto em 1994, mesmo que o corpo nunca tenha aparecido. “Esclarecer o que houve com Honestino, Paulo de Tarso e Ieda Delgado será uma questão de honra para a UnB”, destacou Cristiano Paixão.

Primeiras tarefas
No fim da tarde de ontem, Cristiano Paixão e o reitor da UnB, José Geraldo de Sousa Júnior, se encontraram para discutir o assunto. Nos próximos dias, devem ser definidos os integrantes da comissão. O Diretório Central dos Estudantes (DCE) será convidado a participar do processo. Também em breve serão distribuídas as primeiras tarefas do grupo. “A comunidade acadêmica está se mobilizando bastante em torno desse tema, pois todos entendem que se trata de uma questão de restaurar a dignidade violada e, sobretudo, de não permitir que fatos como esse se percam na obscuridade do passado”, frisou José Geraldo.

O reitor destacou ainda que a Comissão da Verdade da UnB pretende consultar reportagens publicadas pelo Correio Braziliense nos últimos anos sobre a repressão da ditadura nas universidades federais. “O jornal, ao longo das últimas décadas, prestou um grande serviço à memória e à história do Brasil. Muitos textos revelaram fatos da ditadura na universidade que nem eu conhecia. Certamente, eles nos ajudarão a consolidar o trabalho da comissão”, ressaltou.

O senador Cristovam Buarque (PDT), primeiro reitor eleito pela comunidade universitária, em 1984, considerou fundamental o passo dado pela atual administração na tentativa de trazer à tona fatos do passado. “É totalmente relevante o que o atual reitor está fazendo, pois, na universidade, formamos historiadores. Não podemos admitir que passagens tão importantes da UnB permaneçam no campo do desconhecimento. Eu lamento não ter feito isso na minha gestão, mas estávamos no começo da democracia, tendo em vista que não era fácil aprovar um projeto tão ousado à época”, destacou.

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Reportagens do Correio subsidiarão o trabalho da equipe

Rotina de invasões e resistência

9 de abril de 1964
Acontece a primeira invasão na UnB, nove dias após o golpe militar. O então reitor, Anísio Teixeira, e o vice, Almir de Castro, foram surpreendidos por tropas do Exército e por policiais de Minas Gerais. Os militares chegaram em 14 ônibus, com três ambulâncias já preparadas para possíveis confrontos. Buscavam também 12 professores que deveriam ser presos e interrogados.

8 de setembro de 1965
A segunda ocupação foi motivada por uma greve de professores que durou 24 horas. A paralisação foi uma resposta à demissão dos docentes Ernani Maria de Fiori, Edna Soter de Oliveira e Roberto Décio de Las Casas, afastados por determinação do regime.

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4 de março de 1968
O episódio mais violento. Os alunos protestavam contra a morte do estudante Edson Luis de Lima Souto, assassinado por policiais no Rio de Janeiro. Esse foi o estopim para o decreto da prisão de 60 universitários, entre eles, Honestino Guimarães. Ao todo, 60 deles acabaram presos e o estudante Waldemar Alves foi baleado na cabeça. Ele ficou meses no hospital, mas se recuperou.

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6 de junho de 1977
Na última invasão, militares prenderam estudantes e intimaram professores e funcionários. A motivação foi a greve que alunos e docentes declararam para dar um fim às agressões que sofriam.

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5 de fevereiro de 1984
A democracia e a estabilidade da UnB são retomadas com a eleição de Cristovam Buarque, o primeiro reitor eleito pela comunidade acadêmica. Ele tomou posse em maio. 

domingo, 12 de agosto de 2012

UnB instala Comissão da Verdade com depoimento inédito


MEMÓRIA E VERDADE - 10/08/2012
Fonte:  http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=6934
Professor baiano surpreendeu os presentes na cerimônia ao narrar depoimentos que reforçam a suspeita de que Anísio Teixeira, fundador da Universidade, foi assassinado pelo regime militar
Débora Cronemberger - Da Secretaria de Comunicação da UnB
Um pedaço sombrio da história do Brasil começou a ser esclarecido no final da manhã desta sexta-feira, 10 de agosto. Quatro décadas após ser encontrado sem vida no fosso de um elevador, no Rio de Janeiro, um depoimento inédito pode mudar a versão oficial da morte de Anísio Teixeira, fundador da Universidade de Brasília e um dos nomes mais importantes da educação brasileira.
O relato, feito inesperadamente durante a instalação da Comissão da Verdade da instituição dirigida por Anísio Teixeira de junho de 1963 a abril de 1964, reforçou a importância da criação desta instância de investigação pelo reitor José Geraldo de Sousa Junior. Batizada com o nome do educador, a Comissão da Verdade nasce cumprindo seu propósito principal: resgatar a verdade de fatos ocorridos durante o regime militar, entre eles os desaparecimentos dos alunos do campus Darcy Ribeiro Honestino Guimarães, Ieda Santos Delgado e Paulo de Tarso Celestino.
Ao pedir a palavra, durante a cerimônia, João Augusto de Lima Rocha, professor da Universidade Federal da Bahia, surpreendeu os cerca de 150 docentes, alunos e autoridades presentes. Na tribuna do auditório da Reitoria, o professor revelou o conteúdo de três depoimentos colhidos por ele nos anos seguintes ao sepultamento do pioneiro da Educação Nova.
As narrativas reforçam a suspeita de que Anísio Teixeira foi assassinado pelo regime militar, ao contrário do que relatam os documentos da época. O professor João Augusto afirma ter ouvido de Luiz Viana Filho, governador da Bahia quando Anísio Teixeira foi encontrado morto, que o educador foi preso no dia 11 de março de 1971 e levado para o quartel da Aeronáutica.
A data é a mesma em que o educador desapareceu, após sair em direção à casa do filólogo Aurélio Buarque de Holanda, localizada no edifício Duque de Caxias, na Praia do botafogo, número 48. O corpo foi encontrado no fosso do elevador dois dias depois, em 13 de março. “Em dezembro de 1988, Luiz Viana Filho me confessou que Anísio foi preso no dia que desapareceu e levado para o quartel da Aeronáutica, em uma operação que teve como mentor o brigadeiro João Paulo Burnier, figura conhecida do regime militar e que tinha o plano de matar todos os intelectuais mais importantes do Brasil na época”, disse João Augusto, no auditório da Reitoria.
De acordo com os relatos de policiais da 10ª Delegacia de Polícia, responsáveis pela investigação do caso à época, Anísio Teixeira estava “de cócoras, com a cabeça junto aos joelhos, sob um platô de cimento armado, meio metro acima do fundo do poço”. Havia ferimentos na base da cabeça e no rosto e respingos de sangue na parte interna da casa de força. Pasta de documentos e óculos estavam intactos ao lado do corpo. Os depoimentos dos agentes estão detalhados na edição de 15 de março do jornal Última Hora. Leia aqui.
Paulo Castro/UnB Agência
 Instalação da Comissão marca final do mandato do reitor José Geraldo
Além do testemunho de Luiz Viana Filho, João Augusto ouviu dois legistas que viram o corpo de Anísio Teixeira durante a necrópsia. “Os médicos Afrânio Coutinho e Clementino Fraga Filho tiveram acesso ao corpo de Anísio devido a um engano do Exército. No dia que o corpo de Anísio foi encontrado no fosso do elevador, um militar havia se suicidado no mesmo bairro. Quando o rabecão passou para pegar o corpo do oficial, pessoas do prédio onde Anísio foi localizado pediram que levassem o corpo”, contou. “Se soubessem quem era, talvez a necropsia não tivesse ocorrido”.

De acordo com o professor, Afrânio e Clementino afirmaram que os graves ferimentos de Anísio Teixeira jamais poderiam ter resultado de uma queda no fosso do elevador. “Ele teve todos os ossos quebrados, o que seria impossível acontecer com a queda no fosso”, contou o professor à plateia, que, perplexa, ouvia atentamente e em silêncio. Leia aqui reportagem da revista DARCY sobre a trajetória de Anísio Teixeira.
Nenhum dos depoimentos foi gravado. Luiz Viana Filho e Afrânio Coutinho morreram, o primeiro em 1990 e o segundo dez anos depois. Clementino Fraga Filho é o único ainda vivo. “Eles não aceitaram fazer o registro”, disse o professor. “Era uma outra época. As pessoas tinham medo de falar. A própria família de Anísio tinha receio, mas os filhos querem agora reaver essa história”, comentou João Augusto. Segundo ele, Clementino está com 94 anos. “Vou tentar convencê-lo a falar publicamente sobre o que me disse”, completou.

João Augusto, que participou da cerimônia porque estava em Brasília para uma reunião da Federação de Sindicatos de Professores de Instituições Federais de Ensino Superior (Proifes) e viu o anúncio da instalação da Comissão da Verdade, revelou ainda que Afrânio Coutinho confidenciou ter escrito um texto contando a história da necropsia. O material, segundo o professor, teria sido deixado na sede da Academia Brasileira de Letras com a recomendação de que fosse tornado público apenas em 2021. “Passei 20 anos em busca de provas destas histórias. Ao saber da criação da Comissão, percebi que era hora de contar”, disse.Leia aqui entrevista com o professor em que narra em detalhes o que ouviu.
Paulo Castro/UnB Agência
 Depoimento do professor João Augusto sobre morte de Anísio Teixeira surpreendeu coordenadora do Comitê da Verdade do Distrito Federal
NOVO SIGNIFICADO – O relato do professor da Universidade Federal da Bahia surpreendeu participantes da cerimônia e conferiu significado ainda mais amplo à Comissão da Verdade da UnB. “Não conhecia esses depoimentos sobre a morte de Anísio. É um caso para se investigar. Inclusive podemos trabalhar em conjunto com a Comissão da Verdade da UnB”, disse Gilnei Viana, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. “Esse pode ser o nosso fio da meada. Além da importância inquestionável para a UnB, Anísio Teixeira é um dos principais nomes da história da educação brasileira”, comentou o coordenador de investigação da Comissão da Verdade Anísio Teixeira, o professor do Instituto de Ciências Humanas José Otávio Nogueira Guimarães. 

Iara Xavier Pereira, da coordenação do Comitê da Verdade do Distrito Federal, afirmou que sempre houve dúvidas quanto à morte de Anísio Teixeira. “Sempre houve suspeita, mas nunca surgiu nada concreto. Esses depoimentos, citados pelo professor, são novidade”, disse.

Criada para investigar os casos de repressão que envolvem a UnB, a Comissão Anísio Teixeira conta com 11 integrantes, entre professores e ex-alunos vítimas do período da repressão e tem como presidente o ex-reitor Roberto Aguiar. É a primeira Comissão com esta finalidade criada por uma universidade brasileira. Leia aqui depoimentos de vítimas da ditadura militar narrados durante a instalação da Comissão.
TRABALHO CONJUNTO – José Geraldo abriu a cerimônia com mensagem enviada por Paulo Sérgio Pinheiro, membro da Comissão Nacional da Verdade, instalada pela presidenta Dilma Rousseff em maio deste ano para elucidar os crimes do período da repressão em âmbito nacional. “Afirmo meu desejo de ajudar a estreitar todos os vínculos de cooperação com a Comissão Nacional da Verdade, que tem o poder de convocar qualquer cidadão, assim como tem acesso a todos os documentos existentes em nosso país em qualquer nível de acesso que estejam. Creia que nossa competência está à plena disposição da Comissão da Memória e Verdade Anísio Teixeira para a realização plena de seus objetivos”, disse na carta. Para José Otávio Guimarães, essa possibilidade de convocar pessoas para depor será fundamental para os trabalhos.

O reitor José Geraldo ressaltou que a Comissão Anísio Teixeira surge com a proposta de complementaridade com os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade. “Não há redemocratização plena se não resgatarmos a memória desta experiência. Ocultamentos nos levam a incidir sobre novos desvios”, disse. Outra característica apontada por ele é o aproveitamento de experiências e trabalhos realizados sobre o tema. José Geraldo citou como exemplo a reedição do livro Universidade Interrompida, de Roberto Salmeron, dentro das comemorações do jubileu da UnB.

Paulo Castro/UnB Agência
 
Mateus Guimarães, sobrinho do líder estudantil Honestino Guimarães, que estudou Geologia na UnB e desapareceu em 1973, acrescentou outro aspecto que ele considera fundamental para orientar os trabalhos da Comissão da Verdade. “O resultado final mais importante será resgatar o projeto universitário idealizado pelos fundadores da UnB, tão necessário e fundamental para um país como o nosso”, disse Mateus. “Um projeto baseado no princípio da emancipação de pessoas”, acrescentou José Geraldo.

Cristiano Paixão, coordenador de relações institucionais da Comissão da UnB, destacou o interesse que o resgate da memória e da verdade desperta entre várias gerações. “É impressionante a atenção que estudantes nascidos após a Constituição de 1988 dão a esse tema. A maior contribuição que podemos dar se insere na dimensão do aprendizado”, afirmou. Paulo Abrão, secretário nacional de Justiça, elogiou a iniciativa pioneira da UnB. “A Comissão de Anistia do Ministério da Justiça deve muito à Universidade de Brasília. Boa parte dos membros da Comissão se formaram aqui ou são professores daqui”, destacou em seu pronunciamento.
Edu Lauton/UnB Agência
 Estudantes lotam auditório com máscaras com a imagem do rosto de Honestino Guimarães, alunos desaparecido durante o regime militar

E SE HONESTINO ESTIVESSE AQUI –
 A cerimônia foi marcada também por manifestação de estudantes. Usando máscaras com a imagem do rosto de Honestino Guimarães, em uma manistação que chamaram “Movimento Honestinas”, os alunos distribuíram panfletos para divulgar a idéia da chapa Honestino Guimarães de “não candidato” à reitoria da UnB. Atualmente, está em curso no campus consulta organizada pelos três segmentos da Universidade para escolha do próximo reitor. A lista será levada ao Conselho Universitário, a quem cabe elaborar lista tríplice de indicados destinada à Presidência da República. Quatro dos candidatos estiveram presentes à cerimônia: João Batista de Sousa, Márcia Abrahão, Paulo César Marques e Volnei Garrafa. 

Na entrada do auditório, os estudantes afixaram cartazes com a pergunta: “O que faria Honestino Guimarães se fosse reitor da UnB?” “Essa pergunta me deixou abalado”, disse Paulo Abrão no final da cerimônia. “Eu acho que se Honestino fosse reitor da UnB. Ele faria o mesmo que José Geraldo: criaria a Comissão da Verdade da UnB”.

A primeira reunião da Comissão será marcada na próxima semana. A partir da próxima segunda, a UnB promove festival de cinema para divulgar a Comissão Anísio Teixeira. Saiba mais aqui.

 Integrantes da Comissão Memória e Verdade Anísio Teixeira
1. Roberto Armando Ramos de Aguiar (presidente)
2. José Otávio Nogueira Guimarães (coordenador de investigação)
3. Cristiano Otávio Paixão Araújo Pinto (coordenador de relações institucionais)
4. Simone Rodrigues Pinto (coordenadora de redação e sistematização)
5. Daniel Barbosa Andrade de Faria
6. Eneá de Stutz e Almeida
7. Fernando Oliveira Paulino
8. Beatriz Vargas Ramos Gonçalves de Rezende
9. Cláudio Antônio de Almeida
10. Luiz Humberto Pereira Martins
11. Nielsen de Paula Pires

A dor de quem enfrentou o regime militar
Ex-alunos da UnB e integrantes da Comissão da Verdade contam experiências dolorosas durante a ditadura
Débora Cronemberger - Da Secretaria de Comunicação da UnB
A cerimônia de instalação da Comissão da Verdade da Universidade de Brasília foi permeada por depoimentos emocionados de pessoas que vivenciaram a repressão durante o período militar. Integrantes da Comissão criada pelo reitor José Geraldo de Sousa Junior e participantes da cerimônia de abertura compartilharam histórias tristes de uma época sombria, em que a defesa da democracia se tornou atividade arriscada, passível de prisão, tortura e assassinato.
Cláudio Almeida, ex-aluno do Departamento de Economia da UnB e integrante da Comissão Anísio Teixeira, diz que resgatar histórias da época é muito difícil, pois traz à tona muita dor, mas considera os relatos fundamentais para denunciar os abusos e evitar que situações parecidas voltem a acontecer.
Amigo de Honestino Guimarães desde o 1º ano científico no colégio Elefante Branco, em 1961, Cláudio relembra com detalhes a violenta invasão policial que a UnB sofreu no dia 29 de agosto de 1968. “No dia anterior, vários pais de estudantes, que eram do Exército ou ligados ao regime, sabiam que algo grave iria acontecer e pediram a seus filhos que não fossem à Universidade. Muita gente não levou o boato a sério, eu inclusive”, conta Cláudio, cujo pai era o deputado Manoel de Holanda, da Arena, partido ligado ao regime militar.
Cláudio afirma que chegou à Universidade de manhã cedo, quando encontrou Honestino. Em seguida, foi para uma aula de economia do professor Lauro Campos. “Às 8h30, começamos a ouvir gritos: prenderam o Honestino”, relata. Revoltados, estudantes viraram uma viatura da polícia e botaram fogo no veículo. “Eu disse para não fazerem aquilo, pois seria a deixa para algo muito mais sério”, acrescenta. Ele tinha razão: por todas as vias de acesso da Universidade começaram a surgir policiais civis, militares, oficiais do Exército e do Corpo de Bombeiros. “Chegaram atirando, quebrando laboratórios, batendo nos estudantes, que reagiram jogando pedras. Virou uma guerra”, afirma.
Após muito tumulto, a situação foi controlada pelos policiais, que levaram os estudantes em fila indiana para uma quadra de basquete, onde começaram a fazer uma triagem para identificar possíveis líderes e militantes políticos. “Fui levado para o DOPS e depois ao Exército, onde fui espancado pela polícia”, diz Cláudio, que estava no penúltimo ano da faculdade e tinha 22 anos. “Colocaram o Honestino na minha frente. Queriam que ele me denunciasse, que dissesse que eu era militante ou ligado a sindicatos, mas ele não falou nada. Ele mal conseguia ficar de pé, de tanto que foi torturado”, afirma. Cláudio participava do grupo de esquerda Ação Popular e estava engajado na resistência ao regime.
Cláudio conta que não ficou muito tempo preso, pois amigos do pai dele se mobilizaram por sua liberação. “Quando reencontrei o Honestino, ele me disse que não dava mais, que ele tinha de ir para a clandestinidade. Eu não tinha estrutura para seguir esse caminho. Não nos vimos mais”, afirma. Cláudio espera que os trabalhos da Comissão da Verdade ajudem a denunciar os casos de violência e a diminuir o sofrimento de todos os que contestaram o regime.
MARX - Durante a cerimônia, o reitor José Geraldo contou a experiência do professor de Ciência Política Nielsen de Paula Pires, fundador e diretor do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares. “Ele saiu do Brasil devido à repressão e foi para o Chile, de onde foi expulso por um decreto assinado por um general com sobrenome Marx”, disse o reitor.
Paulo Castro/UnB Agência
 Nielsen de Paula deixou o Brasil por causa das perserguições do regime

Nielsen, que também integra a Comissão da UnB, atuava na Juventude Universitária Católica, em São Paulo, e era presidente de centro acadêmico em 1968, ano em que foi decretado o funesto AI-5, que definiu o momento mais duro do regime militar e suprimiu, por 10 anos, direitos políticos e civis no país. “Muitos participantes da Junta Universitária militavam no movimento Ação Popular [organização clandestina de esquerda entre 1962 e 1973] e meus amigos começaram a ser presos. Saí do Brasil e fui para o Chile, onde fui para o Estádio Nacional para ser tratado como prisioneiro de guerra após o golpe do general Augusto Pinochet, que contou com o apoio de militares brasileiros”, conta.

Depois de 15 anos no exílio, período em que morou na Bélgica, Estados Unidos e México, após ser expulso do Chile, Nielsen veio para Brasília para ser lecionar na UnB. “Meu primeiro dia de aula foi o primeiro dia da gestão de Cristóvam Buarque”, diz. Cristovam assumiu a reitoria da UnB em 1985, ano do início da redemocratização do Brasil.

Para Nielsen, o mais importante do trabalho da Comissão da Verdade da UnB será “a recuperação da história e a projeção dessa história para o futuro”. “A nossa geração colhe frutos da luta da nossa geração por mais democracia, mais justiça social. Vejo a comissão como um meio de resgatar os heróis que tivemos”, concluiu.
Paulo Castro/UnB Agência
Ex-aluno da UnB, Cláudio Almeida foi preso junto com Honestino Guimarães
OVOS E TOMATES - O período da ditadura concentra inúmeros relatos de abuso e violência, mas alunos daquela época também relembraram, durante a instalação da Comissão, histórias que arrancaram risadas dos presentes. O procurador federal dos Direitos do Cidadão, Aurélio Virgílio Veiga Rios, relembrou a desastrosa visita que o poderoso Secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger fez à UnB em 1981. Aurélio era estudante do Departamento de Direito no reitorado de José Carlos Azevedo.

Em meio a um turbulento contexto nacional e internacional – ditadura militar no Brasil e guerra do Vietnã –, Kissinger veio proferir palestra no Auditório Dois Candangos. “Houve um cerco dos estudantes no local. Os pneus dos carros das autoridades foram furados e subitamente acabaram os estoques, nas redondezas, de ovos e tomates, que foram jogados nas autoridades que saíam do auditório”, contou, rindo, Aurélio. “Kissinger teve de ir embora de camburão para não ser atingido”.
Festival de cinema divulga Comissão da Verdade da UnB
A partir de segunda-feira, 13 de agosto, o Memorial Darcy Ribeiro terá exibição de filmes relacionados aos impactos causados pela ditadura. Háverá debates após cada sessão
Débora Cronemberger - Da Secretaria de Comunicação da UnB
Na segunda-feira, 13 de agosto, começa o festival “Cinema pela Verdade”, com o objetivo de exibir filmes e realizar debates sobre o período da ditadura militar e suas conseqüências históricas para o Brasil.
O festival, que será realizado no Memorial Darcy Ribeiro, busca divulgar a Comissão Anísio Teixeira, instalada nessa sexta-feira, 10 de agosto para investigar a repressão política enfrentada por professores e alunos da Universidade de Brasília durante o regime militar. A ideia é também envolver a comunidade acadêmica com o tema.
As sessões são gratuitas. Após cada exibição haverá um debate. A organização é do Instituto Cultura em Movimento (Icem), em parceria com o Ministério da Justiça, via Comissão de Anistia, e com apoio da Reitoria da UnB e do Cineclube Beijoca.

Veja a programação
1ª Sessão – 13/08, segunda, às 14h
“Hércules 56”
, de Silvio Da-Rin (Brasil, 2006)
Debatedores:
Paulo Abrão (Presidente da Comissão de Anistia)
José Geraldo Souza (Reitor UnB)
Cristiano Paixão (Professor e Coordenador de Relações Institucionais da Comissão da Verdade - UnB)
2ª Sessão Extra – 15/08, quarta-feira, às 18h
“Barra 68 – Sem perder a ternura”
, de Vladimir Carvalho (Brasil, 2001)
Debatedores:
Vladimir Carvalho (Diretor)
José Otávio Nogueira (Professor e
 Coordenador de Investigações da Comissão da Verdade - UnB)
3ª Sessão (Filme Inédito) – 16/08, quinta, às 18h
“Diário de uma Busca”
, de Flávia Castro (Brasil, 2011)
Debatedores:
Flávia de Castro (Diretora)
Eric de Sales (Pesquisador de Políticas Públicas e Memória)
Local: Memorial Darcy Ribeiro (Beijódromo, ao lado da Reitoria da UnB)